Repercussões do acidente com o helicóptero da Polícia Civil de Goiás

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Após o trágico acidente com o helicóptero da Polícia Civil, que vitimou todos seus ocupantes, iniciou-se a competente investigação do acidente pelo CENIPA e pela própria Polícia Civil. Outra coisa que iniciou-se foi a temível investigação paralela da imprensa e sua consequente antecipação de conclusões.

Início da investigações

Com a imprensa toda voltada para noticiar o terrível acidente, diversas hipóteses foram levantadas pela mesma, primeiro que o preso teria assumido o controle da aeronave, posteriormente que uma peça teria se soltado em voo.

Ainda no campo da ações iniciais, houve uma reunião de representantes da fabricante AgustaWestland com representantes do governo, envolvendo representantes das polícias Civil e Militar, da Superintendência de Gestão em Finanças e Planejamento, além do secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado.

Os representantes da fabricante confirmaram que a aeronave estava na garantia, mas ainda acharam cedo para dar um parecer e só vão se pronunciar depois de concluídas as investigações.

O secretário João Furtado explicou como procederia o encontro: “Primeiro, nós vamos informar oficialmente o fabricante sobre a queda e das nossas impressões iniciais sobre o acidente. Em segundo, nós vamos solicitar uma orientação, já que nós temos ainda duas aeronaves da mesma série e modelo e que, igualmente, estão em garantia de fábrica, de mil horas ou 24 meses. Queremos uma orientação de como operar essas aeronaves enquanto ocorrem as investigações”.

Essa foi a primeira reunião realizada entre a Secretaria de Segurança Pública e a fabricante do helicóptero da Polícia Civil após o acidente. Ficou acertado que a fabricante vai se responsabilizar pela manutenção dos dois helicópteros que estão parados na sede do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer) por questão de segurança.

Questão da homologação da oficina

A primeira “conclusão” polêmica foi a questão da homologação da oficina de manutenção aeronáutica contratada pelo Estado de Goiás.

Documento enviado à Secretaria de Segurança Pública de Goiás revelava que a Fênix, empresa responsável pela manutenção dos helicópteros, não havia feito a inspeção da aeronave.

Das 84 ações que deveriam ser feitas no helicóptero durante as 80 horas que ele ficou na oficina da empresa, apenas duas foram feitas: a troca de óleo e a lubrificação superficial dos componentes. O documento ainda justifica que a Fênix só soube da suspensão das atividades pela Anac quando o helicóptero da Polícia Civil já estava na oficina.

Investigação do contrato de manutenção aeronáutica pelo MP 

Devido a suspensão das atividades da empresa, o Ministério Público de Goiás instaurou um inquérito civil público para investigar o processo de manutenção dos helicópteros dos órgãos de segurança de Goiás, com o objetivo de apurar se houve ou não ação ou omissão desde o recebimento das três aeronaves.

De acordo com a promotora responsável, o inquérito vai apurar se ao contratar a empresa de manutenção das aeronaves, o estado comprovou, de forma legal e suficiente, as qualificações técnicas e jurídicas para executar os serviços. “Vamos investigar se houve pontualidade das revisões e, sobre a contratação da empresa Fênix, também vamos apurar o histórico junto à Anac e ver se ela tinha habilitação para revisar as aeronaves. Vamos apurar se o estado foi eficiente”, relata Marlene Nunes. “Vamos avaliar também o comportamento do estado e da revendedora das aeronaves, observando critérios técnicos para operacionalização das máquinas. Vamos investigar se a revendedora cumpriu as obrigações na entrega, se explicou o funcionamento da aeronave, se deu as orientações necessárias na entrega de manual”, detalha a promotora.

Manutenção pelo fabricante / Nota preliminar

Tendo em vista as outras duas aeronaves do mesmo modelo AW119 terem sido “groundeadas” e que a oficina homologada ter sido descredenciada pela ANAC, a AgustaWestland comprometeu-se a realizar a manutenção das aeronaves sem custo para o estado, nas próprias instalações do GRAer/GO.

Com a expedição da autorização competente pela ANAC para prosseguir com a manutenção, a fabricante AgustaWestland enviou uma carta a donos e operadores de aeronaves AW119 com informações preliminares acerca do acidente.

No texto, a empresa apresenta novas informações sobre a investigação do acidente aéreo e explica que o motor estava com potência muito baixa ou sem alimentação. A nota, no entanto, afirma que não foi identificada a causa do problema.

Segundo a fabricante, verificou-se que houve queda na rotação da hélice do helicóptero antes do momento do impacto. No entanto, afirma a nota, não foram encontrados nos rotores, principal e de cauda, danos pré-existentes que teriam impedido a livre rotação dos sistemas. Na prática, significa que não havia defeitos nas peças capazes de atrapalhar o piloto a fazer uma manobra de pouso de emergência.

Para o mecânico e piloto Marcelino Oliveira, o documento levanta a hipótese que faltou combustível para o motor. “Significa que parou de chegar alimentação ou combustível para o motor”, explica. Segundo ele, se confirmado, o fato sugere outras diversas hipóteses: “Tinha combustível ainda? A linha que liga o tanque ao motor foi interrompida, ou quebrou? As duas bombas responsáveis por mandar esse combustível do tanque para o motor entraram em falha?”, questionou.

Repúdio à nota do fabricante

De imediato, o GRAer/GO repudiou a nota divulgada pela fabricante .

“Eu vejo que essa nota é maldosa em relação a tudo que aconteceu. O Oswalmir não era irresponsável e nenhum de nós somos levianos enquanto a isso. É sem fundamento esse tipo de declaração”, comenta o tripulante operacional Cláudio Teodoro.

Já o comandante do Graer, major Ricardo Mendes, acredita que houve precipitação da empresa em expedir a nota.

“Essa carta não significa nada pra mim, até porque as investigações ainda estão no início e é muito preliminar chegar a alguma conclusão. A Agusta [empresa fabricante da aeronave] se pronunciou sem um laudo técnico da Cenipa e, por isso, acredito que ela foi precipitada em enviar esse documento”, declara o comandante.

Em nota, a Agusta Westland disse que todas as informações divulgadas na carta são preliminares porque as investigações ainda não foram concluídas.

Conclusão

Esse acidente, como qualquer outro acidente aeronáutico está sendo investigado pelo CENIPA e pela Polícia Civil de Goiás, que são as autoridades competentes para tal.

No caso concreto em si, mesmo a ação inicial já ter sido concluída, nem mesmo o relatório preliminar oficial do acidente foi divulgado, logo qualquer suposição não passa de mero e despropositado “achismo”, que em devido grau pode macular injustamente memórias e reputações das diversas pessoas, instituições e empresas atingidas por tal.

Vale lembrar também que precipitação gera precipitação. Sendo assim, a hora é de refletir, rever processos e treinamentos e deixar as concluções para as competentes instituições que certamente estão debruçadas com afinco para que seja dado uma conclusão oficial o mais breve possível desse triste episódio da Aviação de Segurança Pública brasileira.

Pesquisa e Texto: Alex Mena Barreto/Piloto Policial.

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