- Anúncio -
Início Tags Brownout

Brownout

Voando pelas nuvens: controlando ofuscamento e obscurecimento parcial

Quando estou pousando helicópteros em condições visuais obscurecidas, utilizo duas técnicas que têm funcionado bem para mim ao longo dos anos.  Independente do distúrbio no ar provocado pelo rotor levantar a terra solta e causar um obscurecimento parcial ou levantar a neve e causar um ofuscamento, as técnicas utilizadas para mitigar a visão obscurecida são parecidas.

Embora seja melhor evitar estas condições alocando um pessoal em solo para recolher a neve, umidificar a área empoeirada ou até encontrar uma outra área de pouso, há maneiras de administrar o risco.

A menos que você tenha um helicóptero com rodas e uma superfície para um pouso seguro, provavelmente precisará de pousar com velocidade zero em relação ao solo. Isto pode ser feito com segurança utilizando uma dessas técnicas, sem correr o risco de perder as referências visuais e basicamente entrar em Condições Meteorológicas por Instrumentos (IMC) em um voo pairado.

A Aproximação Rasante

A aproximação rasante é o meu método preferido em terrenos mais planos e grandes áreas sem obstruções. Antes de discutir a aproximação por si só, o “ponto de contato do distúrbio no ar provocado pelo rotor” deve ser entendido. Este é o ponto onde o distúrbio no ar se encontra com o solo e a visão torna-se obscurecida. A sua posição, relativa à aeronave, é uma função da velocidade da aeronave em relação à massa de ar, da inclinação do disco do rotor e dos ventos de superfície.

Todas essas variáveis influenciam onde no solo o obscurecimento se formará e onde se acumulará depois de ser formado. Por exemplo, a redução da velocidade em relação ao ar ou a mudança do controle cíclico em direção à cauda mudarão o ponto de contato do distúrbio no ar para mais perto e para uma posição mais abaixo da aeronave. O piloto pode controlar a posição da nuvem causadora do obscurecimento administrando a velocidade em relação ao ar e a posição do disco do rotor em relação à proa/cauda.

À medida que a aproximação é feita, permita à aeronave diminuir a velocidade gradualmente à medida que você se aproxima da área de pouso. Ao olhar para o lado, você verá a nuvem causadora do obscurecimento acompanhando por trás à medida que você diminui a velocidade.

Deixe o arrasto natural da aeronave causar a diminuição da velocidade e não, a mudança do controle cíclico em direção à cauda. Qualquer uso do controle cíclico em direção à cauda moverá rapidamente para a frente o ponto de contato do distúrbio no ar provocado pelo rotor e, assim, a nuvem causadora do obscurecimento.

Com a prática, é possível realizar uma aproximação rasante ao seu exato local de pouso sem controle cíclico em direção à cauda, resultando em um pouso com o obscurecimento alcançando exatamente a área do mastro. Uma advertência, porém: é preciso estar certo da sua área de pouso; este não é o momento para um pouso em declive ou para dúvidas quanto à adequação da área para o pouso. O procedimento é pousar assim que a velocidade da aeronave em relação ao solo alcançar zero, sem jamais ter a inclinação do disco do rotor à cauda da horizontal.

O vento pode ser benéfico ou prejudicial, portanto certifique-se de fazer a aproximação no vento, mesmo que esteja somente a alguns nós. O vento contrário ajudará a manter o obscurecimento à cauda tanto quanto possível e ajudará a reduzir a velocidade do helicóptero em relação ao solo a zero sem controle cíclico em direção à cauda. Se o vento for forte você pode até conseguir pairar, mantendo a nuvem à cauda.

Se houver necessidade de reduzir a velocidade um pouco mais rápido durante a aproximação, use um pedal pequeno para sair das condições do ângulo de voo e aumentar o arrasto. Se eu estiver em um voo solo usarei o mesmo pedal do lado no qual me sento para ter uma visão melhor da nuvem causadora do obscurecimento atrás. Se houver outra pessoa a bordo, usarei o pedal oposto para que eu possa ver melhor a área de pouso, enquanto a outra pessoa observa a nuvem.

Para fins de treinamento, já voei sobre um campo nevoso a 50 pés e pratiquei a passagem da nuvem nevosa causadora do obscurecimento da proa à cauda, utilizando o controle cíclico, mas sempre mantendo-a atrás. Com a prática, você consegue posicioná-la e mantê-la exatamente onde quer à medida que faz a sua aproximação. Pense nisto como se estivesse voando dois objetos, o helicóptero e a nuvem.

A Aproximação Íngreme

Esta é uma boa técnica quando a área não permite uma aproximação rasante, quando há incertezas sobre a área de pouso propriamente dita ou quando há um fundamento sólido de terra ou neve bem embaixo do material solto.  Esta técnica realmente necessita de um desempenho maior por parte da aeronave do que a técnica de aproximação rasante e um período de tempo prolongado pairando fora do efeito de solo. Realisticamente falando, utilizo essa técnica cerca de 80 porcento das vezes e a técnica de aproximação rasante aproximadamente 20 porcento.

Faça uma aproximação lenta e íngreme à sua área de pouso, mantendo a velocidade de descida a menos de 300 pés por minuto; assentando considerando a potência. Conclua com um voo pairado, tipicamente entre 20 e 100 pés, no primeiro sinal de uma condição visual obscurecida formando na superfície.

A altura que isto acontece é um bom indicador do potencial do obscurecimento. (Eu tinha uma regra geral quando voava um EMS à noite: qualquer coisa acima de 75 pés era inaceitável e optaria por outro LZ.) Mantenha o voo pairado à medida que o obscurecimento se dissipe. Se houver um fundamento sólido abaixo da terra solta ou neve, a situação vai melhorar. Ajuste a sua altitude à medida que houver necessidade para permanecer em cima e livre da condição visual obscurecida. Em condições sem vento, pode ser necessário alguns minutos para o obscurecimento se dissipar.

Se o obscurecimento se dissipar e você acreditar que pode pousar com segurança, tente achar um objeto bem perto do seu local de pouso para usá-lo como referência visual, preferencialmente apenas a alguns pés em frente de você ao lado direito. Pode ser uma rocha, um arbusto, um galho; qualquer coisa que não possa ser levada pelo vento. Se o distúrbio no ar provocado pelo rotor inesperadamente levantar mais terra ou neve durante o pouso, esta pode ser a sua única referência para controlar o helicóptero.

Se alguma vez você se encontrar em condições de voo por instrumentos durante um voo pairado devido a uma desorientação em função de terra ou neve em suspensão, você tem basicamente duas opções não muito boas. Se ainda estiver bem acima do solo, puxe a potência ao máximo e torça para voar fora da condição visual obscurecida sem perder o controle ou se estiver próximo ao solo, abaixe o controle coletivo e torça para pousar sem rolar o helicóptero. Esteja seguro e lembre-se: é melhor usar o seu excelente discernimento, evitando a necessidade de usar as suas excelentes habilidades.

Simulador de voo: Viabilizando o fundamental

ALEX MENA BARRETO

Alta tecnologia auxilia a equacionar os elevados custos de formação e manutenção do preparo de tripulações de helicópteros

Com o desenvolvimento e a confiabilidade da engenharia aeronáutica, notadamente nas últimas décadas, bem como a crescente complexidade dos sistemas, a questão dos fatores contribuintes em acidentes aeronáuticos voltou-se novamente para o ser humano, principalmente no quesito julgamento.

Analisando os dados do relatório produzido pela US JHSAT (Joint Helicopter Safety Analysis Team), onde, após a análise de 523 acidentes envolvendo essas aeronaves, pode-se observar que 84% dessas ocorrências envolve a questão de deficiente julgamento por parte da tripulação. No Brasil, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), mais de 50% dos acidentes na aviação civil tem como fator contribuinte o julgamento equivocado da tripulação. (FCA 58-1 Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira-2012).

Naturalmente, uma das principais ações recomendadas para mitigar esse risco envolve a revisão e o aperfeiçoamento do treinamento das tripulações. Contudo, um novo problema surge quando se analisa a situação sob a ótica do crescente custo e sofisticação das aeronaves, bem como o risco envolvido na instrução e treinamento prático. Apenas para se ter uma ideia, o mesmo relatório da US JHSAT aponta para a atividade de instrução e treinamento como a responsável por 22,8% dos acidentes.

Dados apresentados pela ALEA (Airborne Law Enforcement Association), durante recente seminário em San Diego, Califórnia, envolvendo a aviação policial norte-americana no período de 2008 à 2012, dão conta que dos 45 acidentes ocorridos no período, 14 foram em atividades de treinamento. Apesar de tais acidentes não envolverem vítimas fatais, este cenário torna o retorno sobre o investimento em treinamento nos moldes atuais completamente inviável. Com esse panorama, surgiu o impasse entre a necessidade de mais treinamento, frente ao custo e ao alto risco associado ao mesmo.

Demonstração do cenário de treinamento de “tiro embarcado”, com a utilização de um simulacro de AR-15 equipado com um sistema laser. Foto: American Eurocopter

Ciente disso, o mercado vislumbrou uma oportunidade para desenvolver novas soluções que atendessem essa necessidade dos operadores de helicópteros, em especial aos que utilizam-no em situações extremas.

Apesar de já serem há muito empregados para preparar pilotos em procedimentos de emergência, o uso de simuladores focados no treinamento de pilotos e tripulantes em complexos cenários multimissão ainda é uma novidade para operadores no Brasil.

Em recente visita aos Estados Unidos, tive a oportunidade de conhecer o simulador multimissão da subsidiária norte-americana de um dos grandes players mundiais da aviação de asas rotativas, a American Eurocopter, cujo Centro de Treinamento fica na cidade de Grand Praire, no Texas. Lá, a recepção ficou por conta da muito simpática e atenciosa senhora Tamara Tiger, sua diretora, e que, preliminarmente, passou as orientações acerca da visita às instalações da fábrica, ao próprio centro, sala de “debriefing” do simulador e, por último, do equipamento em si.

O Centro de Treinamento oferece uma enorme gama de cursos, aqui chamado de “top-down”, que inclui treinamento inicial teórico e prático para pilotos e mecânicos, além de treinamento de proficiência técnica anual, e outros tipos de cursos voltados na melhoria da segurança operacional como, por exemplo, Recuperação de Voo em Condições de Instrumento Inadvertidas (IIMC Recovery) e Treinamento NVG com Emergências Noturnas em Ambiente Urbano. A existência dessa nova e diferenciada gama de cursos só é possível com a utilização maciça de recursos tecnológicos, no caso, os simuladores de voo.

O Centro de Treinamento conta com dois simuladores; um, para a linha EC135/EC145; e, o outro, para a linha AS350. O primeiro é utilizado unicamente para o treinamento de pilotos e o segundo tem o diferencial de ser equipado com a cabine completa do AS350, podendo efetuar treinamento da tripulação completa, incluindo piloto, copiloto/TFO e tripulantes.

O simulador do AS350 tem aproximadamente dois anos e, atualmente, é o que de mais avançado existe. Toda a equipagem, tanto hardware quanto software, foi fornecida pela INDRA. A American Eurocopter vem aperfeiçoando o software para incluir novos conceitos de simulação e cenários de acordo com a necessidade do mercado aeromédico, policial, etc. É certificado pela Federal Aviation Agency (FAA) como “Full Flight Simulator Nível B”, podendo ser utilizado e reconhecido para programas de treinamento requeridos pelas FAR CFR Part 141 e 142.

O equipamento de hardware do simulador é “full motion”, com a novidade de ter os braços de sustentação operados eletricamente, o que proporciona baixos níveis de manutenção e índice de falhas, comparado ao tradicional sistema hidráulico.

O simulador conta com um campo de visão de 240º por 80º e uma plataforma completamente móvel. O sistema/software gráfico é de uma resolução e detalhismo impressionante e em alguns determinados cenários existe um retrabalho para criação de um ambiente 3D perfeito para simulação de pousos em áreas restritas onde, convenientemente, existem postes, muretas, árvores e tudo mais para “ajudar” o piloto.

A cabine é totalmente compatível com NVG e os controles de voo reagem com uma realidade impressionante para simulação de panes e procedimentos, como falha do sistema hidráulico e pousos corridos. Tem no cockpit toda a equipagem e aviônicos existentes em uma aeronave policial, como “moving map”, farol de busca, FLIR, rádios policiais, etc. Tudo isso responde de modo perfeito à simulação de um específico cenário, que pode ser configurável e alterado pelo instrutor.

A American Eurocopter está em fase de aperfeiçoamento do cenário de tiro embarcado, onde a aeronave efetua o apoio aéreo em uma ocorrência de um “sniper terrorista” no topo de um prédio estrategicamente localizado em uma região cheia de obstáculos. Com a utilização de um simulacro de AR-15 devidamente equipado com um sistema laser o tripulante pode efetuar “tiros embarcados”. Logicamente, não visa o aperfeiçoamento do tiro em si, mas a possibilidade de um treino beirando a realidade, envolvendo coordenação de cabine, condições meteorológicas variáveis, fraseologia e obstáculos. É simplesmente incrível.

Simulador equipado com a cabine completa do AS350, podendo efetuar o treinamento conjunto de toda tripulação, incluindo piloto, copiloto/TFO e tripulantes. Foto: Alex Mena Barreto

Ainda existem cenários de acidentes automobilísticos, com diversas opções próximas de áreas restritas para o pouso, especificamente detalhados e modelados em 3D com uma resolução fantástica. Além desses locais, todos os helipontos homologados, elevados ou não, são modelados e passíveis de pouso no simulador. Dessa forma, consegue-se efetuar um treinamento completo de missões aeromédicas, desde o acionamento, deslocamento para ocorrência, pouso e decolagem em área restrita, deslocamento para hospital, pouso em heliponto elevado e retorno para a base.

O simulador não conta, ainda, com a equipagem de guincho, mas é possível efetuar tal treinamento, e outros que envolvam carga externa, através de alterações pré-programadas no perfil do CG, que irá responder simulando para o piloto o comportamento da aeronave durante o içamento de uma vítima, captação de água com o bambi bucket, ou qualquer outra missão que envolva carga externa.

Junto aos cenários voltados para as atividades aeromédica e policial, existem dois outros que são extremamente importantes em termos de segurança operacional: recuperação de entrada inadvertida de condições meteorológicas por instrumentos e “brownout”.

A cabine é compatível com sistema NVG. Foto: Alex Mena Barreto

As condições meteorológicas são completamente configuráveis durante o processo e o instrutor pode “guardar” o piloto a qualquer momento do voo, podendo assim efetuar um treinamento bem realístico de como recuperar a atitude da aeronave e sair das condições de voo IMC sem que ocorra a desorientação espacial do piloto. Para quem já iniciou a contagem de 178 segundos sabe da importância desse treinamento.

O treinamento de “brownout” também prevê alguns cenários específicos, e quando se efetua a aproximação da aeronave em um perfil de pouso inadequado para o local, a visão é obscurecida de maneira gradual e completa. Assustador, e não precisa nem dizer que nessa não teve jeito e “quebrei” a aeronave. Posteriormente  após o “briefing” pelo instrutor do perfil do pouso e da arremetida, percebe-se claramente a importância e a qualidade de um treinamento/simulação desses tipos de cenários.

O simulador ainda conta com uma estação/console para “debriefing”, onde todo o treinamento pode ser reproduzido ou acompanhado ao vivo, com todos os parâmetros de voo, meteorologia, áudio e imagem da cabine, possibilitando uma excelente base para a análise do treinamento, focando em aspectos de CRM, tomadas de decisões e procedimentos realizados.

Em resumo, poder treinar uma tripulação inteira, em cenários e ambientes voltados para as especificidades de missões críticas como aeromédicas, policial, tiro embarcado, entre outras, com uma realidade impressionante, e com a possibilidade de degradar todas as variáveis imagináveis em relação a panes técnicas e meteorologia, com recursos tecnológicos de ponta, sem expor a tripulação ou terceiros, e sem o risco de perda material, é impressionante. Se tal medida ainda não está nos planos dos gestores da aviação de segurança pública do Brasil, está na hora de “correr atrás do prejuízo”.

 

Autor: Alex Mena Barreto, Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo. É piloto e instrutor de helicóptero, cofundador e editor do site Piloto Policial. O presente artigo foi publicado na edição No. 131 da revista Tecnologia & Defesa.

Sikorsky desenvolve sistema denominado Sandblaster para evitar “Brownout”

O pouso de um helicóptero em um terreno de areia, poeira ou neve, tipicamente produz uma nuvem densa que pode desorientar e “cegar” os pilotos. Esse fenômeno é conhecido como brownout e pode conduzir facilmente a um acidente. Especialmente em operações militares, o “brownout” pode ser perigoso para a conclusão da missão.

Sob contrato com o Defense Advanced Research Projects Agency, a Sikorsky irá integrar e testar um sistema de pouso para novos helicópteros, que promete um pouso mais seguro na condição de “brownout”.

O sistema é conhecido como Sandblaster e visa substituir os elementos visuais perdidos durante “brownout”, fornecendo aos pilotos de helicóptero uma descrição precisa e sintética do mundo exterior. O sistema integra várias tecnologias novas, incluindo um radar de 94GHz, capaz fornecer dados detalhados em representação sintética, da topografia e dos obstáculos no terreno em displays coloridos no interior da cabine.

Além disso, integra controles de voo avançados para estabilizar o perfil de abordagem e reduzir a carga de trabalho do piloto, auxiliando-o na aterrissagem e tornando-a mais segura. O Sandblaster permite que o piloto de “ver” através da nuvem de poeira e guiar o helicóptero para um ponto de pouso predefinido. O piloto é capaz de interagir com o sistema para evitar obstáculos na zona de aterragem.

A Sikorsky está trabalhando com líderes da indústria para desenvolver este sistema. A empresa Honeywell foi selecionado para desenvolver e integrar tecnologia de visão sintética e a empresa Sierra Nevada foi escolhida para projetar e integrar o radar de 94 GHz.

BAE Systems completa testes de seu sistema Brownout Landing Aid System Technology

A BAE Systems entrou para o rol de empresas que oferecem produtos que visam aumentar a consciência situacional em relação ao terreno com o objetivo de mitigar os efeitos do “brownout” em pouso e decolagens de helicóptero.

Falando na Paris Air Show, Paul Cooke, diretor de desenvolvimento de negócios de aviônicos de defesa, disse que a empresa concluiu recentemente os testes de seu sistema BLAST (Brownout Landing Aid System Technology).

A empresa está preparando um relatório final para o Departamento de Defesa (DoD) americano sobre o desempenho do sistema, que deverá ser apresentado até ao final do mês.

Embora a questão do “brownout” não seja prioritária para o DoD – ao contrário da questão dos dispositivos explosivos improvisados, por exemplo – o problema ainda causa perdas de tripulações no Afeganistão, fazendo com que várias empresas invistam no desenvolvimento de sistemas de percepção do terreno para tentar resolver o problema.

Cooke disse que a solução da BAE tem como características uma integração de baixo custo e a utilização de um sensor leve de 94GHz com processamento monopulso. O sistema pode fornecer uma visão 3D ou top-down de um local de pouso, com a imagem fornecida como estivesse “olhando para baixo” em uma tela de LCD multifuncional ou mostrado através de visor montado no capacete Q-Sight da empresa.

“Há um monte de tecnologias concorrentes e outras soluções, e estamos realmente esperando para ver qual o caminho que o DoD decidirá seguir”, disse Cooke. “Achamos que temos uma solução muito atraente, o sistema está em produção e agora estamos esperando para colocá-lo em serviço.”

Enquanto isso, a empresa também está a avançar com a última versão do seu visor montado no capacete Q-Sight. Cooke disse que a empresa espera completar as homologações de sua versão mais recente do equipamento até o final do mês. “

O sistema Q-Sight para capacetes de voo projeta informações sobre vôo, missão e informações ao usuário através do uso de uma tecnologia holográfica, patenteada pela empresa.

Embora concebido essencialmente com os pilotos, o Q-Sight também foi adaptado pela BAE Systems para o função de artilheiro para a Marinha britânica, onde será utilizado pelos artilheiros que vão nas portas dos helicópteros Lynx MK8.

Artigo sobre o funcionamento do BLAST da BAE Systems

Cientistas demonstram tecnologia para gerenciar “Brownout” em pousos de helicóptero

O Laboratório de Tecnologia, Ciência e Defesa (DSTL), em conjunto com parceiros da indústria aeronáutica, tem mostrado o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta projetada para auxiliar pilotos de helicóptero a pousarem com mais segurança e eficiência no Afeganistão.

Cientistas da DSTL, subordinado ao Ministério da Defesa do Reino Unido (MOD), iniciaram o desenvolvimento técnico de uma abordagem pioneira para o problema de pousos com baixa visibilidade (LVL), fenômeno conhecido como “helicopter brownout”. O chamado “brownout” ocorre quando um piloto perde as referências visuais devido à poeira ou areia de recirculação durante a decolagem ou pouso do helicóptero.

Trabalhando com engenheiros da AgustaWestland, os cientistas analisaram dados de incidente para entender o que acontece e tentar identificar uma causa. Eles também realizaram uma avaliação rápida da tecnologia e das muitas possíveis  soluções disponíveis, incluindo um simulador de julgamento de uma das tecnologias mais promissoras, a simbologia conformal 3D. Esta tecnologia utiliza um pequeno display montado no capacete para fornecer uma representação virtual 3D da zona de aterragem que permanece imóvel quando da aproximação do piloto.

A simbologia é cuidadosamente projetada para aumentar a imagem do mundo real, mas também para fornecer todas as informações necessárias para permitir ao piloto facilmente calcular a altura, velocidade e deriva. Em seguida, ele substitui as referências do mundo real quando são obscurecidas por poeira. A tela também pode ser equipada com óculos de visão noturna para garantir a capacidade de operar 24 horas.

A tecnologia foi demonstrada em um evento na Honourable Artillery Company, em Londres/ING, em apoio à Semana Nacional de Ciência e Engenharia.

A equipe de cientistas realizaram ensaios de voo bem-sucedidos demonstrando a eficácia da simbologia 3D adaptada em um helicóptero Lynx da Army Air Corp Development and Trials (D&T) Squadron, baseado em Middle Wallop, em Hampshire, em conjunto com o Rotary Wing Test and Evaluation Squadron, com base em Boscombe Down.

A equipe também realizou um ensaio simulado usando as tripulações dos helicópteros Merlin para melhorar a solução empregada e realizar um grande número de pousos e descolagens de helicópteros e demonstrar que o sistema realmente torna-os seguros.

O desenvolvimento está em fase de conclusão e estará sujeito à certificação através dos procedimentos normais, o sistema de produção é esperado para ser implantado nos helicópteros em operação no Afeganistão.

Major John Peters, piloto de testes de ligação para o programa LVL e o Army Air Corps,  disse: “O Brownout é um perigo enfrentado diariamente por tripulações dos helicópteros do Reino Unido no Afeganistão, quando você vem para pouso a quantidade de poeira soprada para cima pode obscurecer completamente todas as suas referências visuais .

“Isso faz o pouso mais difícil e perigoso e aumenta o risco de danos. O desenvolvimento do sistema de pouso com baixa visibilidade permitirá que as tripulações dos helicópteros pousem com muito mais segurança nestas condições, dando-lhes referências quando de outra forma estariam cegos.”

O trabalho da equipe de cientistas ganhou um Civil Service Awards, prêmio criado para reconhecer as melhores práticas em todo o serviço civil, na categoria inovação.

A pesquisa continua de maneira à permitir que os pilotos possam operar de forma mais segura e eficaz em condições de baixa visibilidade; aplicações civis do sistema podem incluir os serviços de emergência e resgate que também operam em condições climáticas adversas, como neblina e nevoeiro.

O Susto – O perigo do “Brownout”

EDERSON LUIZ FALCADE
Comandante de Aeronave do
Comando de Aviação da PMESP

O dia começou frio, mas logo no início da tarde, o sol clareava e esquentava o dia….Por volta das 13:50h, a sirene tocou duas vezes, informando que nova ocorrência de resgate estava acontecendo.

Cada um em sua seção, ao ouvir os toques da sirene, deslocaram-se rapidamente para a aeronave, momento em que fomos informados pelo enfermeiro de que se tratava de ocorrência envolvendo dois caminhões pela Marginal Tietê, entre as Pontes das Bandeiras e da Casa Verde e a vítima encontrava-se presa nas ferragens.

Como o local era muito próximo do Campo de Marte, o Cmt da Aeronave comentou, em tom descontraído, que o melhor local para pouso para essa ocorrência seria o próprio Campo de Marte, onde nos encontrávamos, pois é regra nas missões de resgate evitar ao máximo pousar em ruas e avenidas, procurando sempre um local mais seguro, quando muito, desembarcar o médico e enfermeiro no local e pousar em outro lugar.

Decolamos, sentido Pista 30, onde após curva a esquerda já conseguimos avistar o local na Marginal Tietê, pela pista expressa, sentido leste, e observamos que o trânsito já estava parado, em virtude de já se encontrarem pelo local viaturas policiais e do corpo de bombeiros.

Após breve avaliação pontual da via e também de outras possibilidades pelas imediações e, considerando que o pouso na pista acarretaria enormes conseqüências ao trânsito, uma vez que não sabíamos se a vítima já tinha sido retirada do caminhão ou ainda estaria presa nas ferragens, fato que poderia retardar o atendimento, decidimos efetuar pouso no campo do Clube Tietê, localizado bem próximo do acidente, no mesmo sentido da via, sendo que, após rápida avaliação do Cmt da Aeronave, estabilizou o helicóptero no sentido de sua rampa e entrou na final para pouso…

Era um campo de futebol, que por sinal estava bem castigado, tendo área gramada apenas em suas extremidades, enquanto que o centro do campo era dominado pela terra.

A aproximação foi tranqüila e estável, porém bem próximo ao solo, numa altura que acredito não maior do que 2 metros, iniciou a subida de poeira (piso de terra vermelha), ocasionando o chamado “brownout”, porém ainda mantínhamos visão da região frontal, só que talvez, acredito eu, isso tenha motivado o comandante a efetuar rapidamente o pouso, utilizando a técnica do pouso direto.

No momento do toque dos esquis no solo, a aeronave não estabilizou no ponto, tendo um leve deslocamento para frente e iniciando o chamado pilonamento frontal, fato que por frações de segundo, com o acelerar do batimento cardíaco, somente uma imagem passou pela minha mente: “A pá vai bater no chão, o rotor vai quebrar e espero que não pegue em ninguém”…

Da mesma forma que tudo aconteceu muito rápido, o comandante, agiu de forma emergencial e corretiva, tentando num primeiro momento, na atuação do cíclico a retaguarda, porém, sem resultado, e depois na exigência de potência, atuando no coletivo, efetuando uma puxada brusca para que as pás do rotor não tocasse o solo, arremetendo de imediato, instante em que ao livrar os esquis do solo, a aeronave sofreu uma guinada para a esquerda, levando sua cauda à direita, elevando sua altitude inicialmente um pouco descontrolada, mas, logo em seguida, estabilizando o vôo, alcançando a arremetida com segurança.

Depois disso, observei que na tela do VEMD encontrava-se uma mensagem de Overlimit Detected, situação que expus ao comandante. Diante disso, retornamos para próximo do local, onde o enfermeiro, por meio de gestos, sinalizou da impossibilidade de socorro, abortando a missão e retornando para o Campo de Marte para que pudéssemos avaliar o que teria acontecido com a aeronave e pronto restabelecimento de toda a tripulação, observando no registro do VEMD que o Torque atingira 113%, por 1 segundo.

Esclareço que todos os fatos ocorreram muito rápido. Para mim, acredito que não tenha passado de 3 segundos, desde o toque dos esquis no solo até a arremetida, e confesso que minha reação foi apenas esperar o que iria acontecer, da mesma forma que todo o restante da tripulação, que permaneceram calados durante o desenrolar das manobras.

Nessa espera não falei coisa alguma, nem visualizei o painel da aeronave ou até ouvi qualquer sinal de alarme, somente esperei. E na confiança de que sairíamos dali, pude perceber posteriormente, da mesma forma que o enfermeiro e a médica, que na relação entre Homem e Máquina, Piloto e Aeronave, o helicóptero não respondeu numa fase inicial às intenções do piloto, mas reagiu satisfatoriamente na segunda exigência, em virtude da brilhante capacitação profissional do homem e atuação salvadora do piloto.

E assim, graças aos Anjos e Arcanjos, ao Bom Deus e ao Comandante da Aeronave estamos relatando esse fato, e espero que nunca, nem ninguém, tenha que passar pelo mesmo susto e lembrem sempre do perigoso efeito do “Brownout”.

O perigo do “Brownout” em uma missão de resgate aeromédico

ALEX MENA BARRETO

De todas as missões previstas como de Aviação de Segurança Pública, talvez a que envolva os maiores riscos de acidente, certamente, é o resgate aeromédico. A impossibilidade de prever certas variáveis durante o planejamento do voo é uma das maiores dificuldades para qualquer piloto, e que influi decisivamente em uma análise de gerenciamento de risco da operação.

Apenas para exemplificar, as variáveis refentes ao fatores meio e missão, podem ser:

  • Condições meteorológicas específicas do local do pouso desconhecidas;
  • Local de pouso não homologado e possivelmente desconhecido pelo piloto;
  • Quase certeza de pouso em uma área restrita;
  • Tempo exíguo para planejamento da missão, e sua consequente pressão;
  • Pouca margem para erros e atrasos na operação;
  • Possibilidade de operação em condições marginais de voo;
  • Presença de obstáculos, como: gruas, monumentos, postes, fios, telhas soltas, toldos, arbustos, árvores, tocos, pedras, lixo, bancas de jornal, estabelecimentos comerciais (vidraçarias, restaurantes, etc), feira livre, obras, etc;
  • Presença de transeuntes, automóveis, caminhões, ônibus, etc;
  • Presença de animais, como: cães e cavalos;
  • O local pode ser em declive ou aclive, fato de difícil observação no momento da avaliação do local de pouso;
  • Operação de pouso e decolagem predominantemente dentro da curva do “homem morto” (altura vs velocidade);
Pouso de um helicóptero Chinook do Exército Americano no Afeganistão (Tarin Kot, na província afegã de Uruzgan) em 9 de julho de 2009. (Foto: REUTERS / Tim Wimborne)

Analisando somente essas características da missão de resgate aeromédico, conclui-se que além da habilidade do piloto, vai estar à prova, principalmente, as suas decisões e seus julgamentos durante o voo em prol da segurança operacional da tripulação, da aeronave e dos terceiros na superfície. Talvez essas últimas, as maiores virtudes de um bom Comandante de Aeronave.

Quanto à segurança operacional, uma das avaliações e decisões mais importantes a serem tomadas é o local de pouso na ocorrência, pois uma avaliação visual da área, estando, inicialmente com a aeronave a 500 pés de altura e na sequência a 300 pés do solo, pode não revelar todas as caraterísticas desejáveis para um pouso seguro.

Uma das características, que não é perfeitamente possível de ser avaliada, e que não foi citada no rol de possibilidades de erro acima, é a quantidade de poeira que poderá ser levantada durante o pouso, podendo causar o que é conhecido como “brownout”.

Por definição, “brownout” é uma restrição de visibilidade do voo devido à poeira ou areia no ar, causando perda, por parte do piloto, das referências visuais externas necessárias para controlar a aeronave, consequente desorientação espacial, perda da consciência situacional, podendo levar a um acidente.

YouTube player

 

Para se ter uma ideia, em recentes operações militares houve mais aeronaves americanas envolvidas em acidentes relacionados a “brownout” do que em todas as outras ameaças combinadas.

Em um artigo publicado pela revista Helitac, Nick Lappos cita algumas dicas úteis que podem ser aplicadas em missões de resgate aeromédico, visando evitar a ocorrência de “brownout” , sendo praticamente todas antecedidas do temido “se possível”:

  • Sempre levar em conta a possibilidade de ocorrer o “brownout” ao planejar o pouso;
  • Sempre que possível, decole e pouse contra o vento;
  • Se possível, faça sempre uma decolagem e pouso diretos (sem estabelecer o vôo pairado antes);
  • A reserva de potência é importante. Com pouca reserva, as chances de reverter uma manobra ou arremeter ficam comprometidas;
  • Se for possível, reconheça o local com antecedência, para se certificar que tem condições de realizar a decolagem direta e o pouso direto ou corrido (área livre de obstáculos, solo com poucas ondulações, etc);

A operação de resgate aeromédico é, por si só, uma missão arriscada e, portanto, o gerenciamento da missão é fundamental para o seu sucesso, pois como diz o bom e velho ditado: “Um piloto excepcional utiliza-se de seu conhecimento excepcional para evitar fazer uso de suas habilidades excepcionais“.

Bons voos !

YouTube player

 

Leia também:

Receba notícias por e-mail

Receba por e-mail novidades do

RESGATE AEROMÉDICO

 

Você recerá um e-mail para confirmar sua inscrição.

Não compartilhamos seus dados com terceiros.

OBRIGADO

por se inscrever !

 

Você recerá um e-mail para confirmar sua inscrição.

Logotipo Resgate Aeromédico
Resumo das Políticas

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.