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Oscar ferreira do carmo

FADIGA V: As organizações e a fadiga

Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

A abordagem tradicional para regular e gerenciar a fadiga da tripulação tem sido baseada em prescrições de limites máximos de horas de voo ou de jornada de trabalho diárias, mensais e até anuais, com a realização de intervalos mínimos requeridos permeando ou após o período de trabalho (ICAO, 2011).

fadiga81Para atender demandas da aviação geral, as organizações submetem a tripulações a jornadas de trabalho irregulares e sem critério cientifico, contrariam o relógio biológico. Isso pode representar um risco para a segurança de voo (LICATI, 2010).

A responsabilidade do piloto e da tripulação na prevenção da fadiga de voo e do risco de acidentes e incidentes por esta causa deveria ser compartilhada com as organizações da indústria da aviação no Brasil – incluindo governo, empresas e dirigentes.

A doutrina de segurança da organização é fator preponderante na prevenção de acidentes, no entanto se não estiver bem sedimentada, normatizada, ou se é ineficaz, concorre para que os tripulantes não se resguardem.

É de se concluir, portanto, que: condições desfavoráveis, distúrbios do sono, problemas de saúde, aliados as escolhas pessoais inadequadas, podem conduzir o aeronavegante a quadros agudos de fadiga, que, se comuns em face de escalas de serviço sem critérios, conduzem a fadiga acumulativa e/ou crônica (KANASHIRO, 2005).

Interferência de aspectos organizacionais

“Reunir indivíduos proficientes e eficazes para formar um grupo ou um conjunto de pontos de vista não implica automaticamente que o grupo funcionará de forma proficiente e eficaz, a menos que eles possam funcionar como uma equipe. Para que eles sejam bem-sucedidos em fazê-lo, precisamos de liderança, boa comunicação, cooperação com a tripulação, trabalho em equipe e interações de personalidade. CRM e treinamento de voo orientado à linha (LOFT ) são projetados para que esta meta seja atingida com sucesso” (FLIGHT SAFETY FOUDATION, 2001. p. 57).

Aspectos organizacionais podem interferir no desempenho dos recursos humanos, na medida em que exercem influência significativa no comportamento individual e coletivo.

A Administração trata cultura organizacional como um conjunto de características-chave que a organização valoriza, um sistema de valores compartilhados pelos membros, quanto mais forte, maior é o impacto sobre o comportamento dos funcionários (ROBBINS, 2005).

Não se trata de regras escritas, mas dos laços que envolvem aqueles que estão inseridos na organização e que pensam de maneira semelhante. As regras e regulamentos formais dão sustentação e coerência à cultura organizacional.

“A cultura organizacional estabelece regras para um comportamento aceitável no local de trabalho, estabelecendo normas e limites. Provê um marco de referência para a tomada de decisões por parte dos gerentes e executores. A cultura organizacional estabelece, entre outros temas, os procedimentos e as práticas de reporte por parte dos operadores: ‘esta é a maneira como fazemos as coisas aqui e como falamos acerca de como fazemos as coisas aqui’”(MARINHA DO BRASIL, 2011, p. 3-4).

fadiga82Para se assegurar que todos caminhem na mesma direção, uma organização com uma cultura organizacional forte deve expandir a amplitude dos controles, diminuir as distâncias na estrutura hierárquica achatando a pirâmide, encorajar o trabalho em equipe (ampliando o CRM, por exemplo), reduzir a formalização, dar mais autonomia aos funcionários e possuir ‘valores compartilhados’ (ROBBINS, 2005).

Segundo Robbins (2005, p. 378), a “cultura organizacional melhora o comprometimento organizacional e aumenta a consistência do comportamento dos funcionários”. Ela se refere à maneira pela qual os empregados percebem as características da empresa e não ao fato dos empregados gostarem ou não da cultura organizacional. Mas aspectos potencialmente disfuncionais da cultura não podem ignorados, por exemplo, as barreiras às mudanças, pois afetam a eficácia da organização.

Tais aspectos quando dissonantes favorecem o aparecimento das subculturas que tendem a evidenciar problemas, situações ou experiências comuns a alguns dos seus membros. Essas subculturas podem ter designações de departamentos ou se construir em virtude de separação geográfica. Uma unidade separada fisicamente do restante pode desenvolver uma personalidade diferente, embora mantenha os mesmos valores essenciais (ROBBINS, 2005).

Aspectos da cultura militar

fadiga83Muitos relatos militares referem-se à fadiga e mostram sua relação com aspectos da cultura militar. Emblemático o relato do general inglês Horrocks na retirada de Dunquerque, que admitiu dois aspectos significativos para a derrota: a exaustão e a humilhação sentidas pela tropa. No início dos combates ele pretendia impor uma imagem de chefe disciplinador, fazendo a tropa desconsiderar a fadiga e repreendia os soldados barbados: ‘em combate a gente está sempre mal dormido; o efeito refrescante de uma boa barba vale por duas horas de sono’ (KELLET, 1987, p. 256).

O mesmo general depois reconheceu que seu raciocínio não estava bom e mencionou que a privação do sono afetava dos mais modernos aos de altas patentes, com exceção do General Montgomery, que durante toda a retirada fazia as refeições na hora certa e nunca deixava de dormir (KELLET, 1987).

Esses relatos demonstram que na organização militar, apesar da doutrina arraigada, podem preponderar aspectos personalíssimos. Nesse caso, uma defesa para a organização é formalizar normas para prevenção da fadiga.

fadiga84As experiências de campo indicam que a motivação e o moral elevado são variáveis importantes e podem compensar os efeitos da privação do sono no desempenho individual (KELLET, 1987).

A organização militar utiliza bem esse conhecimento, no entanto, depreende-se do relato do General Horrocks, que a habilidade do comandante é fundamental para delimitar as ações e evitar o risco da fadiga.

Mas para Rosekind et al. (1996 apud SAMPAIO, 2010) a motivação pode ser perigosa porque essa resolução – a motivação e o moral elevado – teria uma força de recuperação contida e o planejamento e avaliação ineficientes induzem o piloto a estender a missão além do que seria o voo normal.

A análise de acidentes e incidentes em missões militares permitiu identificar que a influência organizacional – denominada causas sistêmicas – foi decisiva para a ocorrência desastrosa. As mesmas influências também foram identificadas em missões com helicópteros. Johnson (2007 apud SAMPAIO, 2010) entende que deve ser dispensada grande atenção aos aspectos mais complexos e sistêmicos da fadiga, sob pena de não haver diminuição no número de acidentes.

As características sistêmicas podem ser consideradas as particularidades da estrutura hierárquica responsável pelas operações aéreas, ou seja, as influências organizacionais exercidas sobre as tripulações, advindas de diferentes níveis da cadeia de comando. Desse modo, Johnson (apud SAMPAIO, 2010) entende que não seria descuido pessoal a ocorrência de fadiga, mas sim fruto de imposições de superiores.

Motivação

O cumprimento do dever para com a sociedade é um dos principais argumentos de motivação para o atendimento de tão variadas missões. A grande maioria delas envolve algum tipo de proteção à sociedade. O bem maior a ser protegido, obviamente, a vida, reforça a necessidade de pronta resposta dos pilotos de helicóptero da PMESP.

Um exemplo interessante de motivação, daquela que objetiva a superação dos próprios limites, consta da publicação de um boletim geral do Quartel General da Força Pública do Estado de São Paulo, de 10 de Setembro de 1932, em virtude da inauguração de dois hangares no Campo de Marte, isso em plena Revolução Constitucionalista.

“O G/M/A/P (Grupo Misto de Aviação da Força Pública do Estado de São Paulo) já conta com uma plêiade de experimentados pilotos, uns saídos da nossa própria milícia, outros, civis, da nossa melhor sociedade, que não contam perigos, não sentem fadiga, não medem impossíveis no cumprimento do dever que o seu patriotismo lhes ditou” (FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1932).fadiga85

Com a ideia de motivar o militar, há uma tendência na PMESP em reconhecer e distinguir atos que demandem técnica apurada, padrões superiores de desempenho e esforço individual em ocorrências ou situações inusitadas.

A aviação da PMESP também está sujeita a essas formas de promover reconhecimento, mas também busca contrabalancear os impactos da motivação com suportes baseados em normatização interna, como a atuação do Conselho de Voo, normatização da aviação civil, filosofia do SIPAER e difusão de doutrinas.

Aspectos da cultura de segurança de voo

A fadiga tem sido relacionada em investigações junto aos fatores humano e operacional. Os relatórios do CENIPA mencionam aspectos de perda de sono e vigília estendida, ritmo circadiano e da carga de trabalho, somados aos aspectos de supervisão.

O CENIPA (2013, p. 14) recomenda às organizações policiais e de defesa civil a atuação “na cultura organizacional, valorizando o comportamento conservativo e o cumprimento dos procedimentos padronizados.”

A normatização aeronáutica traz fundamentos para a cultura difundida entre o pessoal envolvido, lembrando: o comandante é o piloto responsável pela operação e segurança da aeronave e exerce a autoridade decisória, desde o momento que se apresenta para o voo até o momento em que entrega a aeronave (BRASIL, 1986).

O comandante é designado pelo proprietário ou explorador da aeronave e é responsável pelas tripulações no cumprimento da jornada de trabalho, limites de voo, repouso e alimentação (BRASIL, 1986).


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FADIGA VI: O gerenciamento de risco da fadiga

Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

A necessidade de gerenciar o risco da fadiga tem revelado sua importância a partir das significativas perdas, tanto humanas, quanto econômicas, havidas em acidentes e incidentes pelo mundo. Sobre essa necessidade, Rosekind et al. (1996) cita pelo menos 4 acidentes em que a fadiga esteve presente como fator contribuinte: o caso dos petroleiros Exxon Valdez e World Prodigy, o acidente da usina nuclear Three Miles Island e da indústria química de Bhopal e o um defeito nos tanques de combustível que causou a explosão da do ônibus espacial Challenger, revelaram problemas no processo de tomada de decisão.

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A revisão do acidente aéreo de grandes proporções em Guantánamo Bay (Cuba), no dia 18 de agosto de 1993, durante aproximação para pouso de um DC-8 demonstrou que as causas prováveis se deram devido à deficiência de julgamento e tomada de decisão inadequada, influenciados pelos efeitos da fadiga da tripulação, entre outros fatores contribuintes (LICATI, 2010).

Mas os avanços promovidos em pesquisas aplicadas, desenvolvidas a partir de 1980 pela NASA Ames Research Center, já demonstravam cientificamente que a fadiga traz prejuízos ao desempenho do piloto e propunham que fossem adotadas contramedidas (ROSEKIND, 2001).

As autoridades aeronáuticas têm demonstrado a necessidade de  mitigar o risco da fadiga e estudado formas de gerenciá-las. Também diversos pesquisadores no mundo todo apresentam artigos e tecnologias para o problema. Além disso, organizações aéreas buscam suporte doutrinario e prático para minimizar os riscos de seus profissionais apresentarem fadiga produzida em razão da operação.

A ICAO realizou um simpósio sobre fadiga em 2011 e demonstrou formas de gerenciar o problema da fadiga na aviação mundial. São disponibilizadas palestras, documentos, artigos científicos e um guia para implementar o sistema de gerenciamento do risco da fadiga, sendo um voltado para operadores da aviação civil e outro para as agências reguladoras de aviação civil em nível de governo.

O CENIPA criou um grupo de trabalho com especialistas em 2014 com a finalidade de propor metodologia de Investigação da Fadiga Humana nas ocorrências aeronáuticas, baseada em pesquisas seguindo as melhores práticas utilizadas no National Transportation Safety Board (NTSB), Transportation Safety Board (TSB – Canada) e International Civil Aviation Organization (ICAO).

As  Forças Armadas abordam a fadiga de forma parecida em cada força, mostrando a necessidade de estender as formas de prevenir o problema. Os documentos, basicamente, buscam a regulação de horários da tripulação, que é uma parte da tarefa de gerenciar a fadiga, mas já representa um avanço em função das necessidades militares de emprego do homem.

Os modelos biomatemáticos têm sido adotados com maior frequência para a prevenção da fadiga. Um exemplo recente é a parceria entre o Núcleo de Operações e Transporte Aéreo do Espírito Santo (NOTAer) com os Serviços Médicos Especializados (SME) que trouxe um teste de atenção computadorizado como ferramenta de saúde e segurança. (clique e saiba mais)

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A Lei do Aeronauta

A Lei do Aeronauta (1984) regula o exercício da profissão e traz conceitos fundamentais para o trabalho na aviação em geral. A legislação diferencia formas de composição das tripulações, situação importante para o gerenciamento da fadiga em operações prolongadas. São elas: tripulação mínima, simples, composta e de revezamento.

A jornada de trabalho é a duração do trabalho do aeronauta, contada entre a hora da apresentação no local de trabalho e a hora em que o mesmo é encerrado, considerando que a apresentação se dará pelo menos 30 minutos antes e o encerramento 30 minutos após a parada final dos motores.

O repouso é o espaço de tempo ininterrupto (mínimo de 12 horas) após uma jornada em que o tripulante fica desobrigado de prestação de qualquer serviço. Se o tripulante estiver fora da cidade onde mora, serão providenciadas acomodações e transporte entre o aeroporto e local de repouso e vice-versa.

Há previsão de folga de pelo menos 24 horas após 6 dias de trabalho consecutivos. A Lei ainda prevê redução da duração da hora noturna, limitação de horas da jornada de trabalho e número mínimo de folgas.

Comparativamente com outras categorias a lei não reconheceu diferenças significativas em favor dos aeronautas e deu pouca consideração ao processo de produção, mostrado por Itani (1998, apud MORAES, 2001), que considerou o aeronauta parte integrante, pois se houver uma falha na sequência de produção que provoque interrupção, não há como recuperá-la mais tarde e se a pane for irreversível, ele está sempre vulnerável ao risco de ter um acidente fatal.

Mello et al. (2009) comenta que a lei do aeronauta, “não incorporou o grande crescimento que o setor teve no Brasil nas duas últimas décadas e em nenhum momento cita os termos ‘ritmo circadiano’, ‘fadiga’, ‘fisiologia’, etc.”

Smith (1994, apud MORAES, 2001, p. 41) “enfatiza que os trabalhadores com horários irregulares de trabalho, mais especificamente os aeronautas, constituem uma população em desvantagem social.”

Com a pressão das categorias para modernizar a legislação, em 2015, o Senado Federal instituiu uma Comissão de Especialistas, responsável pela elaboração de anteprojeto de reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica, cujo prazo para entrega do texto deve se encerrar em março de 2016.


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Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

CARGA DE TRABALHO

Denota-se relevância à carga de trabalho na ocorrência da fadiga do piloto, pois sua a jornada, em geral, começa muito antes da decolagem com a preparação da aeronave e o planejamento e, normalmente, termina bem depois do pouso (Kanashiro, 2005).

Ademais, as atividades administrativas e operacionais não propriamente de voo são comuns em organizações militares e policiais e sobrecarregam o piloto física e mentalmente.

Mesmo as tarefas monótonas em voo ou em outras atividades podem proporcionar a fadiga por uma carência de estímulos (Kanashiro, 2005). Testes entediantes de longa duração (30 ou 40 minutos), especialmente com alguma privação do sono, demonstram uma queda no desempenho, logo após 5 ou 10 minutos do início do teste (Balkin, 2011).

Kube (2010) considera inevitável que os aviadores estejam imersos em variadas e adversas condições de trabalho que provocam perda progressiva da saúde, prejudica a qualidade de vida e a segurança de voo.

RITMO BIOLÓGICO CIRCADIANO

Os ritmos biológicos mais conhecidos são os circadianos – em torno de um dia ou 24 horas (Mena-Barreto, 2004). A organização temporal dos seres vivos, especialmente do homem, possibilita sua adaptação a fatores recorrentes ambientais (Cippola-Neto, Menna-Barreto, Marques, Afeche & Silva, 1996). No ser humano reconhece-se que o componente circadiano do ciclo vigília-sono é gerado por um relógio biológico que funciona no núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo (Fig. 1) (Mello, Minati & Santana, 2008), localizado na base do cérebro, acima do cruzamento dos nervos óticos, o quiasma ótico.

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O NSQ recebe informação visual direta e tem sensibilidade à luminosidade, gerando maior atividade elétrica durante o dia. Na realidade, o dia biológico do homem é um pouco maior que 24 horas (ICAO, 2011). Os ritmos circadianos mantêm-se mesmo sem marcadores externos ou pistas temporais, como luminosidade, temperatura, sons etc. (Fernandes, 2006).

O ritmo endógeno da temperatura corporal (Figura 2) deve ser o mesmo do desempenho físico e também de outros ritmos fisiológicos, como o cortisol e a melatonina (Mello et al., 2008).

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Figura 2. Ciclo dia/noite e ritmos corporais (adaptação) Nota. Fonte: Comperatore, C. A., Caldwell, J. A. & Caldwell, J. L. (1997). Learder’s Guide to Crew Endurance. United States Army Safety Center. p.34.

A melatonina (Figura 2), secretada pela glândula pineal, é sensível à luminosidade ambiental, tem seu pico de secreção, normalmente das 21 às 7 horas e induz o sono. Acredita-se que a melatonina possa controlar quase todos os ritmos circadianos (Cippola-Neto et al., 1996; Fernandes, 2006; Mello et al., 2008).

O cortisol (Figura 2) é o principal glicocorticoide secretado pelas glândulas adrenais em maior proporção durante o dia, afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos (Guyton & Hall, 1996; Mello et al., 2008). O cortisol parece contribuir para a fadiga, quando influencia na síntese excessiva de proteínas, aumentando a oferta de aminoácidos. Um desequilíbrio na produção/utilização de aminoácidos pode desandar a liberação de neurotransmissores (Kube, 2010).

Também sujeita ao ritmo circadiano, a temperatura corporal apresenta uma curva negativa importante na madrugada e no início da tarde (Mena-Barreto, 2004). A interação entre a pressão homeostática do sono e sua variação circadiana que resulta em dois picos de sonolência em 24 horas, ocorrendo por volta de 3 a 5 horas da manhã e no começo da tarde, das 12 até 15 horas. Se houver alguma restrição ao sono à noite, será muito difícil manter-se acordado à tarde (Moreno, 2004; ICAO, 2011).


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Gerenciamento dos Processos de Negócio – Business Process Management

Major PMESP Oscar Ferreira do Carmo
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP
Comandante da BRPAe Ribeirão Preto

Empresas e governo sofrem pressão da sociedade para se aperfeiçoar e oferecer melhores serviços. Deixar de observar essa cobrança e não desenvolver conhecimento e capacidade pode tornar a organização obsoleta e levar à perda de espaço de mercado.

Toda organização aérea tem uma coleção de processos, mas que poucos conhecem de ponta a ponta. A grande maioria lida apenas com parte deles.

Com o olhar na geração de valor ao cliente e nas melhorias das questões organizacionais, a busca por soluções gerenciais atrativas para a conjunção desses objetivos tem sido direcionada para o gerenciamento dos processos de negócio, do inglês, Business Process Management – BPM (Santos et al, 2014).

A gestão de processos precisa do patrocínio da alta administração da organização. Ela pretende aperfeiçoar e harmonizar das operações, a partir de uma perspectiva interfuncional, ou seja, transpassando as cadeias hierárquicas e de controle em “silos”, para o gerenciamento horizontal, buscando menos perdas de tempo e material, eliminando defeitos e a frustração dos clientes.

Com uma visão holística de organizar, estruturar e guiar a organização, o BPM envolve abordagens, metodologias, estruturas de trabalho, práticas, técnicas e ferramentas, integrando-as e evitando usos isolados, enfim criando uma cultura de processos, reconhecendo o papel-chave das pessoas na entrega de valor aos clientes, utilizando suas habilidades, motivação e conhecimento.

Modelagem de processos de negócio

Um bom início para a gestão de processos é entender como seus processos estão hoje, para então aperfeiçoá-los. A modelagem pode ajudar na visualização gráfica do seu processo.

“A modelagem de processos de negócio é o conjunto de atividades envolvidas na criação de representações de processos de negócio existentes ou propostos” ABPMP (2013). Com a modelagem é possível se demonstrar o processo de ponta a ponta ou uma porção dele.

A intenção de modelar o processo é permitir uma gama de funções, tais como organizar, descobrir, prever, medir, explicar, verificar ou controlar. O detalhamento e tipo dependem da necessidade dos gestores.

Nas representações podem ser usados diagramas, mapas e modelos. A notação é um conjunto padronizado de símbolos e regras. Existem diversas formas de notações como BPMN (Business Process Model and Notation), fluxograma, EPC (Event-driven Process Chain), UML (Unified Modeling Language) e outras.

O BPMN é uma notação muito atual, com crescente aceitação e oferta de softwares gratuitos para, pelo menos, a representação gráfica, como o “Bizagi”. É possível capturar o processo “como está” (“as-is”) e aplicar as práticas de gerenciamento, benchmarking e soluções em tecnologia de informação (TI) para derivar o processo estados futuros “como será” (“to-be”).

Figura – Modelo de mapeamento de processo utilizando BPMN (software Bizagi)

Referências

Association of Business Process Management Professionals (ABPMP). Guia para o gerenciamento de processos do negócio: corpo comum de conhecimento. BPM CBOK  Versão 3.0. (1ª Ed.), ABPMP, 2013.
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Procuradoria Geral da República. (2013), “Manual de gestão por processos. Escritório de Processos Organizacionais do MPF”, [Brasília]: MPF/PGR, [Consulta: 19 Jun 2015]. http://www.modernizacao.mpf.mp.br/bpm/publicacoes/manual-de-gestao-por-processos.pdf
Bresser-Pereira, L. C. (2010). “Os primeiros passos da reforma gerencial do Estado de 1995”. In: D’Incao, M. A.; Martins, H., (orgs.), Democracia, Crise e Reforma: Estudos sobre a era Fernando Henrique Cardoso, São Paulo: Paz e Terra, pp. 171-212.
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FADIGA II: O sono e a vigília prolongada

Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

O SONO

Parece que a falta de sono exerce uma influência importante no surgimento da fadiga, apesar de serem fenômenos distintos (Balkin, 2011).

Existe uma convicção generalizada de que o tempo de sono pode ser cambiável para aumentar a quantidade de tempo disponível para atividades em um estilo de vida agitado. A ciência esclarece que o sono não é uma mercadoria negociável (ICAO, 2011).

fadiga31O sono é uma das mais básicas necessidades humanas. O funcionamento do cérebro acordado e a capacidade comportamental dependem dele em qualidade e quantidade adequadas. O sono pode ser interrompido, não só por processos patológicos, mas também pelo estilo de vida de uma pessoa e por exigências da sociedade. As consequências da interrupção do sono para o indivíduo e para a sociedade podem ser graves, mas reconhecer esse fato ainda é um desafio (Walsh, Dement, & Dinges, 2011).

A alternância da vigília com o sono influência todas as funções do cérebro e do organismo em geral. O sono reinstala ou restaura as condições existentes no princípio da vigília (Velluti, 1996).

Existem diversos estágios do sono, desde o superficial até o muito profundo. Uma constelação de parâmetros fisiológicos distinguem os dois estados: o sono de ondas lentas ou NREM (Non-Rapid Eyes Moviment) e o sono REM (Rapid Eyes Moviment) (Guyton & Hall, 1996).

Com a identificação do sono REM ou de movimento rápido dos olhos por Aserinsky e Kleitman, em 1953, foi possível desencadear uma série de pesquisas e a produção acadêmica teve um aumento notável (Velluti, 1996; Suchecki & D’almeida, 2008).

Durante uma noite de sono normal, o sono NREM e o sono REM se alternam ciclicamente. Esse ciclo dura em média de 90 a 110 minutos, mas com variações (Figura 1a). O hipnograma (Figura 1b) descreve esquematicamente o ciclo NREM/REM de uma noite inteira em um adulto jovem normal.

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Figura 1. Hipnograma de um sono normal (adaptação). Nota. No eixo vertical estão as fases, destacando-se a fase REM no topo e numeradas de 1 a 4, as mudanças dos estágios NREM. No eixo horizontal, as horas de registro. São demonstradas as ondas elétricas do eletroencefalograma (EEG), beta (β: > 13 Hertz) na vigília, ondas teta (θ: de 3 a 7 Hz) no estágio 1, fusos do sono e complexos K no estágio 2, ondas delta (δ: ≤ a 2 Hz) nos estágios 3 e 4, e volta a ser teta (θ: de 3 a 7 Hz), podendo inclusive haver ondas de ritmo alfa (α: de 8 a 13 Hz) no sono REM . Fonte: Pinto, L. R., Jr. & Silva, R. S. (2008). Polissonografia Normal e nos Principais Distúrbios do Sono. In: TUFIK, Sérgio (Org.). Medicina e Biologia do Sono (pp. 161-180). Barueri: Manole. Saladin, K. (2009). Anatomy & Physiology: The Unity of Form and Function (p. 540). (5a ed.). EUA: McGraw-Hill.

O sono real não é tão simplificado como no diagrama (Figura 1b), inclui mais despertares ou micro despertares (3 a 15 segundos), que são transições para o sono mais leve, mas sem fazer acordar por completo (Fernandes, 2006).

Diversos processos fisiológicos são realizados durante o sono, de modo que sua restrição pode provocar mudanças de humor, sonolência aumentada, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração e desorientação. Dependendo do tempo de privação do sono, da carga de trabalho e de demandas visuais impostas, são relatadas distorções de percepção e alucinações, principalmente de natureza visual, em até 80% dos indivíduos normais. Além dos sintomas citados, a restrição de sono em longo prazo sugere risco de obesidade, problemas gastrointestinais (úlceras pépticas, indigestão, azia, flatulência, estômago embrulhado ou prisão de ventre), depressão e ansiedade, diabetes tipo 2, e doenças cardiovasculares (ICAO, 2011).

Outro problema que interfere no estado de alerta e no desempenho é a inércia do sono. Pode ser conceituada como: o comprometimento do desempenho cognitivo, o sentimento de desorientação, sonolência e a tendência de voltar a dormir experimentada logo após o despertar (GOEL; VAN DONGEN; DINGES, 2011).

Esse comprometimento normalmente dissipa-se em minutos depois de acordado, porém a maioria dos pesquisadores acredita que a variação seja de um a 35 minutos. O comprometimento parece ser maior ao ser acordado abruptamente do sono NREM, especialmente dos estágios mais profundos (CALDWELL; PRAZINKO; CALDWELL, 2002).

Operacionalmente, sob o argumento de que a inércia do sono prejudica os pilotos que são acordados de um cochilo ou sono rápido em voo, evita-se considerar que os benefícios desse cochilo, que, por sua vez, podem fazer uma grande diferença na mitigação da fadiga. A ICAO (2011) incentiva essa prática, entendendo que um cochilo de até 40 minutos melhora o alerta e mesmo porque dificilmente o piloto entraria em sono ondas lentas (estágios 3 e 4).

A VIGÍLIA PROLONGADA

A vigília prolongada associa-se à disfunção mental progressiva e tarefas comportamentais anormais do sistema nervoso. O pensamento mais lento e a irritabilidade ocorrem ao final de um período muito estendido mantendo-se acordado, podendo até mesmo, se forçada a vigília, ocorrer atitudes psicóticas (Guyton & Hall, 1996).

Estudos que comparam jornadas de 8 e 12 horas (Figura 2), mostram que o risco de acidentes chega a dobrar na 12ª hora (Folkard & Tucker, 2003).

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Figura 2. Risco relativo médio (adaptação). Nota. Fonte: Folkard, S., & Tucker, P. (2003). Shift work, safety and productivity. Occupational Medicine, 53, 95-101

Outros estudos comparam a vigília prolongada com os efeitos do álcool. Segundo Dawson e Reid (1997) 17 horas de vigília sustentada foi equivalente ao comprometimento observado em uma concentração de álcool no sangue de 5%.

Depois de manter 24 horas em vigília o comprometimento pela fadiga se equiparou ao déficit causado pela concentração de 10% de álcool no sangue (Figura 3).

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Figura 3. Comparação dos efeitos do álcool e vigília (adaptação). Nota. Fonte: Dawson, D., & Reid, K. (1997, julho) Fatigue, Alcohol and Performance Impairment. Nature, 388, 235.

Outro importante aspecto foi o estado de alerta e suas alterações em virtude do tempo acordado.

Longas jornadas em horários específicos podem aumentar o risco de acidentes, tendo em vista o declínio acentuado do estado de alerta (Belyavin & Spencer, 2004).


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FADIGA I: Como começou e sua natureza

Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

COMO COMEÇOU

Há um fascínio natural pela aviação. A perícia e a coragem dos pilotos aliam-se a tecnologia das aeronaves, reforçando esse glamour. Entretanto essa atmosfera não disfarça certa desconfiança na segurança que é estampada. Com razão, os profissionais da aviação buscam conhecer os óbices que podem surgir em cada voo e desenvolver contramedidas no intuito de mitigar riscos.

fadiga1Na aviação os fatores humanos se destacam nas investigações de acidentes e incidentes. Tomadas de decisões inadequadas e erros de julgamentos tendem a conduzir a procedimentos perigosos, muitas vezes, com a crença de se estar fazendo o correto.

Mas, a pressão por agir dessa ou daquela forma, muitas vezes, sofre interferências importantes oriundas externamente, como a pressão por produtividade e por desempenho, que induz o trabalho contínuo por 24 horas – uma necessidade da sociedade atual (Fischer, Moreno & Rotenberg, 2004).

Assim o ser humano precisa de uma série de adaptações físicas e psicológicas para responder às implicações desse tipo de atividade contínua, porém nem sempre chega a um nível satisfatório (Mello, Noce, Kouyomdjian & Tufik, 2009).

fadiga2As atividades de segurança pública e defesa civil são imprescindíveis à sociedade. Em que pese incorporar tecnologias modernas, dependem fortemente de seus recursos humanos. Diversas corporações combinaram suas atividades com a aviação de asas rotativas. Os helicópteros desempenham um papel sem substitutos, mas com riscos inerentes às duas profissões: a de policial ou bombeiro e a de piloto.

Mas o que é a fadiga e quais as consequências e desafios para a aviação e para seus gestores?

A fadiga é um fenômeno complexo, de difícil definição, que tem merecido pesquisas desde o início do século passado, época em que se pretendia aumentar o desempenho humano e da produtividade.

Como os efeitos da fadiga são capazes de restringir o voo, o objetivo é explorar as influências desse fenômeno atividade de piloto de aeronaves de segurança pública e defesa civil, colher a percepção dos pilotos quanto à presença ou ausência de fadiga e analisar formas de gerenciamento.

fadiga3No início do Século XX, Gilbreth e Taylor estudaram a fadiga com o objetivo aumentar a produtividade e especialização. A administração científica de Taylor introduziu princípios que mudariam a forma de produção e a concepção de trabalho da época (Chiavenatto, 2003).

Durante a Primeira Guerra Mundial, a fadiga era uma das consequências mais evidentes geradas pelas exigências físicas e psicológicas da campanha. Um soldado relatou que durante um ataque, quando se jogava ao chão para se proteger, um companheiro pegava imediatamente no sono e tinha que ser cutucado com a coronha do fuzil para novo avanço da fileira (Kellet, 1987).

fadiga4As preocupações com a fadiga por tempo na tarefa principiaram a regulamentação dos transportes norte-americanos (inclusive da aviação) e adequação dos requisitos de pausas e intervalos para descanso durante o trabalho (Gander, Graeber & Belenky, 2011).

A partir de 1980 pesquisadores da NASA iniciaram estudos com objetivo de determinar a extensão da fadiga, seus efeitos na tripulação e desenvolver contramedidas (Rosekind, Gander, Connel, & Co, 2001).

NATUREZA DA FADIGA

A fadiga é uma condição restritiva para a continuidade do trabalho e embora a fisiologia apresente variadas hipóteses para explicá-la, ainda não existe um conhecimento consolidado, vez que a fadiga parece sofrer interferências em duas frentes, uma física e outra mental ou psicológica (Kube, 2010).

fadiga21Gander et al. (2011) entendem que a fadiga é o resultado de demandas de trabalho que excedam a capacidade de desempenho momentâneo, devido à inadequada recuperação. Os fatores que afetam a performance incluem: flutuações no ciclo diário do relógio biológico circadiano, a restrição do sono e a relação tempo na tarefa e de sono.

Rosekind et al. (2001) consideram fadiga como um termo genérico para uma variedade de diferentes experiências subjetivas, tais como, o desconforto físico após o excesso de exercícios ou o trabalho de um determinado grupo de músculos, a dificuldade concentração durante uma tarefa monótona, a dificuldade de valorar sinais potencialmente importantes durante longas ou irregulares horas de trabalho ou a simples dificuldade de se manter acordado.

fadiga22A Internacional Civil Aviation Organization (ICAO) considera a fadiga como ‘o estado fisiológico de redução da capacidade de desempenho físico ou mental, resultante da falta de sono, vigília estendida, fase circadiana e/ou carga de trabalho, que pode prejudicar o estado de alerta e a habilidade de operar com segurança uma aeronave ou desempenhar tarefas relativas à segurança’ (ICAO, 2011, cap. 2, p.1).

Partindo da conceituação de fadiga da ICAO (2011), a abordagem dos fundamentos do sono, da vigília prolongada, dos ritmos circadianos e da carga de trabalho, pode favorecer os gestores da organização e o próprio piloto no controle e mitigação do risco.

Tais fundamentos serão discutidos nos próximos capítulos.

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Coordenação Operacional embarcada em helicóptero

Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea da PMESP
Comandante da BRPAe Ribeirão Preto

A velocidade das informações no mundo contemporâneo, advinda de pesquisas e inovações tecnológicas, tem proporcionado transformações na sociedade, na economia, no ensino e em diversas outras atividades, exigindo das instituições habilidades para desenvolver novas técnicas e adaptar seus produtos e serviços às novas exigências, sempre pensando na eficiência e eficácia, com geração de valor ao usuário.

A dificuldade de previsão do futuro, as mudanças sociais, as incertezas no mundo econômico e político, formam um cenário ideal para o desencadeamento de crises de toda ordem. Com as crises evoluem os conflitos, o recrudescimento do crime, as ocupações desordenadas do espaço e, por consequência, as demandas junto ao Poder Público.

Ações de pequeno porte adquirem repercussão política e divulgação na mídia internacional, o chamado ‘efeito CNN 1 , o que torna ultrapassada a rígida compartimentação dos níveis decisórios das organizações (VISACRO, 2015).

Diante do aumento da complexidade operacional na década passada, as Polícias rapidamente buscam ajustar funções e níveis de comando para fazer frente aos óbices da segurança pública. Um exemplo da Polícia Militar do Estado de São Paulo foi a criação da coordenação operacional 2.

As Polícias também acompanham o desenvolvimento tecnológico, a exemplo das informações sobre o posicionamento de guarnições policiais, comunicação digital, soluções de monitorização por câmeras terrestres e imageadores embarcados em helicópteros e veículos, e modernos centros de operação. Muitas iniciativas têm sido apoiadas por verbas federais, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP).

O aperfeiçoamento dos sistemas de comando e controle (C2), a redução de ciclos decisórios com a delegação de competência, autonomia e liberdade de ação, a diminuição da tendência ao microgerenciamento , tudo isso com o suporte de tecnologias de informação (TI) adequadas, deve ser a meta dos comandos modernos (VISACRO, 2015).

Segundo Scachetti Jr (2014), o C2 melhora o processo decisório, possibilitando a tomada de decisão mais acertada e oportuna. Há necessidade de estrutura de apoio (o controle) para possibilitar ao comando uma visão clara e real da situação e do cenário, assim como dos recursos à sua disposição.

Visacro (2015) defende a filosofia de Mission Command, introduzida recentemente na doutrina do Exército dos Estados Unidos e sugere a redenção dos aspectos humanos e organizacionais na função de comando e controle (C2), pois são “exigidos para a condução eficaz das operações […] e o pleno exercício do comando por líderes capazes, em todos os níveis hierárquicos, numa era caracterizada por ambientes voláteis, incertos, complexos e ambíguos”.

Se tecnologia por si só não é capaz de dirimir conflitos ou tomar decisões que irão impactar na resolução deles ou nas ações da Polícia, pode sim, ser um excelente elemento facilitador. O próprio Visacro (2015) admite que “o cerne do problema não se encontra no célere, irreversível e imprescindível […] incorporação de novas tecnologias […] Está no uso que se pretende dar a essa tecnologia e, sobretudo, no tipo de homem que irá empregá-la”.

Ampliar a capacidade de coordenação operacional parece fundamental diante das adversidades interpostas aos comandantes. A coordenação operacional em grandes operações, em ações táticas especiais ou mesmo em ocorrências locais de alta complexidade, pode exigir dos comandantes, visão panorâmica e capacidade de mobilizar veículos, patrulhas e equipamentos.

A consciência situacional e o processo decisório, imunes ao microgerenciamento 3, sugerem facilitar o trabalho de comando e controle, além de permitir aos escalões subordinados uma autonomia maior, sem se perder a intenção do comando.

Assim, tendo como referência o exército dos Estados Unidos da América, cuja expertise em ações de combate é inquestionável, inovou com o uso de helicópteros como posto de comando na Guerra do Vietnam, em 1963, fato ampliou a capacidade de gerenciar todo o contexto da batalha e não tolheu a iniciativa dos oficiais subordinados em terra (DUNSTAN, 2003).

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Figura 1 – General Van Harlingen (sentado) inspeciona sistema de comunicações no helicóptero de comando.

O deficiente planejamento de integração é relatado em diversas operações militares (TAYLOR, 2015), mas também ocorre quando interagem modalidades diferentes da PMESP, inclusive com as operações aéreas.

Segundo Taylor (2015) “os comandantes conhecem as vantagens que o apoio aéreo pode proporcionar […], mas deixam de incluir os fundamentos da coordenação com as unidades aéreas no adestramento de suas unidades”, dessa forma, a falta de familiaridade e integração leva ao comprometimento da missão e resultados abaixo do esperado.

Utilizando como referência o exército dos Estados Unidos da América, o mais poderoso e experiente do mundo contemporâneo, desde a Guerra do Vietnã (KEITHLY; FEBBRIS, 2000; DUNSTAN, 2003), passando pelas batalhas na Somália, retratadas por Bowden (2010) no livro e filme de mesmo nome, “Black Hawk Down”, operações de guerra e contra guerrilha urbana no Iraque (A2C2S…, 2003) e no Afeganistão, além de ações de tropas especiais combinadas com a Agência de Inteligência Central americana (Central Intelligence Agency – CIA), foram utilizados postos de comando aéreos.

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Figura 2 – UH-60L Black Hawk equipado com Army Airborne Command and Control System (A2C2S) da Raytheon Co.

O EUA usam modernos sistemas de comando e controle embarcados em aeronaves, como o Army Airborne Command & Control System (A2C2S), formados por cinco estações de trabalho, com sistemas militares de comando e controle, inteligência, defesa eletrônica e aérea, comunicações e apoio de fogo, embarcados em um helicóptero Sikorsky Black Hawk.

Usados na Operação Liberdade no Iraque, segundo a fabricante (Raytheon Co.) o sistema foi testado para uso civil da Guarda Nacional americana e defesa civil na coordenação de catástrofes, tais como a destruição por furacões e tornados e na proteção de fronteiras e defesa nacional (homeland security) (A2C2S…, 2003).

Como nota, os últimos conceitos de tecnologia de comando e controle, evolução de C2, são os C4ISTAR (da sigla em inglês que designa comando, controle, comunicações, computador, inteligência, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento).

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Figura 3 – Esquema do A2C2S

Guardadas as devidas proporções, podem-se vislumbrar situações na realidade operacional das Polícias no Brasil onde caberia tal inovação.

Deve-se considerar a pesquisa do conceito de comando e controle (C2), num modelo com o coordenador operacional e parte do Estado Maior embarcados, tomando as decisões com o aporte de um sistema semelhante em aeronave de médio porte e tecnologia acessível (imageador infravermelho, comunicação, georeferenciamento de patrulhas, veículos, moving maps).

A visão panorâmica permite o sincronismo das ações em eventos complexos, operações em áreas de interesse da segurança pública (AISP), como as favelas,e também em cercos, rebeliões, reintegrações de posse, catástrofes, eventos esportivos.

Aliar o elemento humano e aspectos organizacionais a mais moderna tecnologia depende de capacitação dos profissionais, da adequação da tecnologia e de um método facilitador, no qual a disciplina de Gestão de Processos pode ser sendo introduzida (ABPMP, 2013). A capacitação pode ser desenvolvida por simuladores.

Diversas vantagens concorrem para a conveniência da coordenação operacional embarcada em helicóptero, entre eles:

1) o comando direto com auxílio das comunicações, menor tendência de microgerenciamento;

2) a visão panorâmica das equipes policiais e sua evolução no terreno, visão ampliada com equipamentos infravermelhos, de imagem e de georreferenciamento;

3) ter a assessoria direta do EM embarcado (operações e inteligência, pelo menos);

4) a vantagem do emprego de helicóptero multiuso de médio porte, com tecnologia adequada em kits de fácil montagem e remoção, próprias para esse tipo de missão e a inovação do modelo de C2 em termos de Polícia.


NOTAS

[1] Referindo-se à emissora de televisão norte-americana.

[2] Para fins desse artigo a função de coordenação operacional será considerada uma função de comando, podendo ser assumida no teatro de operações por Oficial Superior de qualquer patente, conforme a complexidade da intervenção. Na PMESP é uma função exercida por um Coronel com visão estratégica para toda a Corporação e por Major nos batalhões, mesclando a estratégia local com forte presença tática.

[3] O microgerenciamento é um estilo de gestão em que o gerente exerce um controle excessivo sobre o trabalho de sua equipe, envolvendo-se demasiadamente com os detalhes de cada tarefa (SIQUEIRA, 2010).


REFERÊNCIAS

A2C2S Supports Troops in Iraq with Combat Command and Control. Defense-Aerospace. Neuilly Sur Seine (France). Edição do dia 31/10/2003. Disponível em:< http://www.defense-aerospace.com/articles-view/release/3/28091/us-army-tests-airborne-c2-in-iraq-(oct.-31).html>. Acesso em 27 Ago, 2015.

ASSOCIATION OF BUSINESS PROCESS MANAGEMENT PROFESSIONALS (ABPMP). BPM CBOK: Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio, Corpo Comum de Conhecimento, ABPMP CBOK V 3.0, 1ª Ed., 2013.
BOWDEN, M. Black Hawk Down: a story of modern war. New York: Groove Press. 2010.

DUNSTAN, S. Vietnam Choppers: Helicopters in Battle 1950-1975. Oxford: Osprey Publishing, 2003.
KEITHLY, D. M.; FERRIS, S. Auftragstakitk, ou Controle Diretivo, em Operações Conjuntas, Combinadas e Interaliadas. Military Review, Edição Brasileira, 2º Quad, 2000, p. 24 e 25.

SCACHETTI JR, P. L. Sistema de comando e controle: análise conceitual e perspectiva de utilização conjunta pela Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil do Estado de São Paulo. São Paulo: Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores. PMESP. 2014.

SIQUEIRA, J. Micro gerenciamento: como se livrar da obsessão pelo controle excessivo. Disponível em:<http://criatividadeaplicada.com/2010/03/28/micro-gerenciamento-como-se-livrar-da-obsessao-pelo-controle-excessivo/>. Acesso em 18 Ago, 2015.

TAYLOR, R. Planejamento e Integração nas Operações Aeromóveis. Doutrina Militar Terrestre em Revista, 7ª Ed., 2015, p. 48-57. Disponível em:< http://www.cdoutex.eb.mil.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=1196>. Acesso em 18 Ago, 2015.

VISACRO, A. Superando o Caos: a função de combate comando e controle além da Tecnologia da Informação. Military Review, Edição Brasileira, Julho-Agosto, 2015, p. 70-88. Disponível em:<http://www.joomag.com/magazine/military-review-edi%C3%A7%C3%A3o-brasileira-julho-agosto-2015/0483313001434382791>. Acesso em 18 Ago, 2015.


SAIBA MAIS:

CICC – O legado da Cooperação


Estudo da fadiga na pilotagem de helicópteros

OSCAR FERREIRA DO CARMO

O que pode fazer com que um piloto capacitado, com excelente formação, demonstrando estar nas melhores condições psicofisiológicas cometa um erro de julgamento ou tome uma decisão inadequada e ocasione um acidente? A fadiga pode ser uma das respostas (KANASHIRO, 2005, p.335).

A dúvida inicial da citação pode guiar o leitor para uma gama de ilações sobre a proficiência, o treinamento, a capacitação do piloto e outras. É bem possível que não se dê conta de um problema corriqueiro, que surge nas mais diversas ocasiões e profissões, o esgotamento pela fadiga.

O voo de helicóptero em missão de segurança pública e defesa civil gera tantas estimulações sensoriais (riscos da ocorrência, obstáculos, comunicações externas e internas, performance e parâmetros da aeronave), físicas (vibrações, frequências, ruídos) e mentais (excesso de trabalho intelectual e psíquico) que após uma hora de voo, o piloto normalmente desembarca extenuado, fadigado.

As jornadas de trabalho prolongadas ou irregulares, turnos durante a noite e missões inopinadas atuam negativamente não só no corpo, mas também na vida profissional, familiar e social. As imposições da Organização e o trato diário com o perigo geram ansiedades e estresse que podem deprimir o organismo e prejudicar processos mentais.

Além disso, a formação militar aliada à causa nobre de servir a sociedade, muitas vezes como último recurso disponível, serve de motivação ao piloto de helicóptero da PMESP para estender seus limites, beirando a situação de ter a eficiência operacional comprometida.

Para entender o problema buscou-se responder as seguintes questões norteadoras para esse trabalho:

a) O que é fadiga? Quais fatores influenciam a atividade aérea?
b) Quais os mecanismos da fadiga e as consequências para os pilotos de helicóptero?
c) Como trata a questão da fadiga a cultura militar, a cultura organizacional da PMESP, o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) e a Lei do Aeronauta?
d) Como é o regime, rotinas e particularidades do trabalho do piloto de helicóptero da PMESP?
e) Como se desenvolvem estratégias para gerenciar o risco da fadiga?
f) Qual a percepção dos pilotos de helicóptero da PMESP sobre a fadiga?
g) Fatores como idade, tempo de serviço e experiência de voo; escala e sua variabilidade; escolhas pessoais (álcool, fumo, prática de exercícios físicos), IMC e o conhecimento sobre o tema influenciam a ocorrência de distúrbios do sono e de fadiga?

O problema de pesquisa é definido da seguinte forma: a aviação policial combina duas atividades diferentes – a pilotagem de helicóptero e as missões específicas de segurança pública e de defesa civil – em condições limiares para a segurança de voo. Fatores como experiência, condição física, variabilidade e imprevisibilidade de horários e condições de voo e necessidade do cumprimento da missão, sugerem a ocorrência da fadiga do piloto, sujeitando-o a riscos à saúde e à segurança.

Estabeleceu-se como objetivo principal determinar qual a percepção da fadiga que afeta os pilotos e que pode influenciar a atividade de pilotagem de helicóptero da PMESP.

Os objetivos específicos da pesquisa eram:

a) Levantar informações a respeito da fadiga humana e suas consequências para os pilotos de helicóptero da PMESP.
b) Identificar quais fatores da fadiga influenciam a pilotagem de helicóptero da PMESP, a rotina de trabalho e a vida cotidiana do piloto.
c) Comparar as normas legais sobre o regime de trabalho dos aeronautas, dos aeronavegantes militares e da PMESP com foco no gerenciamento da fadiga.
d) Pesquisar estratégias para mitigar o risco da fadiga na aviação civil e militar, nacional e estrangeira.
e) Determinar a percepção subjetiva dos pilotos de helicóptero da PMESP sobre a fadiga humana e suas consequências para a atividade policial-militar e para a aviação.

As justificativas para o presente trabalho iniciam-se pela necessária missão de se compreender a fadiga, um problema corriqueiro e da natureza humana, como um fator a influenciar o piloto nas suas tarefas diárias.

Ao piloto de helicóptero somam-se às cargas físicas e mentais do exercício da pilotagem de uma aeronave, as tensões proporcionadas pelo trabalho policial, aeromédico e de salvamento e pelas variadas missões de defesa civil.

A relevância social está em demonstrar que o piloto de helicóptero da PMESP, responsável por missões imprescindíveis à sociedade, tem grande propensão à fadiga, situação esta que pode favorecer o risco de acidentes e incidentes aeronáuticos.

A pesquisa do marco teórico indica a participação da Organização na propensão à fadiga, embora ela tenha a responsabilidade de salvaguardar e de delimitar a rotina dos pilotos de helicóptero, além de introduzir técnicas e práticas para mitigar o risco da atividade e regras para limitar a decisão do piloto.

O valor teórico da pesquisa reside na inexistência de elemento normatizador do gerenciamento do risco da fadiga na PMESP e as informações com ela obtidas podem subsidiar no futuro um sistema próprio para a atividade policial, abrindo a possibilidade de outras explorações na área de segurança de voo.

Como utilidade metodológica a pesquisa ajuda a fixar o conceito do risco da fadiga na atividade do piloto de helicóptero da PMESP, propiciando também a criação de um instrumento próprio de pesquisa ou de tema a ser adicionado aos instrumentos da segurança de voo, tais como o relatório de prevenção e o treinamento de Crew Resource Management (CRM).

Convém ressaltar que a fadiga pertence à categoria dos fatores humanos que são os líderes dos contribuintes para acidentes aeronáuticos. No panorama da aviação brasileira 2002-2011, de asas rotativas do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), por exemplo, o “julgamento” figura em 54,8% na incidência de fatores contribuintes dos acidentes ocorridos e a “supervisão” em 48,1% dos casos. O julgamento do piloto pode ser influenciado por diversos fatores, entre eles a condição de fadiga. A supervisão refere-se à deficiente administração dos dirigentes da Organização.

Há recomendações de segurança operacional, emitidas pelo SERIPA IV, ao GRPAe “João Negrão”, no sentido de que fosse confeccionada e formalizada legislação interna, aos moldes da Lei do Aeronauta, amparando o exercício da atividade aérea, de forma a orientar e coibir erros e excessos de jornada de trabalho, ainda no planejamento das missões. Tal recomendação se deu após investigação do incidente grave que envolveu o avião PT-LMU, pilotado por pilotos da Unidade, que derrapou na pista de terra do aeroporto da cidade de Garça (SDGC).

Foram determinadas as seguintes hipóteses:

H1: Os pilotos de maior idade e experiência profissional têm maior propensão à fadiga e a problemas relativos ao sono.
H2: O regime de trabalho, variabilidade e deslocamentos, aspectos que marcam rotina atual do piloto de helicóptero da PMESP favorecem uma condição maior de fadiga e a problemas relativos ao sono.
H3: Escolhas pessoais como fumo e álcool, bem como o pior condicionamento físico do piloto de helicóptero da PMESP favorecem uma condição maior de fadiga e a problemas relativos ao sono.
H4: O desconhecimento da natureza da fadiga leva os pilotos de helicóptero a desconsiderar limitações físicas e medidas preventivas, bem como a uma menor percepção subjetiva da fadiga e de problemas relativos ao sono.

O presente estudo descritivo trata-se de uma pesquisa não experimental, desenvolvido em corte transversal, com levantamento de dados proporcionados pelos indivíduos selecionados na amostra, por meio de um instrumento de pesquisa padronizado e como o estudo e interpretação da literatura de suporte.

A estrutura desse trabalho é formada por quatro grandes itens:

O primeiro trata de pesquisa bibliográfica e documental dos fundamentos teóricos da natureza da fadiga, seus fatores contribuintes e seus efeitos na aviação. Também explicita os aspectos das organizações e sua interferência colaborativa para o surgimento do problema da fadiga.

O segundo item descreve os materiais e métodos utilizados, sendo qual a população foco, nesse caso os pilotos de helicóptero do Grupamento de Radiopatrulha Aérea “João Negrão” (GRPAe) da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). O instrumento de pesquisa e suas características, bem como os procedimentos executados para a realização da pesquisa e a coleta dos dados.

O terceiro item descreve todos os resultados obtidos da observação da rotina dos pilotos de helicóptero e as interações com a Organização, bem como os obtidos com o instrumento de pesquisa.

O quarto item do trabalho faz as discussões necessárias sobre os resultados apresentados, confrontando com a fundamentação colhida no marco teórico.

O quinto e último item transcreve as conclusões, recomendações e limitações dessa pesquisa.


Para ler o trabalho clique em:

MONOGRAFIA


Autor: Oscar Ferreira do Carmo é Major da Polícia Militar de São Paulo e Comandante da Base de Radiopatrulha Aérea de Ribeirão Preto.

1º Simpósio Regional de Segurança Operacional na Aviação do Centro Oeste Paulista

A prevenção de incidentes e acidentes aeronáuticos estará em pauta no 1º Simpósio Regional de Segurança Operacional na Aviação do Centro Oeste Paulista, realizado pela Instituição Toledo de Ensino (ITE), no dia 23 de outubro, das 8h30 às 17h. O evento, que comemora o Dia do Aviador, reunirá a comunidade e as principais entidades aeronáuticas do Interior do estado de São Paulo para debater questões de interesse da aviação no auditório da ITE.

O Simpósio tem como objetivo dar amplo conhecimento e difundir preceitos mundiais relacionados à segurança de voo, bem como desenvolver na comunidade aeronáutica uma dedicação primeira na prevenção de incidentes e acidentes aeronáuticos.

Com o intuito de facilitar, divulgar e trocar experiências na área de Segurança Operacional será organizado este evento, onde serão convidados a participarem os profissionais envolvidos com a segurança operacional, alunos (cursos de pilotos, comissários, mecânicos), operadores aéreos, pilotos executivos, proprietários de aeronaves, aeroclubes, escolas de aviação, Daesp, prefeituras, Infraero, companhias aéreas, oficinas de manutenção e interessados no assunto.

A Resolução nº 106 da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) recomenda que os P-PSAC (Pequenos Provedores de Serviços da Aviação Civil) devem incluir no mínimo um evento anual de conscientização em segurança operacional, além de atividades promocionais, de maneira a criar um ambiente no qual os objetivos e metas de segurança operacional da organização possam ser atingidos.

Serviço

As inscrições podem ser feitas até o dia 15 de outubro pelo site www.cienciasaeronauticas.net. A ITE Bauru fica na Praça 9 de Julho, 1-51, Vila Falcão.

Mais informações: facebook.com/itecienciasaeronauticas, [email protected] ou pelos telefones (14) 2107-5044 e 2107-5057.

Programação
Data: 23 de Outubro de 2013

Fonte: Ciências Aeronáuticas

 

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