Guarda Costeira Americana: Preparando os melhores para o pior

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Uma visita aos tripulantes da Guarda Costeira americana durante um treinamento de elite

Foto de Chris Rose

O inverno na costa do Oregon traz ondas tão grandes que são capazes de derrubar um helicóptero Sikorsky de 10,000 quilos. Os integrantes da Guarda Costeira gostam quando o tempo está assim. É por isso que a Escola de Resgate Avançado em Helicóptero situa-se em Astoria, no Oregon.

Duas vezes por ano, a escola realiza um treinamento de resgate avançado com duração de uma semana (repetido quatro vezes por mês). Os pilotos  chamam este período como “a melhor semana para voar” na Guarda Costeira. A escola atrai os melhores pilotos, operadores de guincho e nadadores de resgate da Guarda Costeira. Até o meio da semana, eles passarão por tudo o que eles terão de lidar de pior — mas não tanto quanto o mundo real pode oferecer.

As vítimas, geralmente, precisam de ajuda nas piores condições climáticas imagináveis e, muitas vezes, à noite. No entanto, a escola de resgate não trabalha com treinamentos à noite, já que é perigoso o suficiente durante o dia.

O currículo foi desenvolvido por Eric Biehn (pronuncia-se bi:n), perito sênior em sobrevivência na aviação, que começou a sua carreira como nadador de resgate na Guarda Costeira. Os pilotos voam pelos cenários que ele planejou e ele assiste a tudo em terra. Ele e os seus oito nadadores avançados são capazes de transportar, mesmo com dificuldade, vítimas com um total de 136 quilos (ou mais) para uma cabine apertada de um helicóptero Eurocopter MH-65 Dolphin ou um maior, como o Sikorsky MH-60T Jayhawk, através de um guincho.

Se você somar o percentual de gordura de todos os nove nadadores da classe 145, a que eu observei, é bem provável que o total não atinja cinco por cento. Tente colocar os seus quilos extras em um desses trajes de voo laranja na frente destes homens e destas mulheres, como eu fiz, se você quiser ganhar inspiração para a dieta que você têm deixado de lado. (Entre os 370 nadadores de resgate da Guarda Costeira, quatro são mulheres. Uma delas está na classe 145). O número de telefone do Biehn contém “008”, um número acima do 007 de James Bond. Só estou comentando.

O tempo no Oregon vai cooperar desta vez, e o curso fluirá do jeito que o Biehn planejou. No início da semana, o Oceano Pacífico terá ondas de quase 3 metros, o que dará aos nadadores, especialmente os de Miami, a chance de se acostumarem com águas turbulentas. Também há previsão de ventos de 37 km/h e pancadas de chuva a cada 20 minutos. No meio da semana, próximo ao mar aberto, ondas de 6 metros serão empurradas por ventos de 66 km/h, isso é apenas sete quilômetros abaixo do máximo permitido para o treinamento.

A ressaca do mar

CG2O Capitão-Tenente  Dan Leary, um piloto veterano da Guarda Costeira que passou a pilotar o MH-60T há um ano (e, portanto, deve fazer a formação avançada), está um pouco acima das ondas de dois a três metros para o exercício de segunda-feira.

Lá, o seu radar altímetro é inútil. Ele indica altitudes variadas em sucessão rápida, exigindo que o Leary use o seu altímetro barométrico para manter o voo pairado. Leary está ao largo da costa de Fort Stevens State Park, a oeste de Astoria, e precisa acompanhar ambos, os nadadores e as ondas.

 Os nadadores mudam constantemente de direção por causa das ondas, além de serem empurrados pelo vento para o sul.

O aluno que finge ser o socorrista desce pelo guincho e segura sua suposta vítima firmemente com seus braços e suas pernas. Leary, então, eleva os dois da água, voa uma curta distância para águas mais tranquilas e os coloca de volta no oceano, onde é mais fácil, para o socorrista, amarrar o cinto na vítima. (Esta deve ser uma surpresa para a vítima; “Vamos voltar para a água?”) Ambos sobem para a cabine, e invertem os papéis de resgatado e socorrista.

CG3Leary lembra-se de um resgate que fez fora do Estreito de Juan de Fuca (entre Seattle e Canadá). “Havia um cara cuja perna fora esmagada por um êmbolo. Ele estava trabalhando em uma sala onde tinham um êmbolo de reserva. O negócio, tão grande quanto um barril, caiu na parte de trás de sua perna e a esmagou. Tivemos que buscá-lo de cargueiro.

A situação não me pareceu tão mau até eu chegar lá, e ver que haviam ventos de 166 km/h e as ondas chegavam a 12 metros. Sabíamos que se não fôssemos lá, esse cara morreria.

O nadador de resgate que estava trabalhando naquele dia, John Linnborn, salvou a vida dele. A vítima estava sangrando na aeronave e John encontrou um jeito de fazer um torniquete com a manivela do nosso guincho. Foi o que salvou a vida dele.”

O penhasco

Em um mais um dia de treinamento está previsto duas operações em Lewis and Clark National Historical Park do outro lado do rio Columbia, em Washington. O parque fica perto da maior estação de busca e salvamento da Guarda Costeira Cape Disappointment.

A ressaca do mar e os ventos estão castigando a costa com tanta força que a prática do resgate em cavernas é cancelada. Muitas vezes, velejadores em canoas vão explorar as cavernas ao longo da costa e ficam presos lá dentro, resultando em uma chamada para a Guarda Costeira. No final da semana, haverá uma outra tentativa de fazer o treinamento para o resgate em cavernas, e este também será cancelado.

Em seguida, está programado um resgate em um penhasco, a uma altura de 24 metros em um penhasco de 55 metros, no farol North Head Lighthouse. Enquanto dois instrutores esperam abaixo no penhasco, as tripulações deslocam um nadador de resgate para baixo — neste caso, seria mais apropriado chamá-lo de ‘caminhador de penhasco’ — usando um cabo para poderem praticar em um boneco como amarrar o cinto.

Um pouco acima, ventos de 46km/hora, 7 km abaixo do máximo permitido para o treinamento, criam um vento de 60 graus. Será que o Leary e o Tenente Chris Pulliam deixar a porta do lado do penhasco, ou posicionar a aeronave de forma que facilite a luta contra o vento, mas deixando a porta com o operador de guindaste distantes do penhasco? Leary decide que a primeira é a melhor opção e começa os oito içamentos que ele executará.

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Para manter sua posição, ele escolhe uma árvore, ou arbusto, e a mantém em um ponto na sua janela. Leary também está fazendo as correções retransmitidas a ele pelo operador de guindaste, chamado de mecânico de voo. “Por todo o tempo”, disse Leary mais tarde, “você tem que ter em mente onde o rotor de cauda e o rotor principal estão para que não batermos no penhasco.

“Leary confessa que isto pode ser bastante cansativo. “No início, eu apertava o cíclico [o controle que inclina o disco do rotor em uma determinada direção] com tanta força que os meus antebraços doíam. Minhas panturrilhas se trancavam. Mas, depois que você faz isso por um tempo, você aprende a relaxar e a fazer pequenos movimentos nos controles. Já não fico mais tão exausto, mas se for um caso real, aí sim, você fica exausto. Você fica completamente focado em salvar as pessoas e tirá-las do perigo.”

Chuvas leves e moderadas vem e vão, atrapalhando os socorristas que estão descendo até o penhasco e reduzindo a visibilidade dos pilotos.

No final do dia, é hora de pegar os bonecos e transportá-los para o topo do penhasco, onde uma SUV está esperando. O helicóptero MH-65 está virado em um ângulo para efetuar mais um resgate com guincho. Após o içamento, o socorrista bate no penhasco e machuca um dedo. O seu treinamento acabou por esta semana, mas ele poderá repetir as aulas semestrais.

* * *

Biehn recorda um caso particularmente difícil. “Um dos meus momentos mais difíceis foi em North Bend, onde o rio Yaquina desemboca no Oceano Pacífico. Havia um barco que estava sendo guinchado entre dois molhes. O barco tinha perdido a capacidade de direção. Quando eles estavam atravessando a barra, a corda arrebentou e o barco colidiu com o pier. Três pessoas caíram na água.

Os barcos salva-vidas não conseguiram acesso a elas, pois elas estavam entre as rochas. Ao chegarmos no local, duas pessoas estavam dependuradas nas rochas de 2 e 3 metros do píer. As ondas, de 4 a 6 metros, quebravam entre essas rochas. Eles me ajudaram a descer e eu consegui resgatar uma das pessoas. Quando voltei para pegar a outra, ela havia sido levada pelas ondas e não conseguimos encontrá-la mais.”

A “máquina de lavar roupa”

A uns 2 km ao sul do farol Cape Disappointment Lighthouse de Washington, no rio Columbia, existe uma área chamada máquina de lavar roupa. Ela é mais conhecida como barra do rio Columbia, e é um local onde já afundaram centenas de navios.

O nome se refere não a uma barra propriamente dita de pedra ou areia; mas a uma barra provocada pelo bater das ondas, à medida que o rio Columbia deságua no Oceano Pacífico. A areia depositada no fundo do rio faz as ondas ficarem maiores ainda.

“Temos ondas vindo de posições de duas horas, quatro horas, seis horas e oito horas”, diz Leary. É com isto que ele tem que se preocupar, com o seu MH-60T pairado com o risco de ser atingido por uma onda de 4 ou 6 metros.

cg5O operador de guindaste Aaron Godsey está dando uma descrição visual a Leary, ajudando-o a entender onde os nadadores estão e o que as ondas estão fazendo.

Ao contrário da ressaca do mar, onde as ondas altas são previsíveis e o Leary pode vê-las chegando, a ação aqui é toda debaixo da aeronave; o Leary não tem ideia do que está acontecendo lá embaixo. Godsey pergunta onde estão os nadadores Bobby Florisi e Troy Ramsdell, mas logo depois eles são vistos por Leary e Pulliam debaixo de uma onda gigante.

O instrutor Ian Gaertner ajuda Godsey, um dos principais operadores de guindaste da unidade, a refinar as coordenadas dadas para os pilotos. Na próxima vez, ele fala, “mais pra direita, mais pra direita,” em vez de dar estimativas em metros.

Os nadadores têm a opção de saltar do helicóptero em queda livre se assim preferirem. “Para a queda livre devemos pairar abaixo de 4 metros,” disse Leary. “Mas, eu não posso pairar a menos de 4 metros e deixá-lo saltar em queda livre se existir uma chance de sermos atingidos por uma onda.”

Naquele mesmo dia, um nadador do MH-65 decidiu cronometrar as ondas e tentar um salto em queda livre. Ele cronometrou errado e saltou a 9 metros da onda, ao invés de saltar na crista. Ele não se feriu.

“Ele ficou bem,” disse Biehn depois. “Alguns caras fazem isto de propósito, eles saltam de uma altura maior porque eles querem ganhar experiência e testar as suas habilidades. São aventureiros. Não ligam para o perigo. É esse o tipo de pessoa que queremos atrair para este trabalho, porque esta é a pessoa que você quer trabalhar naquela noite escura e tempestuosa”.

* * *

Godsey recorda de quando ele buscou uma família, o pai, a mãe e uma menina de seis anos, em uma montanha em Gustavus, no Alasca, ao norte de Sitka. “Uma menininha de seis anos de idade não sabe o que fazer. Você tem que mantê-la sentada na cesta e lidar com ela quando ela estiver na cabine. Mas, você também tem que cuidar das outras pessoas que ainda estão lá fora.”

Scott Lloyd era o operador de guindaste no dia 20 de abril de 2010, quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu. Quando a sua tripulação partiu para oferecer ajuda, eles viram o que a princípio parecia ser o nascer do sol no horizonte. Era a Deepwater Horizon em chamas. Ele conduziu os nadadores para baixo num barco a 183 metros do fogo para a triagem das vítimas e trouxe cinco sobreviventes a bordo. Por isso, ele e outros aviadores da Guarda Costeira que apoiaram aquele resgate naquela noite foram condecorados com a medalha da Guarda Costeira Aérea.

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Fonte: AOPA/ Reportagem: Alto K. Marsh

cg7O editor sênior da revista AOPA Pilot, Alton Marsh, é piloto desde 1970 e possui certificado de piloto de linha aérea, de instrutor de voo multimotor e por instrumentos e também, treinamento em acrobacia aérea e certificado em hidroavião comercial.

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