Junior Borneli
Fundador da StartSe
Durante muito tempo, a coleção da enciclopédia Barsa era exibida nas estantes das casas de muitas pessoas. Era um claro sinal de cultura, de apreço pela leitura e pelo conhecimento.
Os “vendedores de Barsa” rodavam o Brasil inteiro, levando conhecimento aos mais distantes lugares. Comprar a coleção completa de 18 volumes e 10 mil páginas era sinal claro de boa condição financeira e de preocupação com os estudos dos filhos.
Comprar a Barsa era quase um investimento. Era algo que se passava de pai para filho, fonte de pesquisa para alunos e professores. Era a expressão máxima do acesso ao conhecimento.
A Barsa representa muito bem o que foi a evolução da educação. Uma coletânea de livros, passada de geração para geração, como fonte máxima do conhecimento a nível escolar.
Aquela informação, estática, imutável, permanecia para sempre como fonte de pesquisa e conhecimento.
Hoje, em apenas 60 segundos:
- são feitas 3,5 milhões de pesquisas no Google;
- no YouTube, 4,1 milhões de vídeos são acessados;
- 16 milhões de mensagens de texto são enviadas; e
- 70 mil horas de vídeos são transmitidas no Netflix.
Temos um mundo em constante movimento, repleto de troca de informações e com geração de conteúdo infinita.
Segundo o educador americano Jonathan Bergman, “praticamente tudo que alguém ensina, ou aprende, já está disponível no YouTube”. Sem qualquer custo.
Na última década, mudamos a maneira de nos comunicar, de transporte, de viajar, assistir a filmes, de ouvir música e de ler notícias e livros.
Todos mudaram e a educação não mudou. Continuamos no mesmo modelo educacional que fez da Barsa um ícone do conhecimento.
A Barsa já não existe mais, mas ainda continuamos presos a um modelo de escola criado há mais de 200 anos.
As crianças e jovens de hoje são expostos a uma quantidade enorme de informação desde muito cedo.
E, diferente da Barsa, não é uma informação estática; é algo vivo, que se modifica e se transforma, com diversos pontos de vista, interpretações e contrapontos.
A educação tradicional, assim como a Barsa, cumpriu seu papel até aqui. Mas é hora de começarmos a explorar mais as habilidades dos indivíduos, em vez de formar alunos em linha de produção.
Precisamos de mais contexto e menos controle. Precisamos de mais aprendizagem e menos ensino.
E as novas tecnologias, surgidas nas últimas décadas, abrem as portas para isso. A Inteligência Artificial já nos ajuda a criar trilhas individualizadas de aprendizagem.
A realidade virtual torna palpável aquilo que antes era expresso apenas por palavras. As plataformas de vídeo levam conteúdo de qualidade para qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo.
A tecnologia democratizou o conhecimento. Tornou barato o que era caro e pouco acessível. Nos deu a chance de aprender – como a Barsa fazia – e nos permitiu desaprender e reaprender diversas vezes, coisa que as 10 mil páginas impressas da Barsa jamais fariam.