Santa Catarina – Controle de multidões, apoio em operações policiais e fiscalizações ambientais, auxílio em trabalhos de estabilização de encostas e áreas de risco. Ao mesmo tempo, serviços realizados de maneira eficiente e sem deixar de lado a redução de custos com diárias, com produção de documentos técnicos mais consistentes e aumento da produtividade dos servidores públicos.
Pensou em uma ferramenta capaz de proporcionar isso?
Pois estes são os drones, as pequenas aeronaves pilotadas de forma remota, usadas há pelo menos quatro anos por diferentes órgãos do Governo do Estado de Santa Catarina.
Dentro da política de uso de ferramentas tecnológicas e de inovação, os drones têm sido aliados de instituições como o Corpo de Bombeiros Militar, a Defesa Civil, a Polícia Militar e o Instituto do Meio Ambiente (IMA), que no fim do mês de junho recebeu um prêmio em São Paulo pelo uso das pequenas aeronaves na proteção do meio ambiente.
No IMA, os drones são utilizados desde setembro de 2017. Entre outras finalidades, eles ajudam no mapeamento e inspeção de áreas para o licenciamento ambiental, identificação de focos de incêndio, geoprocessamento, monitoramento preventivo, fiscalização de crimes ambientais e caça ilegal, além do controle e contagem de espécies.
No caso específico do licenciamento ambiental, que exige visitas de campo, os drones têm permitido uma economia significativa em diárias. Exemplo: em alguns casos, os fiscais ambientais necessitavam percorrer longos trechos a pé para observação, ação que poderia levar dias; agora, com as aeronaves remotamente tripuladas, o mesmo trabalho pode ser feito em menos de 24 horas.
Segundo Diego Hemkemeier Silva, gerente de Informações Ambientais e Geoprocessamento do IMA, a nova tecnologia também auxilia o Instituto na produção de peças técnicas mais confiáveis a partir das observações em campo. Dessa forma, ocorre um incremento na segurança jurídica dos casos analisado pelo órgão.
“Em algumas situações, temos vistorias que demandam muito tempo, e essa carga horária é reduzida consideravelmente com o drone. Os processos são analisados de forma mais rápida e eficaz, aumentando a nossa produtividade. A Segurança Jurídica também é aumentada pela geração de peças técnicas mais confiáveis e assertivas. Em geral, o drone consegue reduzir os custos para o governo do Estado, mantendo a fiscalização, auditoria e licenciamento como devem ser feitos”, resume Silva.
Todas as informações obtidas com as aeronaves remotamente tripuladas são gerenciadas por um sistema elaborado pelo IMA para este fim, o Sistema de Informações Ambientais. Além de subsidiar ações, o sistema poderá ser disponibilizado a outros órgãos como Ministério Público Estadual e Federal, Tribunal de Contas e demais órgãos reguladores.
Além disso, o IMA também tem ajudado outros órgãos, como a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), que solicitou apoio para verificar a presença de uma determinada bactéria que afeta os bananais. Em uma inspeção aérea, foi possível observar e entender o hábito do patógeno, que precisa de um controle rápido e rigoroso para não afetar toda a produção de banana do Estado.
Ajuda essencial aos bombeiros
No caso dos bombeiros catarinenses, a ajuda dos drones se reflete em todas as frentes de trabalho. É o que explica o tenente Pedro Reis, um dos pioneiros do uso da ferramenta na corporação.
“Os drones auxiliam na gestão de um evento ou ocorrência. Isso proporciona ganho na eficiência do serviço prestado à sociedade. Com ele, é possível ao bombeiro fazer um levantamento da situação ou uma transmissão ao vivo para um posto de comando. Dessa maneira, é possível fazer as correções necessárias em tempo real e, ao fim da ocorrência, fazer um feedback mais assertivo de erros e acertos. O ganho é substancial”, afirma Reis.
A expertise com o uso dos drones fez com que o CBMSC fosse a única instituição convidada pelos bombeiros de Minas Gerais para ajudar durante a operação após o desastre na barragem de Brumadinho. Bombeiros de outras unidades da federação também atuaram no local, mas de forma voluntária.
Segundo Reis, que esteve na cidade mineira, a ferramenta permitiu um trabalho mais efetivo, já que o auxílio às equipes em solo ocorria praticamente em tempo real: “Antes de sair, a gente fazia um sobrevoo, mostrava para equipe e decidia as estratégias de atuação. Se fosse necessário, fazíamos as correções. Em muitos casos, a equipe em solo também solicitava o apoio do drone, para tirar foto, ou corrigir impressões. Tínhamos todas as imagens gerais do terreno. As informações fluíam para a base e para o comando, que decidia as estratégias”.
Recursos federais para o controle de encostas
Outro braço do Estado que tem tirado proveito dos drones é a Secretaria de Estado da Defesa Civil. Por lá, as pequenas aeronaves são usadas para monitoramento de barragens e substâncias perigosas, mas principalmente no auxílio aos trabalhos de estabilização de encostas e áreas de risco. É um serviço que já rendeu frutos. Em março, o governador Carlos Moisés foi à região da Serra do Rio Rastro para entregar o termo de referência para as obras preventivas na rodovia SC-390.
Foi o pontapé inicial para o processo licitatório de um serviço de R$ 19 milhões, que proporcionará mais segurança para os motoristas por meio de 25 pontos de intervenção na Serra. A verba, de origem federal, foi obtida por meio de um relatório produzido pela Defesa Civil estadual com o auxílio dos drones, que mapearam toda a encosta rochosa da região.
Um trabalho semelhante está sendo realizado na Serra do Corvo Branco, que também sofre constantemente com a queda de barreiras. O geólogo Humberto Alves da Silva explica os benefícios do dispositivo:
“Conseguimos agora acessar áreas antes inacessíveis. Isso faz com que a análise seja a mais certeira possível, ocasionando uma melhor resolução do problema. Na Serra do Corvo Branco, iniciamos a fase de campo, e o drone nos traz algumas fotos em perspectiva. Além disso, torna-se possível atingir mais áreas em menos tempo”.
Segurança em foco
A Polícia Militar de Santa Catarina também não ficou para trás quando o assunto é drone. Atualmente, são 46 pequenas aeronaves sob o controle da corporação. Os dirigíveis são adquiridos por meio de convênios dos batalhões e de doações realizadas por pessoas físicas e jurídicas. Os valores giram em torno de R$ 5 mil a até R$ 10 mil em equipamentos um pouco mais sofisticados.
Segundo o comandante-geral, coronel Araújo Gomes, o drone auxilia os policiais em diversas ocorrências, tornando prisões e apreensões tarefas menos desgastantes. Com as imagens aéreas, o policial amplia o seu campo de visão, tornando o cenário do fato menos complexo de atuar.
Uma novidade, em 2018, foi a utilização da tecnologia na 35° Edição da Oktoberfest, em Blumenau. O equipamento auxiliou os militares no monitoramento da festa, tornando a Vila Germânica mais segura ao público presente, prevenindo possíveis brigas, furtos ou roubos no local. Araújo Gomes destaca a importância da utilização do equipamento em eventos no Estado:
“Queremos que as pessoas que visitem Santa Catarina voltem às suas cidades satisfeitos com a segurança que puderam perceber. Além disso, procuramos também, sempre que possível, empregar a tecnologia em nossas ações operacionais e sociais, nas comunidades”.
Expansão em vista
Com o barateamento da tecnologia e o nível de conhecimento cada vez mais elevado, os órgãos de Santa Catarina planeja a expansão do número de drones e de sua área de atuação. No caso do Corpo de Bombeiros, por exemplo, o objetivo é ter, a curto prazo, aeronaves com pilotos habilitados em todos os batalhões do Estado. Por conta disso, foi realizado um curso teórico e prático em março para a formação de novos condutores.
Segundo o tenente Pedro Reis, são observados todos os aspectos legais quanto ao tema, incluindo a parte de regulação, que envolve órgãos como ANATEL, ANAC e Força Aérea.
“A segurança de voo é um fator muito importante. Por isso, dedicamos uma semana inteira para o treinamento. Nosso objetivo é buscar sempre o aperfeiçoamento, tendo em vista a melhora do serviço para a população”, conta Reis.
A expansão da frota de drones do Estado conta também com o apoio da Secretaria de Estado da Fazenda. No último ano, a pasta já encaminhou para os bombeiros e a Defesa Civil equipamentos apreendidos pela fiscalização por estarem com irregularidades fiscais, como a ausência de nota fiscal em transporte pelos Correios.