Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, pela primeira vez determinaram quantas vezes os helicópteros de resgate aeromédico precisam socorrer pessoas gravemente feridas para terem um custo-benefício equivalente com as ambulâncias terrestres.
Os pesquisadores descobriram que, se um houver um adicional de sobrevivência de 1,6 por cento dos pacientes graves depois de serem transportado de helicóptero do local do acidente para um centro médico de nível 1 ou nível 2, então este tipo de transporte já pode ser considerada rentável.
Em outras palavras, se 90 por cento das vítimas de traumas graves sobreviverem com a ajuda do transporte terrestre, e essas taxa for 91,6% para os atendidos e transportados de helicóptero, então o transporte aeromédico já pode ser considerado com de menor custo.
O estudo, publicado on-line no Annals of Emergency Medicine, não aborda se a maioria dos serviços de resgate aeromédico atingem esse adicional de 1,6 por cento na taxa de sobrevivência dos pacientes. “O que buscamos na pesquisa é reduzir a incerteza sobre os fatores de custo e benefício que impulsionam o uso deste importante recurso de terapia intensiva”, disse o principal autor do estudo, M. Kit Delgado, MD, MS, um instrutor na Divisão de Emergência Médica. “O objetivo é continuar a salvar a vida de quem precisa do transporte aeromédico, mas poupar as tripulações dos riscos adicionais de voar – e do custo adicional disso no caso de pacientes com ferimentos leves – quando o uso do helicóptero não é considerado como de menor custo”. (Os serviços aeromédicos são geralmente cobrados diretamente da empresa de seguro saúde dos pacientes, mas normalmente os pacientes pagam uma parte desse custo do próprio bolso, ou no caso de não terem seguro saúde, o paciente arca com o custo integral)
O estudo vem em um momento em que encontrar maneiras de cortar custos médicos tornou-se uma prioridade nacional nos Estados Unidos, e o uso excessivo do helicóptero aeromédico está sendo colocado em questão. Estudos anteriores demonstraram que, em média, mais da metade dos pacientes transportados por helicóptero, tem apenas ferimentos leves e não-fatais. Para esses pacientes, o transporte por helicóptero em vez de ambulância terrestre não surte diferença nos resultados clínicos de sobrevivência, mas o risco adicional da missão e os custos de transporte de helicóptero superam o benefício, disse Delgado.
Em 2010, a estimativa anual nos EUA era de 44.700 resgates aeromédicos de vítimas para centros médicos de trauma de nível 1 e nível 2, com um custo médio de cerca de US $ 6.500 por transporte. O custo anual total é de cerca de US $ 290 milhões. (Centros médicos de trauma de nível 1 e nível 2 são os hospitais equipados e com pessoal especializado para fornecer os mais elevados níveis de tratamento cirúrgico para pacientes vítimas de trauma. Os centros de nível 1 oferecem uma gama mais ampla de cuidados especiais e também são comprometidos com pesquisa e ensino).
Sendo assim, o resgate aeromédico com helicóptero de emergência está inserido em um dilema de custo-eficiência: Será que é mais necessário em áreas rurais remotas, onde o transporte por terra tem um tempo resposta muito maior que o aéreo? Contudo, essas áreas também tendem a ter populações mais escassas e, portanto, um menor número de acionamentos, tornando difícil amortizar os custos gerais de manutenção do helicóptero, disse Delgado.
Em algumas áreas do país, no entanto, os helicópteros são automaticamente acionados com base nas informações da chamada para o 911. “Ao chegar as viaturas terrestres junto com o helicóptero, às vezes eles podem encontrar as vítimas conscientes, conversando e com sinais vitais estáveis”, disse Delgado.
“O desafio é prover os helicópteros para os pacientes que precisam deles, de forma rápida e para que a equipe de voo possa intervir e fazer a diferença, mas que também tenha critérios para determinar qual vítima não está ferida o suficiente para exigir o transporte aéreo”.
A maioria dos economistas de saúde consideram intervenções médicas que produzem um ano de vida saudável – uma medida conhecida como um ano de vida ajustado para qualidade (quality-adjusted life-year – QALY) – a um custo de entre US $ 50.000 e US $ 100.000 para ser rentável em países de alta renda, tais como os Estados Unidos , disse Delgado.
Se a sociedade está disposta a pagar até US $ 100.000 para o transporte de helicóptero para cada QALY ganho pelos pacientes gravemente feridos, então o transporte de helicóptero precisa reduzir a taxa de mortalidade desses pacientes a uma taxa 1,6 por cento em comparação com o transporte de terra para atender a esse limite, diz estudo.
“Se estudos futuros apontarem para que o atendimento de vítimas com helicóptero levem à melhoria da qualidade de vida a longo prazo e na melhoria dos resultados da deficiência, então o transporte por helicóptero seria considerado com um custo-efetivo efetivo, mesmo que não haja diferença no número de vidas salvas”, disse Delgado. “Apenas alguns poucos estudos examinaram outros resultados além do índice de sobrevivência, sem resultados definitivos”.
Para pacientes gravemente feridos, a utilização de helicópteros aeromédicos que levam a vítima para um centro de trauma é preferível por ser mais rápido do que o transporte terrestre. No entanto, o transporte aeromédico é mais caro, as vezes mais raro, mas também pode ser fatal, por envolver riscos maiores à vítima – especificamente, o risco de um acidente fatal. Além disso, é muitas vezes difícil para a equipe de emergência discernir quais os pacientes que realmente necessitam ser levado em um helicóptero ao invés se serem atendidos por uma ambulância para um centro de trauma de alto nível. Até este estudo, o critério necessário benefício de sobrevivência das vítimas para compensar as eventuais desvantagens não eram conhecidos.
“Uma forma precisa em determinar quais vítimas têm ferimentos graves e precisam ser atendidas é o caminho mais promissor para garantir que você está tendo um bom custo-benefício em utilizar um helicóptero aeromédico”, disse Delgado.
“Para fazer isso, devemos promover o uso diligente das diretrizes de triagem dos Centros de Controle de Doenças entre respondedores EMS. Isso ajudaria a garantir que as vítimas feridas que são transportados por helicóptero para um centro de trauma realmente necessitam desse tipo de atendimento. Em segundo lugar, precisamos determinar se a prática de acionamento dos helicópteros com base unicamente em uma chamada via 911 faz sentido. Se o benefício do tempo de resposta mais rápido supera o gasto de recursos sobre aqueles pacientes que não necessitam de transporte por helicóptero, então o acionamento automático faz sentido. Se não, a prática deve ser repensada. ”
Há evidências na literatura sobre o grau em que o transporte do helicóptero reduz a mortalidade. Por isso, é incerto se o uso rotineiro de helicópteros aeromédicos para a maioria dos pacientes nos Estados Unidos tem um melhor custo-benefício, quando o transporte terrestre também é viável. O estudo constatou que o custo-benefício também depende de variação regional nos custos do transporte aéreo e terrestre e a porcentagem de pacientes que são transportados via aérea e que têm ferimentos leves.
“É claro que este estudo só se aplica às situações em que estão disponíveis para atendimento as ambulâncias terrestres e o helicóptero aeromédico e o respectivo transporte para um centro especializado de trauma”, acrescentou Delgado. “Em situações existe somente uma alternativa, por via terrestre para um hospital não especializado em trauma ou em ser levado por via aérea para um centro de trauma, então é claro que queremos que qualquer paciente com suspeita de uma lesão grave seja levado pelo helicóptero ao centro de trauma”.
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Fonte: Science Blog (tradução e adaptação Piloto Policial a partir do original em inglês)