MARCUS VINICIUS BARACHO DE SOUSA
Capitão da Polícia Militar de São Paulo
Ao chegar ao seu escritório, um piloto vê sobre a mesa uma carta, procurando recolher seus pertences, a coloca no bolso e segue para casa. Era fim do dia e dos tempos de voo e missões, chegara para ele a aposentadoria e muitos pensamentos ocupavam sua mente.
Rápido e sem perceber, guardou aquele pedaço de papel, sem chamar muita atenção.
Já em casa, cansado, deita-se e começa a fazer uma avaliação de todo o tempo em que trabalhou na aviação de segurança pública, quando vem o sono e o leva a sonhar. No devaneio, um anjo se aproxima e pede que tire a carta do bolso, para que possa ler, embaralhadas as letras, pelas lágrimas que chegam, enxerga algo mais ou menos assim:
Chefe… sentimentos de alegria e tristeza se misturam como tinta, ao sabermos que vai embora, pois, compreendemos que encerra com brilhantismo uma jornada, mas a iminência da sua ausência já nos abala. Não sei se me farei entender, e tão pouco, expressar o que nossos colegas estão sentindo, pois, nunca passou por aqui, um líder que se preocupasse tanto conosco.
Ao contrário dos demais, você não sabia dizer quantas horas de voo tinha ou quantas missões fez, apenas revelava que todas elas foram dedicadas a salvar vidas, proteger pessoas, ensinar novos pilotos a fazer o mesmo e que suas missões foram todas focadas no amparo à sociedade.
Perguntamos um dia sobre quantas aeronaves sabia pilotar e sua resposta foi: “só sei pilotar as que servem para ajudar as pessoas.”. E quando questionamos sobre suas habilitações, treinamentos e cursos que fez, respondeu: “só tenho o necessário para voar até onde ninguém quer ir e depois retornar.”.
Não vimos medalhas em seu peito e ao indagarmos por que não as usava, sorrindo nos disse: “vocês estão olhando no lugar errado, minhas medalhas são a lama em minhas botas, o cheiro de querosene em meu macacão, as luvas de voo gastas, o capacete riscado pelo tempo e o abraço que recebo de meus amigos e da minha família, ao final de cada dia.”.
Sua coragem nos levou a frente, um passo de cada vez, mas a cada conquista, conseguíamos nos enxergar mais preparados e capazes de cumprir nossas obrigações. Fazendo do simples, a medida para a solução de problemas e crises, era você quem nos alertava que não havia necessidade de “ser o melhor”, mas apenas o suficiente para desempenhar cada missão, isso porque “ser o melhor” é algo relativo, mas ser suficiente é definitivo.
Marcando sua preocupação com a qualidade e não com a quantidade, não cansamos de ouvir sua melhor frase: “quanto menos, melhor!”, pois, sempre valorizou o trabalho bem feito, pelas poucas pessoas dedicadas, nos ofertando gratidão a todo o momento.
Chefe, agora é a nossa vez, obrigado por tudo que fez e segue com Deus!
Nesse momento o piloto acorda, sem saber direito o que era sonho ou realidade, procura a carta no bolso do macacão, não a encontra…preocupado de tê-la perdido, ao retornar ao quarto, depara com o envelope meio que aberto na cabeceira de sua cama. Abre, lê tudo que está escrito e percebe que não havia encerrado sua história, mas sim, contribuído para começar a de muitos outros.
Bons voos, com boa gestão!