Eduardo Alexandre Beni
Coronel PMESP e Piloto (Águia 31)
Sergio Marques
Tenente Coronel PMESP e Historiador
A história da Aviação da Força Pública de São Paulo sempre, de alguma forma, mostra sua importância na construção da aviação brasileira. Lendo antigos jornais da época, mais uma vez nos deparamos com duas histórias esquecidas no tempo, mas que fazemos questão de trazê-las à tona.
São relatos de invenções rudimentares, mas de muito significado para a aviação. O primeiro é sobre o indicador de direção do vento e o segundo é sobre o balizamento noturno do Aeroporto Campo de Marte. A primeira história foi relatada no dia 18 de maio de 1927 e a segunda no dia 14 de março de 1930 pelo jornal A Gazeta.
Com o título “Signalização dos campos de aviação para aviadores estranhos“, a matéria mais se parecia com um registro de patente e atribuiu ao então Major José Garrido, Comandante da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo, sua invenção. Garrido, que em 1931 seria o interventor da cidade de Salto, idealizou, à época, um interessante e útil método para demarcação dos campos de manobras para o pouso e decolagem de aeronaves que viessem de outros lugares, indicando o vento predominante e pontos cardeais.
Segundo a matéria, naquela época, havia sido instituído para sinalização dos campos, um método que consistia em um “T” em pano, disposto de modo que a sua parte horizontal indicasse a direção do vento. Esse método apresentava alguns inconvenientes, como prestar-se tão somente para a sinalização de campos para aeroplanos e exigir sua correção manual toda vez que mudasse a direção do vento.
Outro método utilizado à época eram as fogueiras, pois a fumaça identificava a direção do vento, mas também, pouco prática. Diante disso, o então Major Garrido, idealizou um método de sinalização e realizou as primeiras experiências com a chegada do avião “Santa Maria I” na represa de Santo Amaro, atualmente a Represa de Guarapiranga. (Obs: a biruta é um equipamento usado até hoje para indicar direção e velocidade do vento)
Colocou ali, como ponto de descida do aparelho de De Pinedo, alguns painéis de cores. O resultado da experiência foi o melhor possível, pois o aviador italiano achou eficiente e original a sinalização da represa. Depois desses testes criou o que seria o painel de sinalização, dispensando o clássico “T” e as fogueiras.
O primeiro teste aconteceu no rio Tietê, na presença de técnicos e oficiais da esquadrilha da Força Pública de São Paulo. Servindo tanto para terra como para água e podendo ser usado de dia ou de noite, o painel foi chamado de “amphybio”.
Segundo relatos da época, o “painel amphybio” era desmontável e de fácil condução. Feito de um quadrado de pano impermeabilizado, pintado de branco, tendo no centro duas circunferências pretas sombreadas de cor laranja.
Os quatro pontos laterais do pano era representados pelas letras N, S, E e W, na cor preta com sombras alaranjas. As cores escolhidas eram as mais apropriadas para sinalização aérea, por serem nítidas e facilmente observadas a grande altura.
A tela era colocada sobre quatro longarinas que eram reforçadas e mantidas em esquadria por estas que contornavam todo o quadrado. As longarinas eram adaptadas nas suas extremidades internas a um centro por meio de encaixes metálicos. Existia ainda em cada uma das extremidades inferiores um suporte metálico no qual eram parafusadas a alça e os flutuadores (bolas de cortiças). Esses suportes mantinham ainda a tela esticada.
No ponto central do painel notava-se ainda um outro flutuador do qual partia, em sentido vertical, uma peça também metálica que servia de eixo a uma seta destinada à indicação dos ventos. De dia a direção destes era assinalada simplesmente pela seta, sendo que a noite, eram utilizadas duas lâmpadas elétricas, uma verde e outra vermelha, nela instaladas, e em uma bola de cortiça anexada ao painel eram colocados acumuladores (baterias) de 6 e 12 volts.
Segundo a reportagem, a ideia de Garrido era submeter o invento a um experimento público para que na chagada do “Jahu” à represa de São Amaro em agosto de 1927 fosse vista por João Ribeiro de Barros e pelo Tenente João Negrão, cujo nome foi dado ao invento depois de aprovado: “Painel Tenente Negrão“.
Pouso noturno – Campo de Marte
Além do painel inventado, era preciso iluminar o campo de aviação e foi essa a história contada pelo jornal A Gazeta em março de 1930. Novamente, o então Major José Garrido, ainda comandante da Escola de Aviação da Força Pública, convidou a imprensa para apresentar sua nova invenção, o balizamento noturno do Campo de Marte, atual Aeroporto Campo de Marte, onde era a sede da Aviação da Força Pública de São Paulo.
No dia 13 de março de 1930, das 20h00 às 23h00, aconteceu no Campo de Marte uma longa série de voos noturnos. Segundo relatos da época foram instaladas poderosos refletores para assinalar o campo e os aviões em voo. Com esse melhoramento, o Campo de Marte pode ser utilizado a qualquer hora da noite por outras aeronaves, chegando em São Paulo e pousando com segurança.
As provas iniciais aconteceram no dia 12 de março com o instrutor Orton Hoover e no dia seguinte, sozinhos, os pilotos João Negrão, Raul, Machado e Sylvio Hoelz, realizaram diversos voos, pousos e decolagens noturnas.
Com o ronco dos motores, curiosos foram chegando ao Campo de Marte para presenciar o feito e celebrar com os pilotos o que seria o início das operações noturnas no Campo de Marte. A reportagem ainda comentou: “o Major Garrido reservou novos voos noturnos para a próxima segunda-feira, dia em que não haverá luar.”
Biruta – Manga de Vento
Segundo relatos da história, as birutas se originaram no Japão, usadas durante a celebração do Dia dos Meninos (Crianças) para homenagear os homens das famílias japonesas. A tradição teve início no Período Edo (1603 – 1868), nas casas dos samurais. Essas birutas japonesas, conhecidas como koinobori, eram bandeiras em forma de carpa, criadas em papel ou seda que simbolizavam força e coragem para todos os homens da casa.
Além disso, os romanos empregavam birutas como estandartes para distinguir grupos militares. As birutas modernas também tiveram inspiração nas velas das embarcações. Desde então, a biruta evoluiu e atualmente é o indicador de velocidade e direção do vento amplamente utilizado em aeroportos e aeródromos.