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Perigo aviário

Risco Aviário, um perigo para a Aviação

HILTON RAYOL

A aviação tem vivenciado severas consequências quando acontecem eventos que envolvem colisão com pássaros durante as operações de pousos e decolagens. O perigo que essas aves oferecem permanecendo nas proximidades dos aeroportos é iminente. Trazem sérios impactos aos custos das organizações, pois envolvem interrupção do voo e indisponibilidade da aeronave, além dos custos relacionados ao dano material e/ou pessoal causado pela colisão.

Além dos custos diretos que envolvem a substituição de peças danificadas pelo impacto existem ainda os custos indiretos, que são os custos que não envolvem a aeronave, mas que são decorrentes do incidente, como: hotel de pernoite para os passageiros, realocação em outros voos, comissária desperdiçada, combustível alijado, atrasos nas conexões e ainda o valor que a aeronave deixa de arrecadar por estar parada (MENDONÇA, 2005)

Vamos iniciar trazendo o conceito do perigo aviário.

“Perigo aviário é o risco potencial de colisão com ave ou bando de aves, no solo ou em determinada porção do espaço aéreo. O risco de acidente aeronáutico causado por colisão com aves é composto de duas variáveis: a probabilidade de colisão e a gravidade da colisão”.

Este conceito possui duas características interessantes sempre presentes na aviação – o perigo e o risco.

O perigo sempre será uma ameaça que provoca danos que possam acarretar ferimentos, doenças ou morte de pessoas, prejudicando um sistema, equipamento ou danos a propriedade e principalmente ao meio ambiente.

O risco apresenta como característica, duas variáveis: a severidade e a probabilidade, ou seja, a combinação delas apresenta-se como a pior condição possível, pois na medida em que se aumenta essas condições, permite-se que eventos indesejáveis venham acontecer, interferindo na segurança do voo e trazendo sérios problemas às operações aéreas.

A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) iniciou a coleta de dados sobre o evento Bird Strike em 1965 e em 1980 implementou o Bird Strike Information System (IBIS), um sistema de coleta e divulgação das informações sobre colisões de aeronaves com aves (MADEIREA; MARTOS, 2013).

No Brasil o órgão responsável pela coleta desses dados e preparado para dar apoio à criação de planos de prevenção no Brasil é o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).

De acordo com alguns estudos que o CENIPA vem realizando, surgiram informações relevantes sobre estas colisões. Uma delas apresenta as áreas que são mais atingidas durante as decolagens e pousos. Conforme a figura abaixo, a maioria das colisões ocorreu durante as decolagens (25%) e pousos (26%). Para que não sejam necessários complexos trabalhos com a dispersão, captura ou abate da fauna, um bom trabalho de modificação do ambiente e remoção dos focos atrativos de fauna garante mais eficiência na redução de aves próximas a aeródromos em operação. A aviação civil enviou 95,23% das fichas ao CENIPA.

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A Lei nº 12.725/2012 estabeleceu algumas inovações interessantes, uma delas trata da Área de Segurança Aeroportuária – ASA. Ela é definida como uma área circular do território de um ou mais municípios, definida a partir do centro geométrico da maior pista do aeródromo ou do aeródromo militar, com 20 km de raio, cujo uso e ocupação estão sujeitos a restrições especiais em função da natureza atrativa da fauna.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da Resolução nº 004/95, estabelece o conceito de “implantação de Natureza Perigosa” e determina a sua proibição nas áreas de Aproximação e Áreas de Transição dos Aeródromos e Helipontos.

Não é permitida a implantação de atividades de natureza perigosa, isto é, aquelas classificadas como foco de atração de pássaros, tais como matadouros, curtumes, vazadouro de lixo e culturas agrícolas que atraíam pássaros, assim como quaisquer outras atividades que possam proporcionar riscos semelhantes à navegação aérea.

Lixo no entorno do aeroporto do Galeão atrai urubus, que voam próximo aos aviões (Marcelo Martins/VEJA)
Lixo no entorno do aeroporto do Galeão atrai urubus, que voam próximo aos aviões (Marcelo Martins/VEJA)

Segundo levantamento estatístico realizado pelo CENIPA em 2015, houve um número significativo de eventos reportados durante as operações de pousos e decolagens.

O Anuário de Risco de Fauna 2015 reportou 1.824 colisões, 1.083 quase colisões e 2.634 avistamentos. O documento destaca que 5% das colisões envolveram animais terrestres que, normalmente, causam maiores danos em relação a colisão com ave, porém menos representativos quanto a segurança da operação, pois ocorrem em solo e em fases do voo onde se opera com velocidades reduzidas. A figura abaixo apresenta os índices de colisões reportadas e os registro das aeronaves envolvidas.

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Entre 2011 e 2015, foram registradas no SIGRA (Sistema de Gerenciamento de Risco Aviário) uma em cada três colisões (29,34%) e geraram custos aproximados de US$ 65 milhões na aviação brasileira, assim podemos dizer que a base de dados brasileira tem melhorado, mas ainda há espaço para evoluir. Mesmo assim verifica-se um número significativo de eventos reportados durante este período e que trouxeram sérias consequências para as operações áreas.

Essas consequências estão relacionadas a continuidade do voo, e em relação à severidade das colisões, existe consenso que a massa total envolvida na colisão tem alta correlação com danos causados às aeronaves (ALLAN, 2006; PATON, 2010; ANAC, 2015).

A colisão com aves pode resultar perdas materiais e por vezes vitimar seres humanos. Esse evento está relacionado ao momento resultante do impacto de um pássaro, variando conforme o peso da ave e a velocidade da aeronave.

Estatísticas realizadas revelam que 70% a 80% das colisões com pássaros ocorrem entre o solo e 150 metros de altura, na vizinhança do aeródromo.

Os dados disponíveis demonstram que 33,3% das colisões ocorrem com aeronaves de caça, 28,2% com aeronaves de transporte de carga, 21,6% com aviões de treinamento e 16,9% com outros tipos (Flying Safety – September 1986).

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A figura acima demonstra a gravidade que essas aves podem causar quando próximas a um motor turbofan. Essa ingestão apresenta alguns aspectos relevantes, a saber:

  • A ingestão pelo motor poderá causar estragos diversos, dependendo das circunstâncias do impacto. Nos motores a jato, poderá ocorrer apenas mossas nas lâminas do “fan” ou do próprio compressor.
  • O estrago causado pelo impacto pode gerar uma vibração, aumentar a temperatura dos gases, causar o “stall” de compressor, fogo no motor e/ou colapso total do reator.
    Outro detalhe interessante que devemos levar em consideração é a possibilidade do pássaro não danificar as palhetas do compressor, mas bloquear a entrada de ar, ocasionando o “stall” do compressor por falta de ar ou pelo turbilhonamento do fluxo de ar.
  • A fase mais crítica de ingestão de pássaros pelo motor ocorre na decolagem. Durante essa fase crítica do voo, é essencial que o piloto reconheça a situação de emergência o mais rápido possível, para que possa efetuar os itens previstos nos procedimentos.
  • Considerando que a maioria das colisões ocorrem nas operações de pouso e decolagem, muitas providências poderão ser colocadas em ação, visando a sua redução e, consequentemente, obtendo-se um incremento da segurança de voo.

Assim, é importante que se crie mecanismos que sejam eficientes e possam coibir essas colisões com aves durante as operações aéreas. Nesses processos os municípios tem grande responsabilidade, pois são eles que gerenciam a coleta dos dejetos, assim como o descarte dos resíduos sólidos e devem respeitar exigências do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, coordenado e elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente.

É uma condição fundamental para a segurança da aviação a mobilização de todos os setores que estão envolvidos nesse processo para que encontrem soluções que possam mitigar os riscos, diminuindo sua severidade e probabilidade.


Autor: Piloto de Linha Aérea; Bacharel em Aviação Civil pela Unicesp Brasília; MBA em Gestão Aeroportuária; Pós-graduação em Segurança de Voo e Aeronavegabilidade Continuada pelo ITA; Curso de Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional SGSO pela ANAC; Pós-graduando em Gestão e Direito Aeronáutico pela Unisul e Mestrando em Segurança de voo e Aeronavegabilidade pelo ITA; Perito Judicial Aeronáutico pelo Instituto J. B. Oliveira; Curso de PBN pela ANAC.


Como urubus usam o ambiente e causam risco à aviação

Uma tese de doutoramento em Biologia/ Ecologia, apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), estudou o ambiente frequentado por duas espécies de urubus em Manaus (AM), os problemas da permanência dessas aves no ambiente humano (inclusive risco à aviação) e propostas de manejo.

O pesquisador Weber Galvão Novaes, durante seu estudo, contou com o apoio do Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA VII) e da Assessoria de Gerenciamento do Risco da Fauna do CENIPA.

O título do trabalho é Uso do habitat por urubus (Família Cathartidae Lafresnaye, 1839) em áreas urbanas e naturais em Manaus – Amazonas.  Segundo as regras do INPA, a tese consiste na coletânea de três artigos científicos publicados em revistas internacionais de renome, com uma introdução e uma síntese conclusiva mostrando a relação entre os trabalhos e comprovando a tese que se quer defender.

Resumo

A expansão de áreas urbanas favorecem o estabelecimento e o crescimento de populações de algumas espécies de urubus (Família Cathartidae) em ambientes altamente antropizados.

Isto tem gerado conflitos com os seres humanos, como ataques a animais de criação, incômodo causado por ninhos e dormitórios e aumento significativo do risco de colisões com aeronaves.

No estudo foi mostrado: (1) como determinados componentes urbanos favorecem a ocorrência de urubus-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) e urubus-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura); (2) os fatores ecológicos que influenciam a seleção de dormitórios comunitários por urubus-de-cabeça-preta; e (3) o uso de fontes artificiais de calor como auxílio de voo por urubus na área urbana de Manaus, Amazonas, Brasil.

Os resultados demonstraram claramente dois padrões de uso do habitat por essas duas espécies de urubus. Urubus-de-cabeça-preta estavam associados a componentes que fornecem grande quantidade de alimento, tais como lixeiras e riachos (igarapés) poluídos. Por outro lado, urubus-de-cabeça-vermelha estavam altamente associados aos remanescentes florestais, porém evitaram locais com grande concentração de urubus-de-cabeça-preta (ex. feiras-livres).

A seleção de locais para uso como dormitórios por urubus-de-cabeça-preta também foi diretamente influenciada pela proximidade de áreas onde há grande oferta de alimento. Outro interessante resultado, relacionado à ecologia comportamental, foi a demonstração do uso do calor liberado por chaminés de usinas termelétricas como um artifício para ascensão do voo por urubus, auxiliando o movimento dessas aves entre dormitórios e locais de alimentação, bem como aumentando o tempo de atividade diária delas.

Com base nos resultados é possível sugerir medidas de manejo que minimizem os problemas causados pelos urubus. As medidas de manejo para urubus-de-cabeça-preta devem se concentrar nas estruturas que oferecem grande oferta de alimento (como substituição de lixeiras abertas por lixeiras com tampa e revitalização de igarapés), enquanto que as ações voltadas para urubus-de-cabeça-vermelha podem ser concentradas nos locais em que estes causem problema (ex. ambientes aeroportuários) através da retirada de carcaças de animais. Medidas de manejo como o bloqueio de acesso a poleiros, remoção de ninhos e medidas de inquietação podem ser utilizadas para ambas as espécies nos locais que eles utilizam para nidificar e/ou como dormitórios.

Fonte: Cenipa.

Foto: Luiz C. M. Rocha


Acesse o trabalho completo (PDF abaixo):

Uso do habitat por urubus (Família Cathartidae Lafresnaye, 1839) em áreas urbanas e naturais em Manaus – Amazonas


GTAP/PI apoia SERIPA II no combate ao perigo aviário

O CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos realizou na tarde do dia 24/05/2011, um levantamento dos principais focos atrativos de aves em Teresina, para compor um plano de risco aviário brasileiro que será enviado à ANAC – Agencia Nacional de Aviação Civil.

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