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Boletim PREVINES, edição 124 | Março de 2023
Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (NOTAER)

O Wire Strike é um tipo de ocorrência aeronáutica que decorre da colisão com fio. Tal evento é uma séria ameaça à segurança do helicóptero. Em artigo na revista Professional Pilot, Stuart Lau relata que a causa líder de colisões com fios com aeronaves de asas rotativas em todo mundo são as linhas de transmissão de energia elétrica, pois 2 helicópteros semanalmente colidem com elas.

Estatística de Wire Strike

A ameaça de acidentes com fios aumenta diariamente. Só nos EUA, a rede de linhas de energia cobre 4,5 milhões de milhas e, como uma teia de aranha, essa rede crescente aguarda silenciosamente sua presa. A FAA (Federal Aviation Administration), NTSB e estudos da indústria aeronáutica identificam as colisões com fios como fator responsável em cerca de 5% de todos os acidentes com aeronaves de asas rotativas.

Estes eventos estão cada vez mais mortais, conclui Stuart Lau. Estatisticamente, no Brasil, o CENIPA não tipifica especificamente as ocorrências de Wire Strike, mas ela é contabilizada junto com os eventos categorizados como colisão com obstáculo em voo.

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Nos últimos 12 meses ocorreram 8 (oito) colisões com fios em todo Brasil, das quais 02 foram no Espírito Santo, representando aproximadamente 25% do total (Fonte: Painel SIPAER).

O primeiro incidente no Espírito Santo foi em 25/05/2022, quando o helicóptero durante a aproximação para pouso, colidiu com uma fiação elétrica, em Barra de São Francisco. Já em 09/02/2023, no município de Vargem Alta, um helicóptero Robinson, modelo R44 II, durante a aproximação para uma área de pouso eventual, colidiu com fio de rede elétrica, vindo a chocar-se contra o solo, levando os 2 ocupantes a óbito (Fonte: Painel SIPAER).

Em solo capixaba, a evolução expressiva e recente da teia de linhas de transmissão desperta a atenção das equipes do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (NOTAER), pois rotineiramente atuam em todo o estado, passando por esses cabeamentos. De fato, cumprir diariamente as missões do NOTAER, torna aprender a ver e evitar os fios um desafio constante, o que, muitas vezes é difícil de fazer, já que a fiação se camufla nas paisagens.

Em 2021 foram instaladas duas linhas de transmissão conectando Mutum-MG às cidades de Viana e Cachoeiro de Itapemirim, cruzando o estado no sentido Leste-Oeste. Porém, segundo o Webmap interativo da Empresa de Pesquisa Energética, até 2028, novas linhas estão planejadas para entrarem em operação, conforme se verifica na figura abaixo, pelas linhas tracejadas. As grandes torres de transmissão passarão a cortar o estado de norte a sul e de leste a oeste e isso demandará o aumento de nível de consciência situacional das tripulações do NOTAER.

Linhas Existentes (inteiras) e Planejadas (tracejadas). Fonte: https://gisepeprd2.epe.gov.br/WebMapEPE/

O Inimigo Invisível

Robert Feerst, membro da equipe associada do Instituto de Segurança de Transporte (TSI) do Departamento de Transportes dos Estados Unidos e instrutor do curso avançado de investigação de acidentes de helicópteros do TSI, alerta as tripulações que voam em níveis baixos: o fio deve ser classificado como um perigo invisível.

Um fio que é perfeitamente visível em uma direção pode ser completamente invisível na direção oposta. A localização exata de fios específicos pode mudar ao longo do dia devido à flutuação da temperatura ambiente, o que pode fazer com que os fios caiam ou fiquem tensos.

Mesmo em um dia sem nuvens, o azul do céu pode mudar para revelar ou ocultar a fiação. Longos vãos de fios elétricos podem ser levados pelo vento, com deslocamentos de dezenas de metros para aqueles que atravessam vales.

Além disso, há ilusões de ótica, incluindo:

  • Ilusão de alta tensão: Quando você está olhando para dois fios paralelos a 200 m de distância ou mais, o fio mais alto aparecerá mais distante, mesmo quando não estiver.
  • Ilusão de fio fantasma: Um fio paralelo a outros pode ficar camuflado.

Para Feerst, existem alguns princípios que você precisa entender num ambiente
com fios, e se não entender, estará operando com sorte, não importa se você tem
100 horas ou 10.000 horas.

Ele lista 3 SUPOSIÇÕES FATAIS:

  1. Que você verá o fio a tempo. Você nunca pode contar com isso. É uma mentalidade que você tem que tirar da cabeça.
  2. Que você e o piloto estão vendo a mesma coisa. Nunca presuma que o piloto também viu o fio.
  3. Que o espaço aéreo é protegido por sinalização e iluminação. Simplesmente não conte com isso.

Por fim, Feerst assevera que o Wire Strike não respeita a experiência, pois cerca de 52% das colisões foram feitas por pilotos com mais de 5.000 horas. O que é exigido para um voo seguro num ambiente com fios é tão somente o desenvolvimento e manutenção de consciência situacional. E Lembre-se, se você não precisa voar num ambiente com fios, não vá lá. O fio é um inimigo que deve ser levado a sério.

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