Cuidado com o combustível !

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“É Full, Comandante?” Muito cuidado com essa pergunta! Mais do que abastecer a aeronave, deve-se atentar para os cuidados que envolvem a operação e armazenamento de combustíveis de aviação. Observando-se as cores das amostras de gasolina de aviação (AVGAS) na figura abaixo, qual estaria “apropriada” para utilização?

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Não é muito difícil perceber que a amostra mais escura está fora dos padrões normais de cor previstos para a AVGAS (verde ou azul). No entanto, foi retirada do filtro decantador de combustível de uma aeronave que, após realizar um reabastecimento, apresentou falha do motor em voo. O combustível estava contaminado!

Lidar com combustíveis de avião requer cuidados especiais. Não é somente abastecer e pronto, o voo já está garantido! Da drenagem dos tanques ao abastecimento das aeronaves, passando pelo manuseio e armazenamento, o ideal é que os procedimentos previstos sejam cumpridos à risca.

Prezado Comandante/Mantenedor:
“O senhor tem se preocupado com a qualidade do combustível que utiliza? Tem realizado a drenagem diária do combustível conforme o previsto? Tem solicitado o teste do combustível antes do abastecimento? Com que frequência tem acompanhado os abastecimentos? Durante os abastecimentos e destanqueios verificou se a aeronave estava aterrada adequadamente?”

Conforme dados divulgados pelo CENIPA, entre 2002 e 2011, acidentes aeronáuticos tipificados como falha de motor em voo representaram 23,2% do total das ocorrências aeronáuticas, no âmbito da aviação civil brasileira. Parte desse percentual de falha de motor em voo está relacionado a procedimentos de abastecimento mal sucedidos e utilização de combustíveis contaminados por água, microorganismos e outros.

Diversas ocorrências de solo também estão relacionadas a condições inseguras envolvendo combustíveis de aviação. Durante os procedimentos de abastecimento e destanqueio de combustível, um aterramento incorreto e/ou falhas nos procedimentos de segurança poderão causar princípios de incêndio capazes de produzir danos às pessoas e aeronaves.

Vidas humanas foram ceifadas e prejuízos altíssimos recaíram sobre operadores e proprietários de aeronaves simplesmente devido à ausência de cuidados básicos com o manuseio, armazenagem e procedimentos de abastecimento/destanqueio de combustíveis.

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Em março de 2008, uma aeronave SR22 CIRRUS (que utiliza gasolina de aviação), acidentou-se em decorrência de ter sido abastecida com 265 litros de querosene de aviação (JET A-1). Instantes após a decolagem do aeródromo de Jacarepaguá-RJ, a aeronave caiu vitimando as quatro pessoas que estavam a bordo.

Numa outra ocorrência, em março de 2010, a não realização da drenagem do combustível antes do primeiro voo do dia contribuiu para que a aeronave apresentasse falha de motor em voo devido à presença de água no combustível. O piloto e o passageiro saíram ilesos e a aeronave ficou gravemente danificada.

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A ocorrência envolvendo a aeronave EMB 202A, em 2011, dentre outros fatores, teve o inadequado armazenamento de combustível como fator contribuinte. O etanol utilizado pela aeronave não atendia às especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). De acordo com o resultado encontrado após a análise do combustível, as amostras estavam “não conformes” para os aspectos de massa específica e teor alcoólico. O combustível estava sendo acondicionado em recipientes fora das especificações elencadas pela NBR 15216, a qual trata do armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis.

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Outro aspecto relacionado à operação com combustíveis é a eletricidade estática. Um exemplo disso foi o incêndio ocorrido, em 2011, envolvendo uma aeronave Sêneca. Ao realizar destanqueio do combustível, no interior do hangar,
devido à atmosfera favorável e falhas nos procedimentos de aterramento e segurança, a aeronave incendiou-se quase que completamente. Neste evento, houve apenas danos materiais.

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Para detalhes técnicos envolvendo combustíveis de aviação, devem ser consultadas as legislações NBR 15216 e NBR 13310, que tratam sobre o armazenamento de líquidos inflamáveis, combustíveis e das características dos caminhões tanques de abastecimento, respectivamente. Aliado a isso, temos ainda as Fichas de Informação e Segurança de Produto Químico (FISPQ) que complementam as informações sobre controle de qualidade dos produtos químicos, dentre eles os combustíveis de aviação.

ALGUMAS DICAS ENVOLVENDO COMBUSTÍVEIS DE AVIAÇÃO

1 – Não fumar no interior de hangares ou durante destanqueios e/ou abastecimentos de aeronaves.

2 – Verificar com frequência o estado da borracha de vedação dos bocais de abastecimento dos tanques. Caso estejam ressecadas ou danificadas poderão contribuir para a entrada de água nos tanques.

3 – Realizar a drenagem diária do combustível utilizando recipiente transparente, conforme especificado pelo fabricante da aeronave. Observar se há presença de água no fundo do recipiente. Se constatar a presença de água, sujidades ou limo, submeter a amostra à análise.

4 – Solicitar ao abastecedor o teste para comprovação da qualidade do combustível.

5 – Acompanhar os abastecimentos.

6 – Durante abastecimentos e destanqueios, atentar para o correto aterramento a fim de que sejam evitados princípios de incêndio devido à eletricidade estática.

7 – Utilizar EPI / EPC e portar extintor de incêndio (adequado e em condições de uso) durante abastecimentos e destanqueios de combustíveis.

8 – Não utilizar ou reutilizar combustível destanqueado.


Fonte: Edição nº 09 do PreviNE, Ano 2, Maio 2013 (Boletim Eletrônico de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Região Nordeste). Produção: Seção de Prevenção do SERIPA II.


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