Como é fazer parte das tripulações dos helicópteros da Met enquanto elas correm para as cenas de crime de Londres? Tim Dowling faz um tour pela base de operações da unidade, participa de perseguições em alta velocidade – e vê a rainha no seu jardim.
Vejo um sinal no portão principal da unidade de apoio aéreo da polícia metropolitana de Londres, em Lippitts Hill, lembrando aos motoristas de diminuir a velocidade diante dos cavalos de passagem.
Trata-se daquele tipo de lugar: verdejante e com um silêncio fantasmagórico, nas margens da Epping Forest, em Essex. A instalação foi uma base militar dos E.U., e depois um campo de prisioneiros de guerra; os velhos alojamentos estão agora registrados e, segundo algumas pessoas, são mal-assombrados.
Os meus olhos, no entanto, estão fixados no céu, que estava carregado de nuvens o dia todo. Se eu for voar em um helicóptero, é melhor que estas condições estejam mais favoráveis.
“Eu acho que está clareando,” eu digo, apontando para um pedaço azul.
“Sessenta porcento de chance de chover,” disse o vigia, que parecia se divertir como o portador das más notícias.
O PC Tony Donnelly, vestido com seu macacão de voo, chega e nos encontra no portão. Ele é alto, fala baixinho, tem o cabelo bem curto e os olhos um tanto quanto firmes. Ele nos oferece um tour pelas instalações, que são espaçosas, mas escassamente povoadas. Na cantina, uma televisão gigante fica ligada apesar do ambiente estar vazio.
Lá fora, dois dos três helicópteros da Polícia Metropolitana de Londres (Met) encontram-se parados na pista; o terceiro está passando por uma manutenção de rotina, em consonância com rotações regulares. Em situações especiais – como as Olimpíadas, por exemplo – todos os três helicópteros podem estar disponíveis, mas isto leva meses de planejamento. Donnelly me conta que mesmo este nível de cobertura não se compara com uma cidade como Los Angeles, onde há quatro helicópteros no ar o tempo todo.
Nos escritórios mantidos em um dos alojamentos, Donnelly me mostra, em um mapa gigante, a imensa faixa da Grande Londres que inclui o seu campo de trabalho, desde Essex, no leste, até os aeroportos, no oeste. É mito, ele me conta, que um ladrão de carro consegue escapar de um helicóptero policial ao dirigir pela autoestrada M4 porque a Met não tem permissão para sobrevoar Heathrow.
“Nós voamos no espaço aéreo deles o tempo todo,” ele diz. “Se precisarmos, podemos até mesmo fechar o aeroporto, o que é uma verdadeira mortandade.”
Ele me pergunta onde eu moro. Eu mostro no mapa.
“Você deve nos ouvir com uma certa frequência, então,” ele diz. Ele está certo: Ouço, sim. Não há nada parecido com o som do helicóptero passando sobre a sua casa no meio da noite com a luz do refletor batendo nas suas janelas e provocando uma mistura incômoda de fascinação, irritação e paranoia.
“Esta é uma das razões pelas quais nós criamos nossa conta no Twitter,” disse Donnelly. Instituída no início de 2012, a conta do Twitter@MPSinthesky tem hoje 86,000 seguidores (vale a pena conferir ao menos as fotos). O número de reclamações que o serviço recebia, em relação ao barulho e a um provável desperdício de recursos, passou a cair depois que as pessoas começaram a ver online que o helicóptero que as acordaram às 4 horas da manhã tinha ajudado a deter um assaltante ou a encontrar uma criança desaparecida.
Donnely nos leva até a pista. Cada Eurocopter EC145 bimotor custa cerca de R$14,8 milhões incluindo os equipamentos necessários e, uma hora de voo custa, aproximadamente, R$3.500,00. O helicóptero pode ficar no ar por três horas, se estiver completamente abastecido, mas não costuma-se voar com ele totalmente abastecido porque é preciso flexibilidade para compensar o peso extra – neste caso, a fotógrafa do Guardian, a sua bolsa com as lentes e eu.
Depois de me mostrarem a câmera turret e a tocha com 30m de velas, sentamos atrás para ouvirmos as instruções de segurança. “Tem que enfrentar,” disse Donnelly. “No fim das contas, até nós somos passageiros aos olhos da lei.”
Nos E.U., os policiais geralmemte recebem treinamento para pilotagem de helicóptero, mas todos os pilotos da Polícia Metropolitana de Londres são civis, apesar do tempo de voo mínimo exigido para o trabalho significar que, na prática, todos eles são quase ex-militares.
Assim que Donnelly começa a explicar sobre o cinto de segurança e a função do fone de ouvido, o helicóptero repentinamente levanta. Eu olho pela janela e vejo que estamos sendo elevados hidraulicamente, há quase 1 metro de distância do solo, sendo rebocados para que o helicóptero em manutenção possa sair do galpão e ser testado.
Depois de ter passado o dia todo preocupado em voar de helicóptero – eu não comi nada, por segurança – agora estou começando a me preocupar com a possibilidade de não voar. Passaram-se quase duas horas do turno de 12 horas do Donnelly e até agora, nada aconteceu.
No andar de cima, na sala de controle, há notícias de um homem, do lado de fora de um shopping center em Lewisham, comportando-se de forma estranha, mas nada que os leve a usar um helicóptero de emergência.
O céu de Londres agora está azulzinho e as nuvens se espalharam pelo horizonte. É um dia muito bonito para as pessoas cometerem crimes.
Fonte: The Guardian/ Reportagem: Tim Dowling