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Estudo da fadiga na pilotagem de helicópteros

OSCAR FERREIRA DO CARMO

O que pode fazer com que um piloto capacitado, com excelente formação, demonstrando estar nas melhores condições psicofisiológicas cometa um erro de julgamento ou tome uma decisão inadequada e ocasione um acidente? A fadiga pode ser uma das respostas (KANASHIRO, 2005, p.335).

A dúvida inicial da citação pode guiar o leitor para uma gama de ilações sobre a proficiência, o treinamento, a capacitação do piloto e outras. É bem possível que não se dê conta de um problema corriqueiro, que surge nas mais diversas ocasiões e profissões, o esgotamento pela fadiga.

O voo de helicóptero em missão de segurança pública e defesa civil gera tantas estimulações sensoriais (riscos da ocorrência, obstáculos, comunicações externas e internas, performance e parâmetros da aeronave), físicas (vibrações, frequências, ruídos) e mentais (excesso de trabalho intelectual e psíquico) que após uma hora de voo, o piloto normalmente desembarca extenuado, fadigado.

As jornadas de trabalho prolongadas ou irregulares, turnos durante a noite e missões inopinadas atuam negativamente não só no corpo, mas também na vida profissional, familiar e social. As imposições da Organização e o trato diário com o perigo geram ansiedades e estresse que podem deprimir o organismo e prejudicar processos mentais.

Além disso, a formação militar aliada à causa nobre de servir a sociedade, muitas vezes como último recurso disponível, serve de motivação ao piloto de helicóptero da PMESP para estender seus limites, beirando a situação de ter a eficiência operacional comprometida.

Para entender o problema buscou-se responder as seguintes questões norteadoras para esse trabalho:

a) O que é fadiga? Quais fatores influenciam a atividade aérea?
b) Quais os mecanismos da fadiga e as consequências para os pilotos de helicóptero?
c) Como trata a questão da fadiga a cultura militar, a cultura organizacional da PMESP, o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) e a Lei do Aeronauta?
d) Como é o regime, rotinas e particularidades do trabalho do piloto de helicóptero da PMESP?
e) Como se desenvolvem estratégias para gerenciar o risco da fadiga?
f) Qual a percepção dos pilotos de helicóptero da PMESP sobre a fadiga?
g) Fatores como idade, tempo de serviço e experiência de voo; escala e sua variabilidade; escolhas pessoais (álcool, fumo, prática de exercícios físicos), IMC e o conhecimento sobre o tema influenciam a ocorrência de distúrbios do sono e de fadiga?

O problema de pesquisa é definido da seguinte forma: a aviação policial combina duas atividades diferentes – a pilotagem de helicóptero e as missões específicas de segurança pública e de defesa civil – em condições limiares para a segurança de voo. Fatores como experiência, condição física, variabilidade e imprevisibilidade de horários e condições de voo e necessidade do cumprimento da missão, sugerem a ocorrência da fadiga do piloto, sujeitando-o a riscos à saúde e à segurança.

Estabeleceu-se como objetivo principal determinar qual a percepção da fadiga que afeta os pilotos e que pode influenciar a atividade de pilotagem de helicóptero da PMESP.

Os objetivos específicos da pesquisa eram:

a) Levantar informações a respeito da fadiga humana e suas consequências para os pilotos de helicóptero da PMESP.
b) Identificar quais fatores da fadiga influenciam a pilotagem de helicóptero da PMESP, a rotina de trabalho e a vida cotidiana do piloto.
c) Comparar as normas legais sobre o regime de trabalho dos aeronautas, dos aeronavegantes militares e da PMESP com foco no gerenciamento da fadiga.
d) Pesquisar estratégias para mitigar o risco da fadiga na aviação civil e militar, nacional e estrangeira.
e) Determinar a percepção subjetiva dos pilotos de helicóptero da PMESP sobre a fadiga humana e suas consequências para a atividade policial-militar e para a aviação.

As justificativas para o presente trabalho iniciam-se pela necessária missão de se compreender a fadiga, um problema corriqueiro e da natureza humana, como um fator a influenciar o piloto nas suas tarefas diárias.

Ao piloto de helicóptero somam-se às cargas físicas e mentais do exercício da pilotagem de uma aeronave, as tensões proporcionadas pelo trabalho policial, aeromédico e de salvamento e pelas variadas missões de defesa civil.

A relevância social está em demonstrar que o piloto de helicóptero da PMESP, responsável por missões imprescindíveis à sociedade, tem grande propensão à fadiga, situação esta que pode favorecer o risco de acidentes e incidentes aeronáuticos.

A pesquisa do marco teórico indica a participação da Organização na propensão à fadiga, embora ela tenha a responsabilidade de salvaguardar e de delimitar a rotina dos pilotos de helicóptero, além de introduzir técnicas e práticas para mitigar o risco da atividade e regras para limitar a decisão do piloto.

O valor teórico da pesquisa reside na inexistência de elemento normatizador do gerenciamento do risco da fadiga na PMESP e as informações com ela obtidas podem subsidiar no futuro um sistema próprio para a atividade policial, abrindo a possibilidade de outras explorações na área de segurança de voo.

Como utilidade metodológica a pesquisa ajuda a fixar o conceito do risco da fadiga na atividade do piloto de helicóptero da PMESP, propiciando também a criação de um instrumento próprio de pesquisa ou de tema a ser adicionado aos instrumentos da segurança de voo, tais como o relatório de prevenção e o treinamento de Crew Resource Management (CRM).

Convém ressaltar que a fadiga pertence à categoria dos fatores humanos que são os líderes dos contribuintes para acidentes aeronáuticos. No panorama da aviação brasileira 2002-2011, de asas rotativas do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), por exemplo, o “julgamento” figura em 54,8% na incidência de fatores contribuintes dos acidentes ocorridos e a “supervisão” em 48,1% dos casos. O julgamento do piloto pode ser influenciado por diversos fatores, entre eles a condição de fadiga. A supervisão refere-se à deficiente administração dos dirigentes da Organização.

Há recomendações de segurança operacional, emitidas pelo SERIPA IV, ao GRPAe “João Negrão”, no sentido de que fosse confeccionada e formalizada legislação interna, aos moldes da Lei do Aeronauta, amparando o exercício da atividade aérea, de forma a orientar e coibir erros e excessos de jornada de trabalho, ainda no planejamento das missões. Tal recomendação se deu após investigação do incidente grave que envolveu o avião PT-LMU, pilotado por pilotos da Unidade, que derrapou na pista de terra do aeroporto da cidade de Garça (SDGC).

Foram determinadas as seguintes hipóteses:

H1: Os pilotos de maior idade e experiência profissional têm maior propensão à fadiga e a problemas relativos ao sono.
H2: O regime de trabalho, variabilidade e deslocamentos, aspectos que marcam rotina atual do piloto de helicóptero da PMESP favorecem uma condição maior de fadiga e a problemas relativos ao sono.
H3: Escolhas pessoais como fumo e álcool, bem como o pior condicionamento físico do piloto de helicóptero da PMESP favorecem uma condição maior de fadiga e a problemas relativos ao sono.
H4: O desconhecimento da natureza da fadiga leva os pilotos de helicóptero a desconsiderar limitações físicas e medidas preventivas, bem como a uma menor percepção subjetiva da fadiga e de problemas relativos ao sono.

O presente estudo descritivo trata-se de uma pesquisa não experimental, desenvolvido em corte transversal, com levantamento de dados proporcionados pelos indivíduos selecionados na amostra, por meio de um instrumento de pesquisa padronizado e como o estudo e interpretação da literatura de suporte.

A estrutura desse trabalho é formada por quatro grandes itens:

O primeiro trata de pesquisa bibliográfica e documental dos fundamentos teóricos da natureza da fadiga, seus fatores contribuintes e seus efeitos na aviação. Também explicita os aspectos das organizações e sua interferência colaborativa para o surgimento do problema da fadiga.

O segundo item descreve os materiais e métodos utilizados, sendo qual a população foco, nesse caso os pilotos de helicóptero do Grupamento de Radiopatrulha Aérea “João Negrão” (GRPAe) da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). O instrumento de pesquisa e suas características, bem como os procedimentos executados para a realização da pesquisa e a coleta dos dados.

O terceiro item descreve todos os resultados obtidos da observação da rotina dos pilotos de helicóptero e as interações com a Organização, bem como os obtidos com o instrumento de pesquisa.

O quarto item do trabalho faz as discussões necessárias sobre os resultados apresentados, confrontando com a fundamentação colhida no marco teórico.

O quinto e último item transcreve as conclusões, recomendações e limitações dessa pesquisa.


Para ler o trabalho clique em:

MONOGRAFIA


Autor: Oscar Ferreira do Carmo é Major da Polícia Militar de São Paulo e Comandante da Base de Radiopatrulha Aérea de Ribeirão Preto.

MedEvac financia estudo do sono para clínicos de EMS

eat-sleep-fly-repeat-aviation-shirt-5A Fundação Internacional MedEvac aprovou a concessão de bolsa de estudos ao Dr. Daniel Patterson para investigar os padrões de sono-vigília e a redução de fatiga em tempo real em clínicos de Serviços de Emergência Médica (EMS).

A comunidade de transporte médico exige que os serviços de emergência estejam disponíveis 24 horas por dia.  O trabalho por turno exige, por sua vez, que os clínicos que atendem em emergência pré-hospitalar diverjam dos ciclos circadianos de sono normais, pois precisam estar vigilantes quando a pressão para dormir é enorme.

Apesar dos dados recentes sugerirem uma ligação entre sono, fadiga e segurança no ambiente de EMS, esse dados estão limitados a estudos de corte transversal e sujeitos ao viés de memória e de mensuração. O estudo proposto por Dr. Patterson fornecerá dados observacionais prospectivos detalhados para tratar de questões que envolvem as relações entre a duração dos turnos, os ciclos de sono/vigília e a vigilância comportamental.

O objetivo central do estudo é abordar a prioridade da pesquisa da Fundação que é [o desenvolvimento] de “tecnologias e técnicas educativas voltadas para a melhora do cuidado aos pacientes, da tomada de decisões críticas, da segurança ou de outras áreas pertinentes à medicina do transporte.”

O Dr. Patterson, junto com vários colegas, pretende alcançar este objetivo realizando um estudo em múltiplos locais com clínicos de EMS. O Conselho da Fundação aprovou a Fase 1 do estudo, que envolverá um estudo observacional prospectivo dos ciclos de sono/vigília, da duração dos turnos de trabalho, dos intervalos entre os turnos, da fadiga e da vigilância comportamental (ex., vigilância psicomotora). A análise dos dados da Fase 1 focará nas diferenças entre os turnos de 12 horas e os de 24 horas.

Este estudo terá um impacto significativo na comunidade de transporte. Em primeiro lugar, o debate sobre a duração dos turnos (tunos mais curtos versus mais longos) é contínuo e irresoluto. Muitos sistemas de EMS usam períodos de turno prolongados devido ao baixo volume de pacientes e às limitações de recursos. Já outros sistemas usam turnos de duração mais curta. As relações entre a duração dos turnos, o sono, a fadiga e o desempenho são complexas e os dados que apoiam a prescrição de escalas com turnos mais curtos ou mais longos são limitados.

“A Fundação está animada por poder apoiar este estudo, que acredito ser essencial não apenas para melhorar os ambientes de trabalho, a segurança dos profissionais da nossa indústria e de cada paciente, mas também para ajudar a melhorar o nível do cuidado aos pacientes, atingindo um nível ideal”, afirma Rick Sherlock, presidente e diretor excecutivo da Fundação Internacional MedEvac.

O Dr. Patterson e seus colegas também sugeriram uma Fase 2 para o estudo. No entanto, ela só será considerada para bolsa de pesquisa após a conclusão e apresentação da Fase 1. A fase 2 envolveria um estudo experimental e testaria intervenções inovadoras no gerenciamento do risco de fadiga que utilizam avaliações em tempo real e intervenções para melhorar a vigilância dos clínicos de EMS durante os trabalhos por turno, assim como a saúde deles relacionada ao sono de uma forma geral.

Fonte: Rotor & Wing

 

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