Durante a Nightingale 2020 Conference, evento virtual realizado nos dias 27 e 28 de outubro e organizado pela Florence Nightingale Foundation, o CEO Howard Catton do Conselho Internacional de Enfermagem (ICN) falou sobre o momento atual. O ICN, sediado em Genebra, na Suíça, é uma federação com mais de 130 associações nacionais de profissionais de enfermagem, representando milhões de profissionais em todo o mundo.
A última análise do ICN mostrou que o número de enfermeiros e enfermeiras que faleceram após contrair COVID-19 é de 1.500, ante 1.097 em agosto. O número inclui profissionais de enfermagem de apenas 44 dos 195 países do mundo, e sabe-se que é um valor subestimado, frente ao verdadeiro número de mortes.
A própria análise do ICN sugere que cerca de 10% dos casos em todo o mundo ocorrem entre profissionais de saúde. Nesta semana, havia mais de 43 milhões de casos em todo o mundo com aproximadamente 2,6% deles, 1,1 milhão, resultando em mortes.
Mesmo que a taxa de mortalidade entre os mais de quatro milhões de profissionais de saúde infectados seja de apenas 0,5%, mais de 20.000 profissionais de saúde podem ter morrido do vírus.
Em sua palestra no Nightingale 2020 Conference, Howard Catton disse que “o fato de que tantas enfermeiras morreram durante esta pandemia, quanto morreram durante a Primeira Guerra Mundial é chocante. Desde maio de 2020, pedimos a coleta padronizada e sistemática de dados sobre infecções e mortes de profissionais de saúde, e o fato de que ainda não esteja acontecendo é um escândalo.”
“2020 é o Ano Internacional da Enfermeira e Parteira e o 200º aniversário do nascimento de Florence Nightingale, e tenho certeza de que ela teria ficado imensamente triste e zangada com a falta de dados. Florence demonstrou durante a Guerra da Crimeia como a coleta e análise de dados pode melhorar nossa compreensão dos riscos à saúde, melhorar as práticas clínicas e salvar vidas, e isso inclui enfermeiras e profissionais de saúde. Se ela estivesse viva hoje, os líderes mundiais teriam sua voz ecoando em seus ouvidos, dizendo que eles devem proteger nossas enfermeiras. Há um abismo entre as palavras calorosas e elogios, e a ação que precisa ser tomada”, complementou.
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Falando após o evento, Catton disse que a pandemia mostrou o quão interconectado o mundo se tornou, e que as respostas do governo precisam reconhecer isso e responder apropriadamente. “Acredito sinceramente que o global nunca foi tão local em termos dos desafios que enfrentamos, das lições que precisamos aprender e das soluções que buscamos. Por exemplo, obter equipamento de proteção individual através das fronteiras exige que os governos trabalhem juntos em questões alfandegárias e de controle e, quando tivermos uma vacina, entregá-la a todos que precisam, em vez de apenas aqueles que podem pagar por ela, exigirá multilateralismo e cooperação”, afirmou.
Para Howard Catton, as enfermeiras terão um papel importante a desempenhar no que virá depois do COVID-19. “Nossa experiência e os dados de que dispomos significam que temos uma voz muito poderosa e legítima que devemos usar para influenciar os sistemas de saúde do futuro”, afirmou durante o evento.
Comentando os relatos de manifestações e greves de algumas enfermeiras na Europa sobre o manejo da pandemia, Catton disse que “não me surpreende que estejamos neste momento porque entramos nesta pandemia tão mal preparados, com falta de investimento, faltam seis milhões de enfermeiras e a lentidão de alguns governos para responder de forma adequada. Esta é uma grande lição para o futuro. Os enfermeiros estão zangados com a falta de preparação, mas também com a falta de apoio que receberam.”
Catton finalizou dizendo que “precisamos passar das palavras calorosas para a ação real, porque nenhum de nós vai sobreviver e nossas economias não vão se recuperar se não mantivermos nossos profissionais de saúde e enfermeiras trabalhando e capazes de cuidar de todos nós.”