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Edilberto de Oliveira Melo

História da Aviação da Força Pública Paulista – Parte 3

O Paraquedismo na Força Pública do Estado de São Paulo

O artigo anterior focalizou a quarta etapa da história de nossa aviação, existindo um grande compasso de espera para a etapa seguinte, a quinta, pois, com a derrota de São Paulo, perdemos, como já foi descrito, o Campo de Marte e os Quartéis de Itapetininga e do Glicério, como presas de guerra.

Com o decorrer dos anos, o Governo Federal devolveu a São Paulo os dois quartéis, continuando de posse de grande área do Campo de Marte, ocupado, nos dias de hoje, pelo Parque da Aeronáutica, do 4º Comando Aéreo da Força Aérea Brasileira.

ForcaPublicaSP

Uma pergunta, talvez, o leitor queira fazer: Como e por que a Força Pública possuía um Núcleo de Paraquedistas?

Resposta: Em 1950, um civil de nome Wolfrado Rodrigues, diplomado pela Escola de Paraquedismo de São Paulo, procurou, no 7º Batalhão de Caçadores de Sorocaba, o oficial de dia, dando a ideia da fundação de um grupo de paraquedistas naquele batalhão.

Tomadas, por termo, todas as informações do referido senhor, mandou o comandante o processo para a devida apreciação da Diretoria Geral de Instrução, no qual a ideia foi bem acolhida, resolvendo o Cel. Diretor propor ao Comandante Geral a sua aprovação, formando-se, pois, o Núcleo de Paraquedismo, não em Sorocaba e sim na própria capital.

Colaborou e muito, o Ten. Milton Cyríaco de Carvalho, do Quartel General, conseguindo formar já a primeira turma, pela Escola de Paraquedismo Civil de São Paulo, situada no Campo de Marte, no ano seguinte, constituindo a quinta etapa, desta brilhante história.

Outro oficial que deu muito impulso foi o Cap. Adauto Fernandes de Andrade que, na época, servia no gabinete do Dr. Erlindo Salzano, vice-governador do Estado. Sendo também o Dr. Salzano um oficial do nosso Corpo Médico, o entusiasmo de ambos conseguiu do Dr. Adhemar de Barros (Diretor da Aerovias Brasil) todo o apoio moral e material, autorizando que os alunos se utilizassem de seus aviões e de DC-3 da Vasp, determinando, ainda, a compra de 20 paraquedas modernos para a Corporação.

As aulas teóricas eram dadas na Escola de Paraquedismo Civil do Estado, no Campo de Marte e, na parte prática, para a obtenção do brevê eram obrigatórios cinco saltos.

Várias publicações nos Boletins Gerais do Quartel General autorizaram os referidos saltos; por curiosidade transcrevemos um deles:

Núcleo de paraquedista – execução de salto: (Bol. Geral nº 97, de 5/5 e Reg. nº 82, de 11/5) – Foi público que no dia 26/04/1953, em Porto Ferreira, neste Estado, os alunos executaram os 4º e o 5º saltos de paraquedas usando os automáticos, os elementos matriculados no Curso de Paraquedista da Força Pública, tendo dirigido os saltos, o Cap. Adauto Fernandes de Andrade.

O entusiasmo aos poucos foi arrefecendo, faltando verbas para a compra de novos e modernos equipamentos mas, um ponto do seu roteiro glorioso, é bom que o leitor se delicie com o artigo abaixo, extraído do livro: Clarinadas da Tabatinguera, no qual é relatada a história do…

Capitão Djanir Caldas – duas loucuras

A tragédia do avião President da Pan American

Era o dia 29 de abril de 1952, quando o mais moderno avião de passageiros do mundo, da Pan American denominado President, sobrevoava de madrugada a selva amazônica, com 60 criaturas humanas, entre tripulantes e passageiros.

Ali estavam brasileiros, norte-americanos, paraguaios, argentinos, homens e mulheres, adolescentes e crianças unidos pelo destino, para escreverem a mais trágica página que a aviação tinha registrado em plagas sul-americanas, até aquela data.

Seriam 4 horas e tudo ia bem a bordo do quadrimotor. As comunicações com a torre procediam-se normalmente e, quando o rádio silenciou, foi para sempre, levando para a incomensurável profundeza da selva, dezenas de almas.

Não havia dúvidas para as autoridades brasileiras e norte-americanas, que sobrevoaram o local, sul do Estado do Pará, de ser humanamente impossível haver sobreviventes, bem como ser impraticável o salto de paraquedas. Este pensamento foi, posteriormente, superado pela coragem de 14 paulistas, 7 da então Força Pública e 7 do Clube de Paraquedistas Civis.

Cerca das 15h, do dia 7 de maio, um DC-3, da Aerovias Brasil, cedido pelo grande político Dr. Adhemar de Barros, levantou voo do Campo de Marte, deixando os ceus nublados de São Paulo, pousando em Porto Nacional, para a sublime missão. Comandava os paraquedistas da Força Pública, o Cap. Djanir Caldas, sendo sua missão apenas de oficial de ligação com as autoridades (havia oficiais superiores nossos e da Aeronáutica), no entanto, nesse dia 7, apresentou-se ao Cel. Ex. Ribamar de Miranda, seu Comandante e o diálogo se fez:

– Senhor Coronel, eu vou saltar com os meus soldados.

– O senhor é paraquedista capitão?

– Não senhor. Nunca vi um paraquedas.

– Então, o senhor não pode saltar.

– Senhor Coronel, não posso deixar que meus soldados saltem na floresta virgem e fiquem sozinhos, sem um oficial presente. Isso nunca aconteceu na história da Força Pública.

– Mas é uma temeridade Capitão Djanir, não posso e não devo dar essa permissão.

– Então, senhor Coronel, eu me licencio da Corporação e saltarei como civil voluntário e serei o único responsável pelo que me acontecer. Firmarei um documento nesse sentido.

 Este último argumento foi aceito pelo Cel. Ribamar, pois não foi possível demovê-lo de sua obstinada intenção.

No dia 11, o DC-3 sobrevoou o local exato do salto, baixou a 300 metros, reduzindo a velocidade. Os paraquedistas expiaram pela janela e viram aquele oceano verde estender-se ao infinito e quase certo que tiveram medo. Treme carcaça…

Talvez, naqueles segundos, tenham vindo à lembrança as estórias terríveis da Amazônia: índios bravios e antropófagos, feras descomunais, formigas gigantes, árvores e insetos carnívoros, areias movediças… mas, ali estavam, com as consciências voltadas com o dever a cumprir, e uma força inabalável os impulsionava para o salto naquele inferno verde – a força misteriosa da solidariedade humana.

Djanir contou-me, na ocasião:

“Que alguns soldados já haviam saltado e quando se abriu a porta do DC-3, para que eu saltasse, senti um vento forte no meu rosto, que ficou insensível, como se estivesse anestesiado. Num relance fiz o sinal da cruz, pensei carinhosamente em minha esposa, esperando nosso segundo filho, na minha filhinha querida e me projetei no espaço; toquei emocionado o chão paraense com alguns arranhões e a alma sôfrega. Em pouco tempo, reunimo-nos para o trabalho penoso de construir um heliponto. Fizemos mais, limpamos o terreno em grande extensão, o que permitiu também o pouso de aviões pequenos. Tudo isso, fizemos com nossos facões, nossos músculos e nossa força moral e espiritual”.

A repercussão do feito heróico ultrapassou nossas fronteiras, os jornais americanos projetando o salto dos nossos 14 paraquedistas, destacando a loucura divina do Cap. Djanir Caldas, que recebeu, com todos os seus companheiros, as condecorações e medalhas, ressaltando a nobreza da solidariedade humana.

O Governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez, decretou a promoção de todos os militares ao posto imediato por ato de bravura. Rápida foi a promoção dos 7 praças paraquedistas, providência cumprida pelo Comandante Geral da Força Pública. Mas, a promoção de oficial era competência do governador. O processo demorou demais e, quando tudo estava nos conformes, o Governador era Jânio Quadros que, enfurecido pela projeção política do seu adversário Adhemar de Barros, ordenou a presença de Djanir em seu gabinete.

Bem com a vida, despreocupado, Djanir rumou aos Campos Elíseos e, qual não foi sua surpresa desagradável quando Jânio, desvairado, com o dedo em riste, vociferou contra ele, em tom ameaçador. Djanir, imperturbável, quedou-se em silêncio, até que Jânio findasse aquele extenso palavreado estúpido e desenfreado.

Calmo, com a postura espartana, revidou enfaticamente ao Governador:

– Vossa Excelência não está me ofendendo. Vossa Excelência está ofendendo a minha Corporação, a farda honrada da Força Pública. Como oficial, não admito tal ofensa.

Jânio, extravasando seu ódio, não o promoveu, desrespeitando o decreto do Governador Garcez, determinando, ao Comandante da Força Pública, que transferisse Djanir para o Batalhão mais distante da capital, como castigo.

Outra loucura de Djanir: era ele o capitão mais antigo da Corporação e sua promoção, certamente, ao posto de major, se daria em agosto. Ele não cumpriu a ordem de transferência e, tão pouco, se ligou para o perigo de ser submetido a julgamento no Tribunal Militar, pelo crime de desobediência ao Governador e, quando um oficial superior, com escolta, chegou à sua residência, com ordem de conduzi-lo preso ao Quartel General, Djanir, com a maior calma do mundo, entregou-lhe um requerimento solicitando demissão das fileiras da Força Pública.

Que personalidade fortíssima! Jogou fora quase 30 anos de serviço e os vencimentos de major e seria tenente coronel, com certeza, pelo decreto do ato de bravura. Quem teria coragem de tanta loucura?

Tudo isso, fielmente relatado, foi depoimento seu, quando era elaborado o livro O Salto na Amazônia. Com tristeza, o autor soube de sua apertura financeira, a preocupação e o zelo com sua família, o abandono e o esquecimento de muitos amigos. Djanir empregou-se no Mackenzie, como professor de química, depois de vencer forte competição.

Milagrosamente, o Dr. Adhemar de Barros foi eleito Governador para o quatriênio 1960-64 e, já conhecedor da grande injustiça de Jânio Quadros, determinou ao Comandante da Força Pública, que desarquivasse e lhe mandasse o processo referente a Djanir, pois sua intenção era promovê-lo, resgatando tamanha maldade.

No entanto, a ordem não foi cumprida de imediato, precisava de autuação de vários documentos, revisão de datas, aquela burocracia tremenda! Passou o primeiro ano e nada, veio o segundo ano e nada feito, o processo evoluía somente de gaveta a gaveta, de gabinete a gabinete, de seção a seção e nada, a máquina emperrava, a burocracia era complicada demais e misteriosa (a bem da verdade é preciso que se diga, que houve negligência e, porque não afirmar, sabotagem de colegas, enciumados e invejosos…).

No último ano de seu governo, Adhemar se desesperou, bateu duro na mesa, ordenando que lhe trouxessem o processo com urgência e, quando sua ordem estava sendo cumprida, em 2 de julho de 1966 ele, Adhemar de Barros, foi cassado politicamente pelo Presidente Castello Branco.

Quando tudo parecia perdido, surgiu um anjo da guarda, acidentalmente; Djanir encontrou-se com o Dr. Paulo Pestana, Delegado de Classe Especial da Polícia Civil, seu grande amigo e admirador, na época Secretário de Turismo do Estado que, conhecedor de tantas injustiças sofridas pelo heróico e louco “paraquedista”, contou ao Governador Roberto de Abreu Sodré toda essa história novelesca.

Emocionado, Sodré, depois de legalizado todo o processo, promoveu Djanir a tenente coronel em 1967, 15 anos depois da tragédia do avião President.

Agora, com os vencimentos de tenente coronel, ele pode dar o conforto pleno à família, mas não deixou o Mackenzie, continuou trabalhando e, mercê de sua capacidade de trabalho, inteligência e cultura, aliados aos valores éticos, galgou postos de chefia naquela famosa universidade.

Mas, um fato novo deveria acontecer, para encher de alegria e orgulho toda a família e seus leais amigos. O livro histórico O Salto na Amazônia caiu nas mãos de um jovem e talentoso advogado, o Dr. D’Asti de Lima, que o anexou a um processo, reivindicando a promoção por ato de bravura, como havia decretado o governo Garcez, em 1952.

A ação judicial do Dr. D’Asti foi vitoriosa, promovendo Djanir a coronel, em 1991, sendo então cumprido aquele decreto estadual de 1952, apenas… 39 anos depois!!!

Nota 1: as imagens reproduzidas neste post atestam o dever bem cumprido dos paraquedistas de São Paulo, que na ocasião foram considerados loucos mas, na verdade, foram, pensamos nós, os precursores do PARASAR, organismo de elite, composto de paraquedistas da Força Aérea Brasileira, que tem cumprido sua missão nos mais distantes pontos do território nacional, colaborando em calamidade de outros países, vivendo páginas de glórias onde quer que haja uma vida a salvar!

Nota 2: O Campo de Marte pertenceu, em toda a sua extensão, à então Força Pública, onde eram realizados, como já vimos, os treinamentos e desfiles da tropa. Com o correr dos anos, ele fragmentou-se, aquartelando, nos dias atuais, o Parque da Aeronáutica da FAB, Escolas de Aviação, de helicópteros, inclusive a da Polícia Civil, de Paraquedista e outras Repartições do Estado. Aquartela também o Grupamento Aéreo da PM, com seus Águias, o cartão de visita da Corporação. É a sexta etapa da presença nossa no histórico Campo. E temos a certeza de que o Grupamento veio para ficar.

Sobre o autor:

Coronel PMESP Edilberto de Oliveira Melo

Nasceu em 1920, em Bofete, no interior de São Paulo. Diplomou-se em 1938 na Escola Normal Peixoto Gomide, em Itapetininga. Ingressou como soldado na Força Pública em 1939. Declarado Aspirante a Oficial em 1944 pela primeira turma a se formar no Barro Branco. Diplomou-se instrutor na Escola de Educação Física, tendo como paraninfo o fundador desse notável estabelecimento de ensino, pioneiro no Brasil, o Cel. Pedro Dias de Campos.

Na reserva, foi nomeado diretor do Museu da Polícia Militar e em 1982, assumiu a presidência da Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados da PM – AORRPM, sendo eleito em mais seis mandatos.

Como presidente de AORRPM defendeu os altos interesses da Corporação. Foi o responsável pela construção da sede da Associação, o Solar da Tabatinguera além de diversas sedes de regionais no Interior do Estado.

Livros publicados:

  • Asas e glórias de São Paulo, em parceria com o Cel. José Canavó Filho
  • O salto na Amazônia
  • Marcos históricos da PM
  • Raízes do militarismo paulista

Fonte: Memórias de um veterano.

História da Aviação da Força Pública Paulista – Parte 2

O Grupo Misto da Aviação Militar da Força Pública e a Força Aérea Constitucionalista

Ao eclodir a Revolução Constitucionalista de 1932, o Campo de Marte foi retomado por elementos do Regimento de Cavalaria, encontrando-se em um de seus hangares dois aviões Waco, de 180 HP, da Aviação do Exército. Também foram encontrados no 4ºRI mais dois aviões Potez de bombardeio, de 450 HP, constituindo esses 4 aparelhos, o primeiro núcleo da aviação bandeirante, tendo sido presos vários aviadores do exército que não aderiam ao ideal paulista.

Renascia, então, das cinzas a Fênix Rubra, pelo decreto 5590, de 15 de julho de 1932 constituindo, com a ajuda de aviadores civis e militares aquarta etapa da nossa aviação, com a denonimação de Grupo Misto da Aviação Paulista.

Esse grupo passou a dispor dos aparelhos do Exército já citados e mais os seguintes:

  • um Moth e um Fiat doados pelo Aeroclube de São Paulo;
  • um JN pertencente ao Cap. FP Antônio Reinaldo Gonçalvez;
  • um Morane cedido por empréstimo.

 Idealistas paulistas doaram os seguinte aviões:

  • um Moth, 
  • um Fiat,
  • umNewport e 
  • um Henrioth.

Foram comprados no Paraguai mais 4 aviões, sendo ampliados os hangares no Campo de Marte.

Do Rio de Janeiro, chegaram mais um Waco e Newport Delage, ambos de 456 HP, pilotados pelos Ten. Mota Lima e Adherbal da Costa Oliveira, que aderiram à causa constitucionalista, sendo requisitado também um avião Late 26 de bombardeio, 450 HP que pertenceu ao Aeropostal.

Somando ao todo, o governo paulista adquiriu três Curtis-Falcão, todos de 450 HP.

Sob o comando do Maj. Dr. Ismael Torres Guilherme Cristiano, o grupamento possuía os seguinte pilotos: Orton Hoover, Cap. João Negrão, Reinaldo Gonçalvez, Alberto Americano, João de Quadros e Cândido Bravo, os Ten. Vicente Borba, Sebatião Machado e Sílvio Hoelz.

Valorosos elementos da aviação civil apresentaram-se no Campo de Marte, integrando-se no Grupo Misto, como pilotos ou observadores: João Baungart, Rosário Russo, Paranhos do Rio Branco, todos promovidos ao posto de Tenentes de Emergência.

Imitando os aviadores do Exército, Mota Lima e Adherbal de Oliveira também aderiram a Revolução, com o mesmo ideal, os Maj. Ivo Borges, Cap. Lysias Augusto Rodrigues e os Tens. Luis Martins de Araújo, Orsine de Araújo Coriolano, José Angelo Gomes Ribeiro e Mário Machado Bittencourt, esses dois últimos mortos heroicamente, num ataque à navios de guerra da Marinha, que bloqueavam o porto de Santos, impedindo o desembarque de material bélico comprado nos EUA.

Há duas ruas na Vila Mariana homenageando esses valorosos aviadores do Exército Brasileiro.

Estrutura-se, então, a Quinta Arma do Exército Constitucinalista, assim organizado:

Força Aérea

Comando: Maj. Ex Ivo Borges

Grupo Misto de Aviação Paulista 

    • Cmt. Maj. Ismael C. T. Guilherme
    • Subcmt. Cap. João Negrão
    • João de Quadros, Cândido Brava
    • Ten. Vicente Borba, Sebastião Machado
    • Sílvio Hoelz, Benedito de Paula França
    • pilotos civis promovidos a tenente.

 1º Grupo de Aviões de Caça 

    • Cmt. Maj. Lysias A. Rodrigues
    • Pilotos: Cap. Adherbal C. Oliveira
    • José A. Gomes Ribeiro
    • Cap. Arthur Mota Lima
    • Cap. Mário Machado Bittencourt e,
  • pilotos civis do Grupo Misto

Sob a insígna de “Gaviões de Penacho”, a Força Aérea cobriu-se de glórias, não obstante a precariedade de meios. As ações dos intrépitos aviadores da Força Aérea Constitucionalista foram inúmeras, pois, em todas as frentes de combate estavam os nossos aviões, observando, metralhando e bombardeando as posições inimigas. Em duelos com os vermelhinhos de Getúlio Vargas, tivemos grandes batalhas, logrando êxito na maioria delas, muito embora a Ditadura possuísse um poder aéreo dez vezes maior que o nosso.

Para o fecho desta história é necessário que se diga que a Força Pública empregou todo o seu efetivo para a sagrada causa de dar à Pátria sua Carta Magna, a Constituição brasileira.

Lutamos heroicamente por 3 meses, em todos os setores, constituindo o alicerce de todo o Exército Constitucionalista, embora enfraquecida pelas duras campanhas (1922, 24, 26 e 30), sem Artilharia, Aviação Militar e outros petrechos bélicos, confiscados em 1930.

Mesmo assim, a tropa de Piratininga se bateu valentemente, enfrentando um adversário aguerrido, dotado de abundante e moderno material de guerra e efetivo infinitamente superior. Em fins de setembro de 1932, quando a derrota das armas constitucionalistas era iminente, o armistício foi necessário, terminando as operações de guerra a 2 de outubro.

Nesse mesmo dia, a Força Aérea Constitucionalista foi extinta. Foi muito triste!!! A gloriosa Aviação da Força Pública, nascida em dezembro de 1913 teve o seu fim em outubro de 1932.

Perdemos mais uma vez o Campo de Marte, esse campo que leva o nome do Deus da Guerra, esse campo das manobras e desfiles memoráveis da Força Pública, mas certo vírus ficou em suas pistas e em seus hangares, porque a Ave Rubra alçaria o voo com os heróicos paraquedistas da Corporação, em 1950.

Sobre o autor:

Coronel PMESP Edilberto de Oliveira Melo

Nasceu em 1920, em Bofete, no interior de São Paulo. Diplomou-se em 1938 na Escola Normal Peixoto Gomide, em Itapetininga. Ingressou como soldado na Força Pública em 1939. Declarado Aspirante a Oficial em 1944 pela primeira turma a se formar no Barro Branco. Diplomou-se instrutor na Escola de Educação Física, tendo como paraninfo o fundador desse notável estabelecimento de ensino, pioneiro no Brasil, o Cel. Pedro Dias de Campos.

Na reserva, foi nomeado diretor do Museu da Polícia Militar e em 1982, assumiu a presidência da Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados da PM – AORRPM, sendo eleito em mais seis mandatos.

Como presidente de AORRPM defendeu os altos interesses da Corporação. Foi o responsável pela construção da sede da Associação, o Solar da Tabatinguera além de diversas sedes de regionais no Interior do Estado.

Livros publicados:

  • Asas e glórias de São Paulo, em parceria com o Cel. José Canavó Filho
  • O salto na Amazônia
  • Marcos históricos da PM
  • Raízes do militarismo paulista

Fonte: Memórias de um veterano.

História da Aviação da Força Pública Paulista – Parte 1

Em comemoração a proximidade do aniversário do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que completará 28 anos em 15/08/12, iremos publicar uma série de fantásticos artigos do Cel PMESP Edilberto de Oliveira Melo sobre a história da Aviação da então Força Pública paulista.

Falemos do Campo de Marte, esse pedaço do chão paulista, que agasalhou a Escola de Aviação da antiga Força Pública do Estado de São Paulo, em 1919 a segunda etapa de sua gloriosa história, sabendo-se que a primeira foi no Campo do Guapira, hoje Parque Edu Chaves, homenageando o exímio aviador vitorioso no raide Rio-Buenos Aires, em dezembro de 1920.

Para orgulho de nossa PMESP, destaquemos seu pioneirismo na aviação militar no Brasil, por força da lei 1395-A de 17 de dezembro de 1913, que, em seu artigo 14 determinava:

Ficam criados o Curso Especial Militar (hoje Academia do Barro Branco) e a Escola de Aviação;

No segundo parágrafo rezava:

A Escola de Aviação terá por fim preparar na Força Pública aviadores militares.

O artigo 15 determinava:

A Organização dos Pilotos para o funcionamento da Escola de Aviação, na sede do Campo do Guapira, nela sendo matriculados além de militares da Força Pública, também civis, tendo como responsáveis o aviador Edu Chaves e Cícero Marques, ambos brevetados na França.

A Escola teve vida efêmera devido à 1ª Grande Guerra Mundial, pois era impossível a importação de aviões e peças. O próprio diretor Edu Chaves desligou-se do comando, indo à França, lutando no posto de 1º ten. da aviação francesa. Os aparelhos, alguns defeituosos, foram recolhidos na Estação Oeste do Corpo de Bombeiros.

segunda etapa, como vimos acima, no Campo de Marte, teve a colaboração do aviador americano Orton Hoover que, desligando-se da aviação naval (criada em 1916), lutou contra a Alemanha, quando sua pátria entrou na guerra.

Foi Orton Hoover a centelha que reacendeu a antiga flama, dando em resultado a aprovação da lei 1675-A, de 9 de dezembro de 1919, que restabeleceu a Escola de Aviação da Força Pública, agora no comando do Ten. Cel. Chrisanto Guimarães, fase em que foram construídos muitos campos de aviação nas cidades do interior, a Corporação semeando a mentalidade aeronáutica em todo o Estado de São Paulo.

Na Revolução de 1924, os rebeldes, comandados pelo Gen. Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, apoderaram–se dos aviões, usando-os em seus objetivos como arma de guerra, enquanto permaneciam na capital.

Com a retirada dos revoltosos para Foz do Iguaçu, no Paraná, a frota composta de 8 aviões, foi guardada nos hangares, a fim de servir de base para a terceira etapa da Avião Militar Paulista, pois, em dezembro desse conturbado ano, começaram a riscar os céus de São Paulo os aviões, agora da Esquadrilha de Aviação da Força Pública, renascida pela lei 2051, de 31 de dezembro de 1924, comandada pelo Maj. Garrido, continuando instrutor o americano Hoover.

Um detalhe da lei: além das funções normais como a Quinta Arma de guerra (Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia, as outras), a Esquadrilha foi encarregada também do levantamento aerofotogramétrico do Estado.

Vamos ver o que de importante aconteceu nesta terceira etapa:

1ª – O primeiro salto de paraquedas em São Paulo, executado pelo Ten. Antônio Pereira Lima, em 1925. Nunca tinha visto um paraquedas, mas recebeu ordem do comando geral para saltar;

2ª – A Esquadrilha participa da Brigada Mista do Cel. Pedro Dias de Campos (2400 homens), em julho de 1926, contra a Divisão Revolucionária comandada pelo Gen. Miguel Costa, em Goiás;

3ª – O Ten. Chantre é o primeiro mártir da Aviação Militar Paulista. Numa das idas para Goiás, seu avião cai em Uberaba, ficando o segundo piloto, o Ten. Antônio Pereira Lima, com ferimentos graves sendo internado na Santa Casa local, ficando 8 dias em coma;

4ª – O Cap. Nataniel Prado, encarregado da fabricação de bombas para a aviação, morre em consequência da explosão de um petardo 75. Morreram também, vários soldados, inclusive músicos e o maestro da banda, o Cap. Lorena cujo ensaio era em uma sala contígua no Quartel do 1º Batalhão (ROTA), em 1926;

5ª – O Ten. João Negrão, herói do hidroavião Jahu, na travessia do Atlântico Sul, em 1927;

6ª – Mortes do Cap. Messias e do Deputado Lacerda Franco, na queda do avião Anhanguera, quando da inauguração do Campo em Itatinga, em 1929;

7ª – Na Revolução Getulista de 1930, a Esquadrilha atua em Itararé, Sengés e Morungava, essas duas no Paraná, tendo à frente os pilotos Tens. João Negrão, João de Quadros, Sílvio Hoels, Sebastião Machado, Vicente Borba, Alfredo Camargo e Deoclécio Guedes. Nesse mesmo ano, o instrutor Orton Hoover é promovido a major a título precário;

8ª – Toda Aviação Militar da Força Pública passa à disposição da 2ª Região Militar a fim de constituir, com a Aviação do Exército, um grupo legalista sob o comando do Maj. Lysias Rodrigues;

9ª – Com a vitória de Getúlio Vargas, assume o comando da Aviação Militar da Força Pública, o Ten. Cel. Ex Eduardo Gomes, que passa o comando dias depois ao Cap. Reinaldo Rodrigues (revolucionário de Miguel Costa);

10ª – Fim da Esquadrilha – o Boletim nº. 29, de 18 de dezembro de 1930 publica:

Em virtude de escapar à finalidade desta força, e devendo ser a aviação um elemento do Exército, é dissolvida, nesta data a Escola de Aviação, cujo material será entregue ao governo federal.

Triste esse final do ano de 1930, pois o governo federal apoderou-se do Campo de Marte, da nossa Esquadrilha de Aviação, reduzindo o efetivo doPequeno Exército Paulista, despojando-o ainda de sua artilharia e armas pesadas, restando-nos apenas armas leves, fuzis e revólveres, muitos deles defeituosos.

Em 1930 foi também o fim da primeira república, da política do café-com-leite e da Constituição de 1891, pairando uma certa tristeza no coração dos combatentes paulistas.

O Campo de Marte foi ocupado pela aviação do Exército, mas, a Fênix Rubra ainda renasceria das cinzas, iluminando os corações brasileiros de São Paulo, na clarinada paulista de 1932.

Sobre o autor:

Coronel PMESP Edilberto de Oliveira Melo

Nasceu em 1920, em Bofete, no interior de São Paulo. Diplomou-se em 1938 na Escola Normal Peixoto Gomide, em Itapetininga. Ingressou como soldado na Força Pública em 1939. Declarado Aspirante a Oficial em 1944 pela primeira turma a se formar no Barro Branco. Diplomou-se instrutor na Escola de Educação Física, tendo como paraninfo o fundador desse notável estabelecimento de ensino, pioneiro no Brasil, o Cel. Pedro Dias de Campos.

Na reserva, foi nomeado diretor do Museu da Polícia Militar e em 1982, assumiu a presidência da Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados da PM – AORRPM, sendo eleito em mais seis mandatos.

Como presidente de AORRPM defendeu os altos interesses da Corporação. Foi o responsável pela construção da sede da Associação, o Solar da Tabatinguera além de diversas sedes de regionais no Interior do Estado.

Livros publicados:

  • Asas e glórias de São Paulo, em parceria com o Cel. José Canavó Filho
  • O salto na Amazônia
  • Marcos históricos da PM
  • Raízes do militarismo paulista

Fonte: Memórias de um veterano.

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