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Por Roberto Caiafa
Jornalista e Repórter Fotográfico.

Itália – O combate à evasão de divisas e a fiscalização da regulamentação político-econômica sempre foram consideradas as principais atividades desenvolvidas pela Guardia di Finanza, polícia militar italiana. Nada mais errado. E vamos explicar porque.

Para conhecer mais sobre as operações aéreas dessa força policial de elite, o Resgate Aeromédico visitou o Comando de Operações Aéreas e Navais da Guardia di Finanza no aeroporto “Mario di Bernardi” em Pratica di Mare, grande unidade comandada pelo General de Brigada Joselito Minuto.

Pratica di Mare apresenta uma infraestrutura de máxima segurança e alta vigilância, situada a apenas 20 km de Roma, a capital da Itália, gerida pela Aeronautica Militare Italiana. Essa grande base, reconhecida como centro nevrálgico para a realização de eventos internacionais (incluindo operações NATO/OTAN), foi também o ponto de origem da Operação EOS das Forças de Defesa Conjuntas Command, o que transformou esse moderno aeroporto no centro nacional de aquisição, armazenamento e transporte de vacinas durante a Pandemia de Covid-19 que atingiu duramente a Itália.

Saindo de Mario de Bernardi, e com base na sólida experiência adquirida em logística no âmbito de missões internacionais, partiram viaturas e aeronaves de defesa para todos os principais centros da península italiana, realizando o enfrentamento a Pandemia. Mais recentemente, durante os trágicos eventos dos abalos sísmicos na Turquia e Síria, bimotores turboélices ATR 72MP da Guardia di Finanza decolaram em direção a fronteira desses dois países, onde prestaram apoio logístico e transportaram pessoal médico em meio a um rastro de destruição.

Através dessa infraestrutura estratégica, a Guardia di Finanza realiza missões de vigilância marítima e patrulhamento; combate ao contrabando e narcotráfico; luta contra a migração ilegal e o tráfico de pessoas; realiza um acurado monitoramento ambiental e controle de ocupação do solo italiano, e muito mais.

De fato, a GdF é a única polícia italiana capaz de intervir nas mais diversas missões e interagir e trocar informações, meios e habilidades com todas as outras forças policiais, órgãos governamentais, agências internacionais e centros de pesquisa para uma colaboração em todos os níveis institucionais.

Trata-se de uma organização policial de elite, com meios e equipamentos modernos, comando próprio, moral elevado, estrutura de pessoal equilibrada e que conta com o apoio da indústria aeroespacial e de Defesa italiana na forma de produtos e suporte logístico para seus meios de emprego e treinamento, mantidos diuturnamente em excelentes condições nas bases operativas estrategicamente dispostas por todo o território da “bota” italiana.

Avião ATR72. Foto: Roberto Caiafa.

Centro de Simulações da Guardia di Finanza

Antes que a reportagem tomasse parte em uma missão a bordo da aeronave ATR 72MP voando sobre o Mediterrâneo utilizando de forma real seus sofisticados sistemas de esclarecimento, vigilância, reconhecimento e inteligência, acessamos o hangar “L” da base para vivenciar o treinamento ministrado pelo novo Centro de Simulação de Operações Aeronavais, o primeiro do gênero na Europa especialmente configurado para o treinamento de pilotos e pessoal com recursos imersivos e de simulação empregando soluções fornecidas pela empresa italiana Leonardo.

A tecnologia de ponta utilizada permite integrar avançados sistemas de simulação conectados em rede, reproduzindo de forma muito realista os helicópteros, aeronaves, sensores e eletrônicos a bordo, e emular cenários táticos nos quais as forças aéreas, navais e o comando de solo pode interoperar em um nível de vários domínios por meio da integração simultânea de dados. O resultado desta colaboração entre a empresa Leonardo e a GdF é a disponibilização de uma joia tecnológica que entrega uma realidade simulada e sistemas com detalhes imersivos impressionantes.

O simulador do helicóptero Leonardo AW139 operado pela GdF possui domo de 180º, alta definição de imagens e movimentos em vários eixos que realçam mais ainda a realidade do treinamento. Com conectividade em rede, é possível realizar voos com mais meios operando, ampliando o perfil das simulações com grande nível de realismo tático, além da economia em horas de voo e diminuição no desgaste do equipamento real.

O outro simulador ao qual a reportagem teve acesso, o FTD do ATR 72MP, treina pilotos nos procedimentos de voo, e também atualiza a coordenação direta com os operadores de sistemas que estão ocupando os três consoles de sistemas encontrados a bordo dessa aeronave exclusiva. O tipo de voo que esses pilotos vão executar está diretamente relacionado com as demandas passadas pelos operadores de sistemas, a medida que as informações são coletadas e processadas.

Também existe no hangar “L” um sistema para treinamento de resgastes com emprego de guincho, especialmente útil nas operações com tropas alpinas (outra força italiana altamente especializada) e um sofisticadíssimo simulador de passadiço estático, de alta resolução, qualificado para treinar pessoal naval que opera as embarcações interceptoras da GdF, oferecendo inclusive óculos de realidade virtual para dar mais realismo as simulações. Esse sistema também permite que pilotos das aeronaves GdF conheçam as dificuldades enfrentadas pelos operadores navais, o que facilita o entendimento e valoriza a consciência do trabalho em equipe.

Voando o ATR 72MP

A aeronave escolhida para a missão de demonstração em voo dos sistemas de bordo ATOS (Sistema de Observação Tática Aerotransportada), o ATR 72MP da GdF, é um bimotor turboélice utilizado em uma ampla gama de missões, incluindo patrulha marítima, operações de busca e salvamento, combate anti-superfície e Inteligência Eletrônica. Ao contrário dos aviões militares comuns, o que chama a atenção no ATR 72MP é a amplitude dos espaços para os tripulantes, algo particularmente acolhedor nas longas missões destinadas a durar mais de 8 horas como, precisamente, o patrulhamento marítimo.

Após um briefing de segurança completo, efetuamos o taxiamento e a decolagem para em seguida ganharmos altitude rapidamente em direção a costa romana, no mar Tirreno. Assim que o sinal verde é dado para o início dos trabalhos, o pessoal da GdF se posiciona em frente ao sistema de missão ATOS, que fica próximo na parte central da fuselagem, a direita, os três operadores sentados em confortáveis assentos ergonômicos ajustáveis visualizam a missão em enormes telas LCD a cores com capacidade touch screen.

O ATOS é o sistema de gerenciamento de missão aérea avançado, flexível e de arquitetura aberta que integra vários sensores e subsistemas para fornecer consciência situacional total e tomada de decisão oportuna. Desenvolvido e produzido pela Leonardo, o ATOS gerencia e integra as informações dos sensores a bordo da aeronave, com uma interface homem-máquina que auxilia e facilita o trabalho dos operadores.

No caso da configuração empregada pelos ATR72MP da GdF, dois consoles gerenciam separadamente os sensores de bordo, respectivamente o radar Gabbiano TS-80 Ultra-Light (Leonardo) e um sistema completo eletro- óptico estabilizado com CCD a cores.

O terceiro console está equipado com um sofisticado sistema COMINT (Communications Intelligence), capaz de rastrear quaisquer transmissões de comunicações nos múltiplos espectros eletromagnéticos sob vigilância. O conjunto de sensores de missão e outros equipamentos pode ser adaptados para atender as necessidades operacionais de cada usuário, e isso inclui as soluções da Leonardo, sistemas de terceiros ou sensores e equipamentos desenvolvidos localmente pelo cliente/operador e integrados ao ATOS.

Perto do arquipélago das Ilhas Ponziana, a cerca de 21 milhas náuticas da costa de partida, começa a ser feito o monitoramento do tráfego no mar, e no console nº1, que mostra os dados recebidos do radar, os alvos presentes são interceptados na zona sobrevoada, enquanto os sistemas de inteligência realizam um skimming, com base nas plataformas já cadastradas no banco de dados do GdF, a procura de alguma discrepância, na tela nº2.

O que for classificado como estranho a este banco de dados gera um comando e o operador do sistema eletro-óptico é ativado para efetuar uma identificação precisa usando o grande alcance dos sensores instalados na torre afixada externamente na fuselagem.

Por fim, o sistema COMINT, visualizado na tela nº3, atua com o objetivo de interceptar aparelhos telefônicos na área geográfica de referência, para um controle ainda mais aprofundado de alvos suspeitos. Qualquer aparelho não identificado, transmissão fora do padrão ou sinal inconclusivo é imediatamente checado e analisado, as ações subsequentes sendo determinadas pelo líder da missão.

Felizmente, o voo demonstração não identificou embarcações ou comunicações suspeitas, e após um par de horas no ar, a aeronave ATR 72MP inicia o retorno a Pratica di Mare. Os dados coletados neste voo serão processados ex post pela Guardia di Finanza para um estudo mais aprofundado.

Caso a missão tivesse resultados diferentes ainda em voo, esses dados seriam transmitidos à base operacional imediatamente para avaliação de especialista em solo, ou processados durante a missão por um especialista a bordo, tudo visando uma intervenção oportuna, rápida e decisiva em qualquer operação ilegal.

Frota ATOS escalável

Durante o voo demonstração no ATR 72MP, uma operadora explicou que teoricamente não seriam necessários três consoles para realizar este tipo de missão, mas essa configuração existe por que o sistema ATOS é escalável e apresenta diferentes setups nas máquinas voadas pela GdF.

Criado especificamente para a integração dos dados recolhidos, o ATOS consegue fundir esses dados através da utilização de um único console que envolva apenas um operador, como é feito por exemplo, nas asas rotativas da GdF. Para conferir de perto essa flexibilidade operacional do Sistema ATOS, visitamos duas aeronaves expostas estaticamente no pátio operacional da base em Pratica di Mare, um AW139 e um AW169M, ambos fabricados pela Leonardo.

O helicóptero Leonardo AW139 apresenta um console de operador com duas telas integradas sobrepostas, mais os demais sistemas optrônicos/IR/TV instalados do lado esquerdo externamente e no ventre/queixo da aeronave (com muito espaço a bordo).

O Leonardo AW169M (modernizado), exemplar entregue em fevereiro último, foi o primeiro da frota AW169 GdF dotado de esquis em lugar do trem de pouso com rodas retráteis, utiliza um esquema semelhante porém com somente uma tela de visualização para o operador. Todas as estações possuem manetes e controles multifuncionais, track ball e mouse e interface homem máquina avançada.

Esses helicópteros da Guardia di Finanza apresentam uma configuração dedicada, incluindo um guincho de resgate, um sistema de flutuação de emergência e botes salva-vidas, sistema TCAS II (Traffic Collision Avoidance System), cockpit compatível com NVG (Night Vision Goggle), sistema HTAWS (Helicopter Terrain Awareness Warning System), comunicações avançadas, tecnologia HUMS, um holofote, um detector de gelo, antenas para capacidade SATCOM, detector de telefone celular e sistema de detecção e reconhecimento hiperespectral.

Os helicópteros visitados pela reportagem também são equipados com uma variedade de tecnologias Leonardo, como o sistema RW ATOS (Airborne Tactical Observation and Surveillance) com um console de operador avançado, radar Gabbiano TS Ultra-Light, LEOSS (Long Range Electro-Optical Surveillance System), transponder M428 IFF, OPLS (Obstacle Proximity Lidar System), sistemas de rádio V/UHF, painéis de cockpit e iluminação preparada para uso de NVG.

O AW169M apresenta modos IFR exclusivos, qualificação de voo para piloto único, busca avançada e resgate (SAR) com padrões de pesquisa FMS (Flight Management System) dedicados, permitindo que a aeronave voe automaticamente ao longo de um caminho de busca predefinido, o que reduz a carga de trabalho do piloto na fase de busca de um missão SAR. O AW169M é o único helicóptero em sua categoria de peso que possui Modos SAR Avançados.

Radar Gabbiano TS Ultra-Light da Leonardo

O radar Gabbiano TS Ultra-Light fornece vigilância de longo alcance e detecção de pequenos alvos para forças civis e militares em cenários de Segurança Interna – incluindo tráfico de droga, contrabando, imigração ilegal e terrorismo; Proteção da ZEE (por exemplo, pesca ilegal); Operações de Patrulhamento Marítimo e de Busca e Salvamento; Vigilância ambiental (derrames de petróleo e materiais perigosos, proteção da vida selvagem); Missões de Busca e Salvamento de Combatentes; Apoio às operações secretas das Forças Especiais de dia ou de noite.

Esse radar apresenta um elevado nível de modularidade e flexibilidade, permitindo a operação a bordo de veículos aéreos não tripulados, plataformas de asas fixas e asas rotativas tripuladas.

Três tipos de grupo de antenas estão em serviço, com 106cm e placa de antena de 80cm (ambas com varrimento de 360° Azimute) e com placa de antena de 12″ (varrimento de 180° Azimute). Dois tipos de transmissores de estado sólido estão em serviço, com 80W e 20W de potência média.

Entre as principais características do Sistema ATOS da Leonardo, destacam-se o baixo peso, baixo consumo de energia; capacidade de LPI ou baixa probabilidade de interceptação; capacidade de travar em mais de 200 alvos enquanto mantém o escaneamento (TWS: > 200 alvos); habilidades de contra contra-medidas eletrônicas ou ECCM; gerador de forma de onda digital/programável; zona cega (clutter) mínima; modos de alta resolução; capacidade de vigilância marítima em distâncias de até 160NM; elevada fiabilidade; interfaces standard e flexíveis; receptor digital de dois canais.

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