Anjos das alturas de Alagoas garantem segurança antes, durante e após salvamentos

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Alagoas – A 300 metros de altura, a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Aeromédico sobrevoa a cidade diariamente, a qualquer hora, com sol ou chuva, céu aberto ou fechado por nuvens, realizando atendimentos em situações de emergência e urgência, seja de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica, entre outras, que possam levar a sofrimento, sequelas ou mesmo à morte da vítima.

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No entanto, para que o voo ocorra com segurança, é necessário que todos os profissionais que compõe o serviço – mecânico, piloto, tripulante, enfermeiro e médico -, trabalhem coordenadamente, observando o adequado funcionamento da aeronave e utilizando os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Caso contrário, um acidente pode ser fatal.

Entre os riscos mais comuns que podem comprometer a segurança da equipe aérea do Samu, estão os fios das redes elétricas, as linhas de alta-tensão, a poeira ou areia no ar, as chuvas, nuvens muito baixas, pipas, aves e as árvores de grande envergadura. Além desses fatores, alguns obstáculos são encontrados durante o pouso, a exemplo de terrenos não muito planos, o que acaba gerando dificuldade durante as ocorrências.

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Marcelo Mascarenhas, mecânico da aeronave, informou que é muito importante realizar um pré-voo, um checklist, e um pós-voo, para manter a segurança e o bem-estar de toda equipe durante as ocorrências. “Baseado num checklist, são observados o estado geral da aeronave, dos motores, do combustível durante a drenagem, do nível de óleo, enfim, tudo que possa comprometer o voo”, explicou.

Segundo a enfermeira do Samu Aeromédico, Michele Galindo, o rotor de cauda – hélices situadas na extremidade posterior da aeronave – é uma fonte de perigo neste momento. “É um atrativo para animais, principalmente os cachorros. A população também costuma ficar próxima para fazer as famosas selfies, mas não faz ideia do perigo que está correndo. Preferivelmente, um dos tripulantes não se envolve diretamente no socorro à vítima, pois fica responsável para prevenir a aproximação de qualquer pessoa no local”, contou.

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Para Michele Galindo, o trabalho no Samu Aeromédico envolve adrenalina e, ao mesmo tempo, zelo para com todos que formam a equipe, visto que qualquer descuido pode virar uma fatalidade. “Durante o voo, não é só o piloto e o seu auxiliar que devem permanecer atentos, e sim todo o grupo que está dentro da aeronave”, disse. Ela também se recorda de um patrulhamento que fez durante o Carnaval deste ano, na orla marítima de Maceió, onde uma pipa apareceu, como numa espécie de mágica, na frente da aeronave, deixando a tripulação temerosa.

“Na hora eu dei um grito que assustou todo mundo. Mas, graças a Deus, a pipa apareceu e, depois, sumiu. Se ela tivesse enrolado em alguma hélice, seria muito difícil retirá-la, principalmente porque agora estão usando uma linha chilena, que é comprada pronta, tanto em lojas de aviamento, quanto em redes sociais. Ela é feita com pó de alumínio e tem o poder de corte quatro vezes maior que o cerol”, relatou a enfermeira do Samu Aeromédico.

Diante desse fato e, após ficar por alguns instantes em silêncio, Michele Galindo acrescentou: “As pessoas não têm noção do risco que estão causando a todos nós. É uma coisa tão rápida que, em poucos segundos, acaba nos deixando cegos. Peço que, quando alguém observar uma aeronave, recolha as pipas. Afinal, nossa vida não é como num jogo de videogame que, dali por diante, apertamos o botão do replay, e pronto, está tudo resolvido. É bem diferente”, apelou a enfermeira ao bom senso da população.

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Segundo o piloto Alexander Dutra, o rotor do teto da aeronave também é um perigo se o solo não for plano e horizontal. “Nós devemos ter em mente que há risco de decapitação para pessoas que se mantenham no solo ou em cima de pedras e muros, localizados acima do nível do rotor, ou que se movimentam no setor mais alto do aclive, se o terreno for inclinado. Por isso, durante as ocorrências, todo cuidado é fundamental para manter a segurança da equipe e de toda a população”, explicou.

Exposição a microrganismos

Além dos fatores de risco relacionados ao helicóptero, há também àqueles referentes à execução de procedimentos, quando a equipe fica exposta diretamente a microrganismos que podem causar infecções, devido à grande manipulação de agulhas, cateteres intravenosos, lâminas e objetos de vidro. Embora as lesões ocasionadas sejam, na maioria das vezes, pequenas, o risco deste tipo de acidente pode ocasionar a contaminação pelo vírus da Hepatite e do HIV.

Para se ter uma ideia, segundo a Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi), a maioria dos acidentes de trabalho com contaminação pelo HIV envolve as equipes de enfermagem e técnicos de laboratório. Entre os acidentes mais comuns, ainda de acordo com o instituto que atua há mais de dez anos em São Paulo, está o percutâneo, caracterizado por uma picada com agulha, que está associado a 89% dos casos de contaminação profissional registrados. Quando ocorre um acidente com objetos perfurocortantes, o risco médio de infecção pelo HIV é de 0,3%, caso não seja feita a profilaxia logo em seguida.

Rígido Protocolo

Para evitar que isso ocorra, os socorristas do Samu Aeromédico seguem um rígido protocolo de segurança e utilizam os EPIs adequados. Entre eles estão luvas de procedimento, que são descartáveis e servem para o contato com o paciente; respirador N95, destinado a protegê-los durante as atividades de contato com as vítimas, evitando que respirem microrganismos ou gotículas infectocontagiosas, além dos óculos de proteção, que os resguardam contra impactos e substâncias diversas.

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Embora os profissionais estejam expostos aos riscos durante as ocorrências, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) disponibiliza os EPIs, que incluem óculos, macacões e bonés confeccionados em tecido antichamas, com proteção efetiva contra os raios solares, que bloqueiam as radiações ultravioletas por mais de 12 horas e resistem a uma temperatura de 800°C em até oito segundos. Além de luvas, coturnos, cintos de segurança e outros itens, a fim de garantir que o profissional não seja exposto a doenças ocupacionais, que podem comprometer a capacidade de trabalho e de vida dos socorristas durante e depois das ocorrências.

“O uso dos EPIs é determinado por uma norma técnica chamada NR6, que estabelece que os equipamentos sejam fornecidos de forma gratuita ao trabalhador, para que desempenhem suas funções com total segurança dentro da empresa”, destaca o chefe do Grupamento Aéreo de Alagoas, coronel André Madeiro.

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Exposição ao Ruído

Segundo o médico do Samu Aeromédico, Kléber Santana, a constante exposição ao barulho, emitido pelas hélices do helicóptero, também pode ser perigosa para os socorristas. De acordo com ele, o ouvido humano é capaz de ouvir frequências entre 20Hz e 20.000Hz, respectivamente, aos sons graves e agudos. Por isso, todos os socorristas utilizam fones auriculares, uma vez que, estudo da Universidade de Oslo, a mais antiga da Noruega, avaliou 50 controladores de tráfego aéreo, 51 pilotos de avião e 81 pilotos de helicóptero e, após três anos, todos sofreram perdas auditivas. No entanto, os pilotos de helicóptero foram muito mais afetados.

Momento de sombra

Outro problema que pode afetar e, muito, a saúde dos profissionais do Samu Aeromédico, segundo o médico Kléber Santana, são as hélices de teto girando, porque, ao passar sobre a cabine, acabam gerando um pequeno momento de sombra. Isso escurece a cabine de pilotagem, chamada de cockpit, que, logo em seguida, volta a clarear e então escurece novamente com a outra hélice do teto girando.

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“O enegrecer e clarear da cabine e pequenos intervalos de tempo podem também ser chamados de fotoestimulação intermitente ou estimulação fótica e é de esperar que haja alguma resposta psicológica ou fisiológica dessa exposição.

Sendo assim, como resultado dessa característica, presente apenas nos helicópteros, pode-se descrever perda de atenção durante o voo, diminuição da acuidade visual, dor de cabeça, alterações labirintíticas, como tontura, desorientação espacial e enjoo e, em alguns casos mais graves, até a epilepsia”, explicou o médico.

Ele acrescentou que a atenção maior deve ser dada aos assentos dianteiros, pois costumam estar diretamente expostos à luz do Sol, mas não deve ser deixada de lado para os passageiros que estão à sombra ou pelos outros tripulantes. “O mais correto a ser feito é utilizar óculos de Sol, que, nesse caso, torna-se um EPI para todos que estiverem a bordo”, reforçou Kleber Santana.

A vibração

A vibração está presente em qualquer equipamento com motor, sejam os grandes como o barco, o avião, o helicóptero, o trator, ou, ainda, os pequenos, tais como a furadeira, politriz, motosserra, entre outros.

O corpo humano possui uma frequência própria de vibração e, portanto, quando somada a outra de frequência equivalente, causa a ressonância, que é absorvida pelos tecidos, órgãos e ossos, o que pode resultar em problemas vasculares, muscoesqueléticos e até neurológicos, de acordo com Kléber Santana. Esse conjunto de sintomas é conhecido como Síndrome de Raynaud, em homenagem ao médico francês que estudou o resultado da vibração nos membros superiores.

A síndrome de Raynald manifesta-se por meio da perda de vascularização na ponta dos dedos, o que os deixa com aparência pálida e, com o tempo, acaba progredindo para a palma da mão. Sabe-se também que há significante diminuição do fluxo sanguíneo para as extremidades do corpo, como nariz, orelhas e língua.

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Independente do modelo da aeronave, explica Kléber Santana, a posição em que o piloto precisa sentar-se na cabine para alcançar os comandos – com o braço direito ligeiramente à frente para alcançar o cíclico e o braço esquerdo mais atrás no coletivo – acaba efetuando uma pequena torção na coluna vertebral.

A coluna, por conseguinte, vibra em uma frequência média de 4Hz a 8Hz, praticamente a mesma frequência que gira o rotor principal em diversos helicópteros (240 A 480PM). Sendo assim, a pequena torção realizada na coluna, mais o peso do corpo, que é suportado pela musculatura do dorso e ventre, somada à vibração absorvida pela coluna vertebral, gera uma pressão maior nos discos intervertebrais, o que, em longo prazo, acaba levando à hérnia de disco.

Plataforma de Treinamento

Inaugurada em fevereiro deste ano, a Plataforma de Treinamento do Grupamento Aéreo do Estado de Alagoas, localizada no Hangar da Manau, no bairro Forene, em Maceió, veio assegurar melhores condições de trabalho para os servidores que atuam no resgate aéreo de vítimas de acidentes, resultando, consequentemente, em uma melhor prestação do serviço ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Para atingir os objetivos, a unidade desenvolve uma série de técnicas especiais, simulando um helicóptero, que podem ser aplicáveis tanto para as equipes do Samu Aeromédico e do Serviço Aéreo Militar da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). A prova da importância de investimentos como este no Samu Aeromédico é o número de resgates realizados desde a sua criação, em 2010, até dezembro do ano passado, que é de 1.204 pessoas atendidas.

Segundo Guttemberg Batista, socorrista do Samu Aeromédico, a implantação da Plataforma de Treinamento foi importante para que os médicos e enfermeiros estivessem preparados para atuar em locais de difícil acesso.

“Apesar de aparentemente simples e rápida, essa técnica, com a utilização de cordas, exige um grau de segurança muito grande para minimizar os riscos que podem acontecer, porque o operador não pode desestabilizar a aeronave por meio do balanço. Pois, a partir do momento em que ele concluiu a descida do esqui, faz-se necessário chegar ao solo o mais rápido possível, visto que a manobra envolve uma série de riscos”, explicou o socorrista.

Ainda de acordo com ele, caso a equipe não tivesse a plataforma fixa, o desenvolvimento das técnicas teria que ser realizado em um helicóptero no ar, onde, a seu ver, imporia despesas excessivas ao Estado de Alagoas.

“Temos que nos exercitar constantemente, porque no momento da ocorrência, os nervos estão à flor da pele, a situação envolve muita adrenalina, então é necessário treinarmos de uma maneira sincronizada, levando à margem de erro a quase zero. Acredito que a segurança no trabalho possibilita a realização de um serviço mais organizado ao Samu Aeromédico. Isso leva não somente a evitar acidentes, mas, também, ao aumento da produção, tornando o ambiente mais agradável e com melhor qualidade”, concluiu Guttemberg Batista.

Nova Plataforma do Grupamento Aéreo – NC
Plataforma do Grupamento Aéreo – NC

Fonte: Agência Alagoas, por Marcel Vital.
Fotos: Carla Cleto.

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