Alex Mena Barreto
Você já viu uma perseguição a um blindado roubado ? Não! Então conheça a ABLE – San Diego Police Department Air Support Unit, da região sul da Califórnia, EUA.
Durante o Western Region Safety Seminar, foi oferecido aos participantes um jantar nas instalações do San Diego Police Department Air Support Unit, onde foi possível conhecer as instalações da unidade, suas aeronaves e equipamentos, bem com um pouco de sua história e de sua forma de operação.
A unidade tem atualmente quatro aeronaves AS350B3 e duas aeronaves de asas fixas Cessna 182R, sendo também conhecida como ABLE, um acrônimo de AirBorne Law Enforcement, inclusive sendo esse seu designativo de chamada.
A unidade atualmente conta com um efetivo de nove pilotos e quatro TFO (Tactical Flight Officers), voa uma média de 3.800 horas/ano. Todos os pilotos e TFO da SDPD são, antes de tudo, patrulheiros experientes, antes de sua vinda para a atividade aérea.
A unidade foi criada em 1986, quando adquiriu seu primeiro helicóptero Bell, operando por cerca de vinte anos vários Bell 206 B3 e Bell 206 L4, também conhecido como Jet Ranger e Long Ranger, respectivamente. A unidade operou essas aeronaves até meados de 2006, quando renovou sua frota adquirindo as atuais aeronaves.
A unidade ABLE tem como característica principal de operação a filmagem de todas suas ocorrências atendidas através do sistema de câmera/imageamento térmico FLIR 8500, que a torna famosa pela infinidade de filmes de ocorrências reais. Tal procedimento, além de ser utilizado como prova processual, também é utilizado para debriefings operacionais das equipes de apoio aéreo e com as equipes em terra.
Essa vocação operacional é bem evidente na unidade, onde em suas paredes se visualiza diversas homenagens referenciando a quantidade de indivíduos detidos com o apoio das aeronaves ABLE. Outro detalhe dessa vocação, é o livro de ocorrências (ABLE LOG), onde todos os apoios e atendimentos das equipes são relatados em uma breve síntese e referenciada a identificação da gravação da ocorrência.
Uma das ocorrências mais incríveis da unidade foi o acompanhamento de um tanque blindado!! Em 1995, quando a unidade ainda operava com helicópteros Bell, a equipe recebeu um chamado para apoiar a ocorrência, onde um tanque M60, com mais de cinquenta toneladas, havia sido roubado do quartel da Guarda Nacional americana e estava em disparada pelas ruas da cidade.
Não acredita, então veja:
Os pilotos da unidade de San Diego tem uma grande reputação no meio policial americano como sendo especialistas na utilização das aeronaves em apoios táticos as equipes de solo. Um de seus pilotos, Officer Kevin Means, foi o palestrante do ALEA Western Seminar 2012 , onde falou sobre “Aircraft Positioning” (Posicionamento da Aeronave) no apoio policial, discorrendo sobre a importância da altitude em relação a utilização do FLIR/Câmera, tempo resposta da aeronave em visualizar o suspeito em relação ao tempo que o suspeito irá escutar a aeronave.
Apenas para ter noção da experiência do palestrante, Kevin Means (conheça sua empresa) começou a voar em 1967 na Marinha americana, está na unidade a mais de 20 anos, tendo mais de 12 mil horas de voo, incluindo mais de mil horas com a utilização de NVG e tem um livro publicado sobre o assunto (TACTICAL HELICOPTER MISSIONS: How to Fly Safe, Effective Airborne Law Enforcement Missions).
As atuais aeronaves AS350B3 possuem instalados um sistema da Primary Flight Display (PDF) System ICDS-8, da Sagem Avionics Inc., sistema câmera/imageamento térmico FLIR 8500 com gravador digital, radar altímetro, rádio policial Wulfsberg, sistema LoJack, moving map e duas monitores na estação do TFO.
A unidade também utiliza operacionalmente o sistema de Óculos de Visão Noturna (NVG) por toda a tripulação, bem como um binóculo estabilizado para ser utilizado pelo TFO.
Alguns pontos interessantes observados:
A manutenção dos helicópteros é feita quase que totalmente na própria unidade por dois mecânicos/inspetores contratados pelo departamento de polícia. Não existe a obrigação da realização das inspeções em oficina homologada, bastando apenas a certificação dos mecânicos/inspetores e do programa de manutenção do fabricante.
Por San Diego ser uma cidade litorânea, as tripulações obrigatoriamente voam com um colete tático, portando sistema HEED, flutuador individual, além de poder ser acoplado o cinto com o armamento individual do policial.
A unidade prevê alguns mínimos de operação policial em seu manual de operações muito interessantes. Basicamente, existe a área A (até 25NM do aeródromo base) e área B (além de 25 NM), e a partir daí se define os seguintes padrões:
Área A
– mínimos meteorológicos de 700 pés de teto e 2 NM de visibilidade horizontal (dia e noite);
– uso do NVG opcional;
– permitido o voo com somente um dos pilotos utilizando NVG.
Área B
– mínimos meteorológicos de 1000 pés de teto e 3 NM de visibilidade horizontal (dia e noite);
– uso obrigatório do NVG;
– obrigatória a utilização de NVG por ambos os pilotos, sendo opcional quando em sobrevoo de áreas urbanas bem iluminadas.
Além desses requisitos, é previsto a obrigatoriedade de equipamentos em perfeito funcionamento quando o voo é realizado em condições abaixo de 1000 pés de teto e 3 NM de visibilidade horizontal: giro direcional, indicador de atitude, iluminação do painel e sistema de navegação (VOR ou GPS).
Nota do autor:
Gostaria de agradecer o acolhimento e cortesia na ABLE Base, em especial ao Officer/TFO Elias Rodrigues, e ao simpático casal Kevin Means e Cyndi Means.